É MAIS UMA BOIADA PASSANDO

(Publicado em 13/08/2020)



Com a ideia fixa de tributar a produção e a comercialização dos livros, o governo brasileiro está enviando uma mensagem muito assustadora: o futuro do país dependerá da cultura, ciência e tecnologia produzida em países nos quais o povo lê livros.

E tem muita gente aplaudindo essa iniciativa. Dalí só teremos protesto quando for tributado o capim.





Imagem: Foundry Co por Pixabay



Um levantamento apresentado no World Cities Cultural Forum, em 2014 apontava Buenos Aires como a cidade com maior número de livrarias por habitantes no mundo. A cidade tem 2.800.000 habitantes e 734 livrarias. Isso dá uma livraria para cada 3.800 habitantes.

Para ter uma ideia do que isto significa, São Paulo, com uma população de 12 milhões de habitantes tem apenas 390 livrarias (uma livraria para cada 31 mil habitantes)

Os dois parágrafos acima foram escritos antes do início desta pandemia. Os últimos seis meses, certamente, mudaram esse quadro (para pior). Mas o leitor nem precisa se preocupar com isso. Os dados serão atualizados para MUITO PIOR quando passar a boiada da reforma tributária (aquela que o Ministro garante que não vai aumentar a carga de impostos do Brasil.

A produção dos livros será tributada, os preços dos livros irão aumentar, as vendas irão cair e editoras e livrarias irão fechar. É claro que não haverá um PROER ou coisa parecida para salvar livreiros e editoras. Esses projetos de socorro e proteção são destinados aos bancos, às indústrias e ao agronegócio. Autores e leitores que se virem. Não se trata de uma atividade essencial, segundo Paulo Guedes.

O jornalista e escritor Laurentino Gomes disse ontem (12/08/2020) na sua conta do Instagram, que "O Brasil é um país que lê pouco. Uma das razões, além da baixa escolaridade, é o preço do livro, hoje muito caro diante do nosso reduzido poder aquisitivo e da escala ainda infelizmente diminuta do nosso mercado editorial. Isso vai piorar com a proposta do governo de taxar os livros em 12% no projeto de reforma tributária. Essa isenção é que nos mantém ainda hoje em níveis minimamente aceitáveis de leitura. Sou contra. Um país sem leitores e sem livros nunca vai chegar a lugar algum.

Sinceramente, não sou economista, nem fiz todas as contas, mas não creio que essa decisão do governo esteja sendo tomada por dinheiro.

De acordo com o Bookscan, da Nielsen, que acompanha o desempenho das vendas de livros em livrarias, supermercados e lojas de autoatendimento, em 2019 foram vendidos 41.544.162 exemplares o que redundou num faturamento de R$ 1.747.925.833,53

12% desse valor daria uns R$ 210 milhões. Pode parecer muito, mas o LUCRO LÍQUIDO dos 4 maiores bancos do Brasil, em 2019, foi de R$ 81,5 bilhões.


Os R$ 210 milhões dos livros corresponde a algo como 0,25%.
Isso mesmo. Você não leu errado. O imposto sobre os livros no Brasil corresponderia a 0,25% do LUCRO LÍQUIDO dos bancos.

Se alguém puder verificar se eu errei alguma conta, eu fico feliz em publicar a correção. Até lá, minha opinião é a de que NÃO É PELO DINHEIRO





PADILHA, Ênio. 2020






Comentário #1 — 13/08/2020 11:36

Ligia Fascioni — Engenheira Eletricista — