
OS LÍDERES, SEGUNDO O OLHAR DO SISTEMA CONFEA/CREA

(Publicado em 22/01/2019)
Antes que você ou alguém possa dizer que eu estou reclamando por mim ou advogando em causa própria, que fique claro: não é por mim. Eu sou um dos poucos profissionais de fora do sistema com amplo acesso e muitos amigos nos Creas de todo o Brasil, nas Entidades de Classe, nos sindicatos e na Mútua. O meu trabalho, até onde eu sei, praticamente não tem rejeição dentro do Sistema Profissional e, não raro, recebe apoios e, eventualmente, patrocínios. Portanto, não estou reclamando por mim, que fique claro.

Minha única reclamação é não fazer parte de um grupo definido e reconhecido pelo Sistema Confea/Crea. Ano passado já escrevi sobre isto. Você pode ler AQUI.
Mas vou repetir: participei do Encontro de Lideranças (em 2018) e me incomodou o fato de o evento do Confea ter mudado de número. Deveria ser o evento número 13 e foi divulgado como número 7.
Por que? Eu explico: o evento foi criado no primeiro ano da gestão do ex-presidente Marcos Túlio de Mello (em 2006, portanto). Em 2008, ano em que eu estive no Confea, gerenciando a área de eventos, fui o responsável pela coordenação da 3ª edição do encontro.
O que aconteceu, então? Aconteceu o seguinte: na gestão que sucedeu a de Marcos Túlio (iniciada em 2012) o evento foi rebatizado (deixou de ser \"Encontro de Lideranças\" e passou a ser “1º Encontro de Líderes Representantes\"). Não mudou absolutamente nada na sua essência, mas ganhou nova encarnação, como se fosse uma criação do então novo presidente, numa manobra bem típica dos chefetes da política nacional. Uma vergonha, se apropriar assim da criação alheia!
A atual gestão provavelmente não se deu conta disso. Mas pedi (no ano passado) que se atentassem e que fizessem justiça em 2019. Que o evento receba o número correto: 14º Encontro de Líderes Representantes.
Na verdade, me desculpem, mas eu gostaria de implicar também com esse \"representantes\". Pra que isso? Quer dizer então que o Sistema Confea Crea não reconhece como Líder alguém que não seja representante? que não esteja em algum cargo de presidente de Crea, presidente de entidade de classe, conselheiro etc? É o cargo que a pessoa ocupa que dá a ela o status de liderança?
Nesse mesmo evento e também na SOEA sempre me encontro com muitos ex-presidentes de Creas, ex-conselheiros, professores, autores, pessoas que hoje estão fora do sistema, tocando seus negócios... Quer dizer que essas pessoas deixaram de ser líderes?
Por mim essa palavra \"representantes\" deveria ser eliminada do nome do evento. Só está ali para estabelecer uma flagrante discriminação.
O QUE É UM LÍDER
Lígia Fascioni, engenheira brasileira, com mestrado e doutorado em engenharia (e que vive na Alemanha) no livro Atitude Pro Liderança (em parceria com Alberto Costa) apresenta diversas definições de líder, a partir de diversos autores:
“A única definição de líder é alguém que possui seguidores” Peter Drucker
“A essência da liderança é a visão” William Van Dusen Wishard
“A moral da história é clara: para ser líder é necessário saber para onde se vai” Lin Bothwell
“O trabalho do líder é levar as pessoas a bordo de sua visão” John Maeda
E Lígia fascioni conclui: \"É claro que você conhece outras, inclusive muitas que apresentam o líder como um chefe, comandante, dirigente, autoridade, alguém que existe para ser respeitado, admirado, até obedecido ou idolatrado. Selecionamos essas aí de cima porque traduzem com ais exatidão a ideia que temos de líder: alguém com uma visão, capaz de compartilhá-la e de inspirar outros a construi-la\".
E NO SISTEMA CONFEA/CREA? COMO O LÍDER É VISTO?
