A CRUZADA

(Publicado em 09/04/2009)



Um leitor (de boa vontade) escreveu um comentário no meu site, sugerindo que eu deixasse de lado os temas que envolvessem entidades de classe, Crea, Confea, etc.

Dizia ele que eu não deveria cometer o erro da "cruzada política pela melhora das entidades". Que deixasse essa briga para os engenheiros-políticos, pois, do contrário, eu correria o risco de perder o público que gosta dos meus textos sobre Administração, Estratégia e Marketing.

É importante dizer que o comentário foi escrito de maneira que deixou muito clara a boa intenção e o cuidado do leitor, manifestando uma preocupação genuína com o meu trabalho. Por isso escrevi a ele a seguinte resposta:



"Prezado Colega,

Não penses que este seu comentário foi mal recebido por mim. Pelo contrário: fiquei lisonjeado com os seus elogios ao meu trabalho.
Senti que suas palavras foram sinceras e sua intenção extremamente positiva.

Digo isto porque, feliz ou infelizmente, não posso atendê-lo.
Mas posso (e devo) justificar minha posição para você, e para outros leitores que eventualmente pensem a mesma coisa.

Na verdade, eu mesmo já enfrentei (recentemente) esta angústia. Passei alguns meses me perguntando se valia a pena abordar esses temas (essa "cruzada política pela melhoria das entidades"). Se eu não deveria me dedicar apenas aos assuntos técnicos de Administração e Estratégia voltados para as empresas de Engenharia, de Arquitetura e de Agronomia.

A conclusão a que cheguei, depois de muita reflexão, é que EU NÃO POSSO.
Não posso fazer de conta que isto não é da minha conta ou que isto não diz respeito ao tema Administração, Estratégia e Marketing.

Todas as semanas recebo muitos pedidos de inclusão no mailing para receber o nosso "Três Minutos". Também recebo alguns pedidos de "remover". Felizmente os primeiros são mais numerosos do que os últimos.

Porém, toda vez que o tema do artigo da semana diz respeito a entidades de classe, Crea, Confea sindicatos ou a lideranças dessas organizações o número de leitores que solicitam exclusão do mailing é muito maior do que o número de novos leitores cadastrados.

Então você tem razão: eu corro o risco de perder o público que gosta dos meus textos de Administração, Estratégia e Marketing.
Pior ainda: algumas vezes são os diretores das entidades que ficam aborrecidos comigo. Aí eu perco contratos e oportunidades.

Como eu já tive a oportunidade de dizer pra muita gente, eu não tenho pretensões políticas dentro do nosso sistema profissional. Sou filiado a duas entidades de classe mas nunca sequer pleiteio cargos na diretoria. Tenho certeza de que o meu trabalho não se beneficiaria disso.

Tenho a convicção de que minha contribuição para a valorização das nossas profissões pode ser feita a partir dessa plataforma que eu já conquistei: o meu trabalho de escritor e palestrante: o estudo da Administração, Estratégia e Marketing e sua "tradução" para o universo específico da Engenharia, da Arquitetura e da Agronomia foi o caminho que eu encontrei para dar a minha parcela de contribuição

No entanto, meu amigo, esse meu trabalho é inteiramente ligado ao dia-a-dia dos profissionais no campo e das entidades de classe. Praticamente 100% dos meus cursos são organizados e promovidos por entidades de classe (geralmente com apoio dos Creas). Muitos dos dirigentes dessas entidades são pessoas que, de boa vontade, ajudam a divulgar o meu trabalho por esse Brasil a fora.

Da mesma forma como eu procuro, com o meu trabalho, interferir no dia-a-dia dos profissionais do campo, sinto-me na obrigação de interferir no dia-a-dia das entidades.

