AMIGOS DOS CARAS

(Publicado em 20/11/2008)



Estou morando em Brasília há quase um ano. Não conheci o presidente. Não fui apresentado a nenhum ministro. Não conheço nenhum senador, deputado ou autoridade militar. Na verdade, raramente converso com o presidente do Confea, organização a qual estou servindo.

No entender de muita gente eu sou um insignificante. Afinal, não tenho amigos poderosos nem me relaciono com gente importante.

Algumas dessas pessoas, pelo que dizem nos corredores e mesas de reuniões, são amigas de políticos, embaixadores, militares de altas patentes, ministros e autoridades em geral.

Se você planeja fazer qualquer atividade logo tem um que interrompe pra dizer que conhece alguém (geralmente graúdo) do ministério tal que pode ajudar a resolver qualquer coisa... (chega a ser patético, às vezes). Porém, se você fizer o teste e pedir o contato do "grandescoisa" acabará falando com a secretária do assessor do tal fulano. Naturalmente o seu pedido entrará na fila, como todo mundo (mas, cuidado! Você poderá acabar devendo um favor a esses fulanos, que se pagam de importantes mas não têm poder real para mover os carimbos da burocracia dos palácios, ministérios e repartições)

Eu, sinceramente, não consigo entender a disposição dessas pessoas pela apropriação do prestígio alheio. Sempre fui de me garantir (e me contentar) com o que o meu próprio talento e capacidade intelectual permite. Nunca foi muito, mas sempre foi o suficiente pra chegar onde eu quero (e não ser apeado de lá quando o padrinho cai em desgraça ou se aborrece com alguma coisa).

Não gosto de atalhos, de jeitinhos, de ter o meu processo retirado da fila por um amigo bem posicionado. Odeio tráfico de influência e carteiradas. Desprezo as pessoas sem altivez, sem personalidade, sem conteúdo. Pessoas cujo comportamento e posição depende do humor ou opinião do poderoso de plantão. Pessoas cujo poder e posição depende de alguém "de cima".

Uma pessoa (ou instituição) deve ter o seu próprio valor. Deve conquistar o seu próprio prestígio e ter os espaços compatíveis com o seu tamanho.
Não pode conseguir espaços, oportunidades ou posições apenas porque conhece certas pessoas ou porque puxa o saco de pessoas certas.

Algumas pessoas dizem que eu me contento com pouco. Respondo: prefiro ter pouco, mas ter a segurança de que aquele pouco foi conquistado e não recebido como benesse.

Faço de meu lema os versos de Edmond Rostand (poeta e escritor francês, no livro Cyrano de Bergerac): "Seja do teu pomar - teu próprio - o que tu colhas. Embora fruto, flor, ou simplesmente folhas".





PADILHA, Ênio. 2008





Comentário #1 — 01/12/2008 11:49

Ana Nascimento — Engenheira civil — Brasília

Adorei este artigo. Estou morando em Brasília há 5 anos e em janeiro de 2009 estarei retornando à minha querida cidade Belo Horizonte. Aqui em Brasília não tenho nenhum QI(quem indica). Depois de 3 anos de dedicação ao meu projeto pessoal, casei e tive 1 filho, resolvi sem sucesso retornar á carreira profissional. As propostas de trabalho que recebi dependia de disponibilidade para viagens, disponibilidade que não possuo defido à carência de empregada doméstica em Brasília. Termino meu MBA pela UFF-Universidade Federal Fluminense em dezembro. Em Belo Horizonte terei disponibilidade de viagens, de ficar até 3 meses fora e o que é melhor, voltarei à ser uma CIDADÃ. Voltarei a ser uma formiguinha, que com meu próprio esforço e dedicação voltarei à carreira profissional.

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