O Sistema Confea/Crea/Mútua tem, na minha opinião, uma visão limitada do conceito de lider. O sistema não tem (e deveria ter) um olhar para profissionais que não sejam militantes nas entidades de classe, sindicatos, na Mútua ou nos Creas. O Sistema não consegue enxergar relevância em empreendedores, proprietários de grandes escritórios, professores, autores de livros, coordenadores de cursos de graduação ou de pós-graduação. Gente como Manuel Henrique Campos Botelho (autor de muitos livros, entre eles a consagrada série “Concreto Armado, Eu te Amo”, Osires Silva (o criador da Embraer), o já falecido Eliezer Batista (o criador da Vale), o também já falecido Antônio Ermírio de Morais (do Grupo Votorantim), Nelson Covas (fundador da TQS Informática), Sérgio Santos (professor, coordenador de cursos, autor de livros), Luiz Henrique Salatiel (autor de livros e palestrante), Lígia Fascioni (autora de livros e palestrante)… pra ficar em meia dúzia de nomes… há dezenas, centenas deles. Nenhum deles é reconhecido ou tratado como liderança em eventos do Sistema Confea/Crea.
Esses profissionais não têm interesse e serem influenciadores. Não têm interesse em serem formadores de opinião. Destacam-se por um trabalho incessante pelo engrandecimento e pela valorização da Engenharia. Por que são tão invisíveis e esquecidos pelo sistema?
A minha situação, repito, é um pouco diferente: eu tenho 32 anos de exercício profissional. Nos primeiros 12 anos eu tive um Escritório de Engenharia e atuei no mercado de projetos e instalações elétricas em Santa Catarina e em outros oito estados do Brasil. Naquele período eu tive uma fortíssima atuação no sistema profissional. Fui integrante da diretoria das entidades de classe às quais estava ligado. Fui presidente de duas Associações de Engenheiros e Arquitetos (em Rio do Sul, 1992 e em Jaraguá do Sul, 1994). Naquele período fui também, por muitos anos, inspetor de Engenharia Elétrica do Crea-SC nas duas cidades.
E foi nessa condição de “líder representante” que o meu primeiro livro foi acolhido pelo Crea-SC (que patrocinou o lançamento da primeira edição, em 1998) e depois pelo Confea (que lançou a 2ª, 3ª e 4ª edições, entre 2000 e 2002).
Depois desse período (portanto, nos últimos 20 anos) eu não estive mais diretamente ligado às instituições do Sistema Profissional. Não ocupei cargos políticos nas diretorias de entidades de classe ou no Crea. Mas mantive os amigos que eu tinha e fiz centenas de outros dentro do Sistema.
O meu trabalho seguiu sua trajetória. Hoje a maior parte dos meus cursos, palestras e consultorias têm como clientes as universidades e empresas de Engenharia e Arquitetura. Mais de 80% dos meus leitores no site e dos seguidores nas redes sociais são profissionais que não fazem parte do Sistema Confea/Crea (nem do CAU). Na verdade, eles nem veem com bons olhos essa minha insistência e escrever sobre esse tema (como pode ser visto no artigo A CRUZADA).
Ainda assim, tenho sido, no mais das vezes, reconhecido, apoiado e eventualmente patrocinado em eventos das entidades de classe, dos Creas e mesmo do Confea. Portanto, pra mim está tudo bem. A única coisa que me incomoda, nos eventos do sistema é que todas as lideranças reconhecidas estão em categorias definidas (presidentes de Crea, Conselheiros Federais, Conselheiros Regionais, Presidentes de Entidades de Classe, Líderes de Sindicatos, Membros da Mútua…) eu estou lá apenas como… amigo deles. Um peixe fora d’água, sem função nem utilidade.
Gostaria que o Sistema fizesse uma revisão nessa política. Que abrisse um espaço regular nos seus eventos nacionais para os profissionais que desempenham um papel fundamental para a Valorização Profissional, embora façam isso dirigindo empresas, fazendo projetos, coordenando cursos, dando aulas, escrevendo livros, desenvolvendo softwares, apresentando palestra, desenvolvendo pesquisas… ainda que não sejam representantes oficiais de nenhuma instituição do Sistema.

(*) FASCIONI, Lígia e COSTA, ALBERTO. Atitude Pró Liderança. Belo Horizonte: Editora Letramento, 2016.
DIVULGAÇÃO
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PADILHA, Ênio. 2019
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