Alguns engenheiros que, como eu, escrevem livros e ministram cursos e palestras pelo Brasil e que, no passado, tinham um discurso mais comprometido com a valorização das profissões, sucumbiram às pressões e recolheram-se a um trabalho meramente técnico, sem identidade política e sem postura social. Concluiram que o bom negócio é abrir a caixa registradora e fazer vistas grossas com o que está acontecendo em volta. Eu não os culpo nem os julgo. Apenas não quero me juntar a eles.

Meu trabalho é essencialmente técnico. Meus livros, todos, são resultados de pesquisas e estudos técnicos. Meus cursos (tenho quatro sendo apresentados atualmente) são todos técnicos. Assumo o compromisso de estudar essas questões, trazê-las para a realidade de engenheiros, arquitetos e agrônomos e traduzir esses temas para uma linguagem e para soluções que possam ser adotadas pelos profissionais. É para isso que sou contratado e pago.

Mas os engenheiros, arquitetos e agrônomos não estão atuando numa bolha, isolados da sociedade, imune às leis e às questões da organização profissional.

As estratégias de negócio, a administração das empresas e, em última análise o marketing dos serviços profissionais está conectado à ações (e omissões) das entidades de classe, dos Sindicatos, dos Creas, do Confea e da Mútua. O nosso Sistema Profissional.

Por isso eu faço incursões a esse tema de vez em quando. É a minha forma de tentar contribuir. O que eu tenho para oferecer é a minha visão e os meus conhecimentos. Luto para que as nossas entidades sejam fortes, organizadas e bem estruturadas. E que nossas lideranças sejam profissionais capazes, bem informados e honestos. Ao discutir essas questões tento ser fiel ao que eu escrevi num artigo de 1987 (LER E ESCREVER): "não devemos deixar para os outros o trabalho para o qual estamos preparados"

Isso me custa alguns preciosos leitores. E, algumas vezes, me custa também alguns bons negócios, quando o interesse de algum "lider" é contestado. Eu gostaria que não fosse assim, mas não posso evitar.
É o preço que eu pago. É o preço que eu estou disposto a pagar para não ser omisso."





PADILHA, Ênio. 2009





Comentário #1 — 09/04/2009 23:11

JORGE ALBERTO BITTAR — ARQUITETO — SÃO PAULO

Parabens Enio, estes foram os "três minutos"
mais bonitos e animadores que li.
Continue!
Abs,
Jorge

Comentário #2 — 10/04/2009 05:12

José Luiz Costa — Engenheiro Civil — Luanda-Angola

Colega Ênio, mais sincero e transparente, impossível. Parabéns pelo arrojo e coragem. Torço para que continue nesta linha de pensamento e coerência. Errar por ações, vá lá...Mas não por omissão !!! Valeu !!! Forte abraço.

Comentário #3 — 10/04/2009 23:50

William Velasco D. Silvestre — Engenheiro Civil — Belém - PA

Parabens Enio pela sua postura e total coerência.
Se todos nos por termos uma má impressão das Entidades de classe calarmos, etaremos comentendo uma grande erro talvez pior que os cometidos pelos que compoem essas Entidades.

Comentário #4 — 11/04/2009 08:29

Ênio Padilha — Engenheiro — Balneário Camboriú

Recebido por e-mail:

Prezado Colega Enio:
Parabéns pelo argumento exposto.
Em suma: Tô contigo e não abro!
Att.
Emanuel Lira
Engenheiro Civil
Limeira-SP


Comentário #5 — 11/04/2009 10:23

PAULO CESAR BASTOS — ENGENHEIRO CIVIL — Salvador-Ba

Prezado Enio Padilha.
Parodiando o hino do Flamengo: Uma vez Engenheiro, sempre Engenheiro.

