UM PAÍS CHAMADO NEGACIONISTÃO

(Publicado em 25/07/2020)



No livro A Lógica do Cisne Negro (escrevi uma resenha, AQUI) Nassim Nicholas Taleb faz um pequeno tratado sobre dois países imaginários: o Extremistão e o Mediocristão. Esses dois "territórios" foram criados para explicar as diferenças entre as atividades (profissões) escaláveis e não-escaláveis.

Creio que se Taleb resolvesse olhar para os assuntos do Brasil, nesse início dos anos 2020, ele certamente criaria um novo país: o NEGACIONISTÃO. Um país que já tem uma população nada desprezível: mais de 60 milhões de habitantes. 30% da população do Brasil. Não dá pra ignorar o que eles dizem e fazem.





Imagem: OitoNoveTrês



O povo do Negacionistão fala português, mas a maioria dos seus líderes não sabe escrever direito. Eles usam um dialeto com um vocabulário repleto de palavras grosseiras que em outros países de língua portuguesa, como Portugal, Brasil, Angola e Moçambique, são considerados palavrões e não deveriam ser utilizados em publicações e discursos de autoridades;

No Negacionistão a maioria do povo não acredita no poder das vacinas. Mas eles acreditam na eficácia de remédios estranhos, mesmo que os cientistas dos mais importantes hospitais do país e até da comunidade internacional digam o contrário. Aliás, o Negacionistão não é um bom lugar para os estudiosos e cientistas. Pesquisadores são tratados com desprezo e são considerados parasitas da sociedade.

Negacionistoneses (também conhecidos como negacionistas) têm um inimigo poderoso: o comunismo globalista. Mas sobra ódio e desprezo para os gays, os negros, os indígenas e todas as minorias do país.

Nesse país, segundo a crença do povo, não existe racismo, não existe machismo, não existe nenhum problema com os cuidados com o meio ambiente e a educação vai muito bem. Existe, isso sim, muito mimimi esquerdista de gente frouxa e sem patriotismo.

• Muitos negacionistoneses acreditam que a terra é plana.
• Naturalmente, não acreditam que o homem foi à Lua.
• Acreditam que vacinas causam autismo.
• Não acreditam na Lei da Gravidade (essa é de matar!).
• Obviamente, não acreditam em Mudanças Climáticas (é mimimi. Típica pauta de esquerda).
• Segundo eles, a teoria da evolução de Darwin não passa de um amontoado de bobagens.
• A AIDS não existe (nunca existiu).
• O Holocausto não existiu (trata-se de mais uma grande conspiracão).
• IMPORTANTE: eles não acreditam na imprensa tradicional (aquela que tem responsabilidade pelo que publica e faz checagens e cruzamento de informações). Eles acreditam que o Facebook, o Twitter e o Whatsapp (principalmente este último) são mais do que suficientes.

No Negacionistão a Covid-19 não existe. Não passa de uma gripezinha que só mata velhos e pessoas que já possuem alguma comorbidade (comorbidade, aliás, é uma palavra que os negacionistoneses demoraram muito até conseguirem pronunciar). Tanto que o Negacionistão pode se dar ao luxo de nem ter um Ministro da Saúde. Pra quê? Um General da Ativa pode exercer essa função muito melhor do que qualquer médico, não é mesmo?

O governo central do Negacionistão não fez uma única campanha de orientação à população sobre essa doença (dado que ela não é importante), e responsabiliza governadores e prefeitos que não priorizam a economia na condução das suas ações de enfrentamento. Existe uma máxima, no Negacionistão: CPF pode ser cancelado, mas CNPJ não pode morrer!.

A educação, no Negacionistão, também vai muito bem. Exceto para os esquerdistas vagabundos fumadores de maconha e gayzistas. Mas ninguém, no Negacionistão, dá bola pra essa gente. O país está no seu quarto ministro da Educação. É o melhor dos quatro. E acha que bater em criança não é um problema tão grave assim.

No Negacionistão meninos vestem azul, meninas vestem rosa, adultos vestem verde-amarelo e o governo veste verde-oliva. E todos são felizes, claro, cantando louvores à Cloroquina de Jesus.





PADILHA, Ênio. 2020




Leia também: NEGACIONISTAS NÃO SÃO BURROS (uma breve linha de argumentação segundo a qual, os negacionistas são mais inteligentes do que a média das pessoas que os cercam. E esse é o problema.)






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