EMBAIXADINHA NÃO GANHA O CAMPEONATO

(Publicado em 02/04/2020)



Em setembro de 2015 eu escrevi um artigo no meu site com o título ABRE TEU OLHO, COLEGA ARQUITETO no qual eu enumerava considerações sobre uma crescente onda de Consultores/Coaches/Evangelizadores que ensinavam técnicas de manipulação dos clientes, truques baseados na neurolinguística e conceitos como “gatilho mental” para provocar comportamentos ou “isca” para atrair clientes incautos.

Evidentemente meu esforço foi em vão. Cinco anos depois, essas coisas foram espalhadas de tal maneira que agora qualquer recém-formado (e até mesmo alunos de 5º ou 6º período da graduação) já está se apresentando como AUTORIDADE. Ninguém mais é aprendiz.

Os profissionais têm cada vez mais dificuldade para separar o joio do trigo e estabelecer quem, de fato, tem um conhecimento sólido e um conteúdo com valor diferenciado.





Imagem: OitoNoveTrês



Parece que o principal indicador de qualidade utilizado é o número de seguidores no Instagram. Eu não digo que isso não é importante, mas não pode ser o único, nem o mais importante.

Na minha área de conhecimento, eu conseguiria listar uma dúzia de autores experientes, com livros publicados e pesquisas consistentes e que não têm nem 10 mil seguidores. Por outro lado, Seria muito fácil apontar uns 15 ou 20 com mais de 50 mil seguidores no Instagram mas que não conseguiriam escrever um artigo para publicação em uma Revista Nacional B5 (na verdade, a maioria deles nem sabe o que é uma Revista Nacional B5).

Esse parece ser o desafio que se impõe, nos dias de hoje, para aqueles que produzem conteúdo de qualidade: demonstrar que, fazer centenas de embaixadinhas sem deixar a bola cair não faz de ninguém um bom jogador de futebol.

Nessas semanas de quarentena as Lives se multiplicaram quase tanto quanto o próprio coronavírus. Eu tenho visto muitas delas (sempre se pode aprender algumas coisas). Em algumas, porém, eu me sinto como se estivesse vendo um jogo de um campeonato de várzea... em dia de chuva.

E o pior é que os protagonistas acham que estão jogando a Champions League. Chega a ser patético a falta de leitura, de referências e de experiência. Mas não faltam arrogância e pretensão.

Nesta semana eu estava assistindo a apresentação de um jovem engenheiro, formado há três anos e que disse, lá pelas tantas, que estava ali para ensinar os seguidores a serem como ele e a conquistarem a posição que ele conquistou. Não sem antes dizer, claro, que é muito fácil.

(Não consigo imaginar um profissional competente, com 15 ou 20 anos de experiência, dizendo uma barbaridade dessas)

Tenho conversado com colegas de áreas técnicas como Estruturas, Gestão de Projetos e Iluminação, por exemplo, e eles relatam as mesmas coisas. Dizem que está em curso um festival de barbaridades.

No meu caso, em praticamente todas as lives que eu vi, os apresentadores não foram além dos manuais de marketing e vendas. Nenhum pensamento realmente novo. Nenhuma abordagem inovadora. Só o mesmo Bê-a-Bá (ou bla-bla-blá, se preferir). Na maioria dos casos, confundindo conceitos, desconsiderando fundamentos teóricos e realizando tentativas bizarras de redescobrir a roda.

Não estão fazendo mais do que embaixadinhas. E são bons nisso. Atraem a atenção do público e ganham suas moedas. Mas não são úteis para quem pretende ganhar campeonatos e chegar à Série A.

Volto a repetir: abram os olhos, colegas engenheiros e arquitetos.





PADILHA, Ênio. 2020





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