Valorizar a Engenharia é a primeira e fundamental estratégia do Marketing Institucional.
Cordiais Saudações
Paulo Cesar Bastos

Comentário #6 — 11/04/2009 11:58

JOSÉ R. MORITZ PICCOLI — Engenheiro Civil e de Segurança — Balneário Camboriú / SC

É lamentável que alguns colegas vejam assim as entidades de classe. durante anos nutri uma aversão a qq assunto CREÁTICO, por não concordar com muita coisa. O que fiz? Ao contrário de nosso colega, me enfiei de cabeça no sistema e hoje sou conselheiro re-eleito pela grande maioria de profissionais insatisfeitos com o sistema que ve em mim uma pedra no sapato da mesmice e da "sindrome de Brasília" que são acometidos alguns colegas de egos insulflados.
Nobre colega se vc acha que o corporativismo é uma besteira, entre de cabeça e se imponha para, pelo menos, tentar mudar tudo aquilo que vc acha que não está de acordo com sua maneira de pensar. Resumindo, deixe de ser um "Engenheiro Ferramenta" e passe a atuar como "Engenheiro Cidadão". Todos nós lhe agradecemos!!!

Comentário #7 — 12/04/2009 06:10

Ênio Padilha — Engenheiro — Balneário Camboriú

Recebido por e-mail

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Prezado amigo e colega ÊNIO

Parabéns pela sua postura e decisão !

Eu mesmo fui um dos que solicitou-lhe a inclusão do email de 03 filhas, no seu cadastro, para envio de suas brilhantes mensagens.

Você tem o nosso apoio e com certeza de milhares de outros colegas.

Um grande abraço

DUVERNEY LOPES JR.
Engenheiro Civil
São Paulo - SP

Comentário #8 — 13/04/2009 09:35

Juarez Kissmann — Engenheiro Eletricista — San Francisco - Argentina

Amigo Enio, ao contrario do que alguns colegas dizem pensar a respeito de sua posicao, creio que pelo simples fato de voce abordar (e assim provocar desconforto de alguns), esta dando uma grande contribuicao para a melhoria das entidades. Louvavel tambem a atitude daqueles que se dedicam dentro delas a melhorar-las.
Um abraco.

Comentário #9 — 13/04/2009 20:59

Ênio Padilha — Engenheiro — Balneário Camboriú

Recebido por e-mail:

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Prezado Ênio Padilha,

Conheço seu trabalho, já tivemos oportunidade de participar de palestras e adquirir seus livros. Vc tem qualidades especiais que não se encontra fácil nos engenheiros. Sua facilidade de comunicação e área que adotou para construir sua carreira o capacitou para navegar no meio político e emaranhado das entidades de classe de forma diferenciada.

Hoje após 17 anos de profissão e oportunidade de conviver com diversos tipos de setores e empresários, entendo claramente a importância de ter boa representatividade na área política e setores de classe. Por mais pantanoso, complexo e com freqüência desagradável possa ser, precisamos e temos sempre que lutar por ter uma representatividade igual ou superior a classe que se propõe representar.

Gosto da sua postura. Gosto do fato de vc conhecer os prós e contras de optar por navegar nessa difícil e desafiadora seara (algumas poucas vezes prazerosa) e assumir os riscos. Desejo força e perseverança para continuar seguindo seu caminho sem se dobrar aos caprichos do poder e outras “facilidades” que podem surgir quando se avança para dentro de mundo tão diferente do mundo dos “não politizados e omissos”.

Espero que mantenha o brilhantismo do seu trabalho e consiga defender nossa classe de forma construtiva e que sua visão de futuro o mantenha motivado para enfrentar alguns percalços naturais de toda grande batalha (olha que essa batalha não é para um ou dois guerreiros, merecia uma legião de “engenheiros guerreiros” para ver seus interesses defendidos com seriedade e compromisso).

Que meu singelo voto de “siga em frente” e lute pelo que acredita que seja correto, ajude nessa cruzada delicada.

Que Deus multiplique seus dons e permita que continue seu bom trabalho e ainda concilie mais esses desafios.

Saudações,

Eng. Rodrigo Cunha Trindade
Belo Horizonte MG
www.agenciaenergia.com.br

Comentário #10 — 14/04/2009 07:09

VALMIR ANTUNES DA SILVA — Engenheiro Civil — Florianópolis

Caríssimo Ênio
Mais um bom comentário e uma proposta que, se me for possível, gostaria de acompanhar e participar (falo sobre a Cruzada Política pela Melhora das Entidades).
Para quem não me conhece, sou Conselheiro Federal por Santa Catarina e iniciei o meu trabalho político profissional a partir do momento que fui convidado para me associar à Associação Catarinense de Engenheiros - ACE, que no próximo dia 24 de maio completará 75 anos.
O então Presidente da ACE, Eng Aníbal Borin, me convidou e percebi o quanto eu poderia aprender sobre temas de interesse da Engenharia, convivência social, cujo relacionamento aumentava a cada dia. Aprendi o quanto eu poderia ajudar, o que de imediato procurei fazer.
O meu envolvimento foi gratificante e essa convivência me fez participar de diversas Diretorias, inclusive em três gestões como Presidente, cargos que também nunca cobrei ser (desculpe, uma vez, sim. Mas isso é outra história).
Achei a crítica do colega sobre o assunto muito importante e esse é o público que deve ser cativado sobre a proposta da Cruzada.
Será que ele alguma vez foi convidado para participar e colaborar de uma entidade de Classe?
Se já foi, qual teria sido a sua decepção?
Ele merece respeito e eu, independente de qualquer coisa, como Profissional Político, tenho que fazer a minha parte, para que essa imagem sobre as Entidades de Classe se reverta. Acredito ser esse um dos objetivos da Cruzada (falo isso sem conhecer a Proposta do colega ênio Padilha)
Parabéns Ênio. Mais um bom tema.
Valmir

Comentário #11 — 15/04/2009 14:42

Ênio Padilha — Engenheiro — Balneário Camboriú

Recebido por e-mail
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Gostei da resposta dada ao leitor comedido ou conformado ou ainda, o que é pior: impotente para dar uma resposta aos grandes erros que são cometidos em nosso país.
A água mole em pedra dura tanto bate até que fura. Se todos insistíssimos em combater,com elegância, mas firme, os desrespeitos praticados por quem foi elevado a um posto por consenso de uma categoria ou de parcela de um povo,acredito que algumas aberrações que nos causam indignação não fossem tão frequentes.
Ademais, quem sabe 0,01.de seus leitores,que por alguma razão praticam desvios de conduta em suas administrações, não param para refletir. E quem sabe dessa reflexão não surge a pergunta: vale a pena? E quem sabe da conclusão dessa pergunta não surge um novo cidadão. Todos ganharemos, a sociedade,o país, e o digníssimo autor dessa cruzada que não terá somente um leitor mas tambem um aliado.

Luciene
Decoradora
Niteroi - RJ

Comentário #12 — 15/04/2009 14:45

Ênio Padilha — Engenheiro — Balneário Camboriú

Não é por que sou amigo dele (e ele, meu amigo), mas considero o Valmir um grande exemplo de liderança positiva para a Engenharia, para a Arquitetura e para a Agronomia deste país.
Espero que ele mantenha esse gás por mais tempo, poir precisamos de guerreiros desse kilate. Grande abraço.

Comentário #13 — 18/03/2013 07:08

Ligia Fascioni — Engenheira eletricista — Berlin, Alemanha

Grande Ênio!
Em que pese toda a sua brilhante argumentação, penso que, no final, voltamos sempre à frase do famoso historiados inglês Antony Toynbee: "o maior castigo para os que não se interessam por política é que serão governados pelos que se interessam".
Um abraço e parabéns por mais esse belíssimo exemplo de profissionalismo e consciência civil.

RÉPLICA DE ÊNIO PADILHA

Lígia, querida
Muito bem lembrada a frase do Toynbee.
E segue o baile!

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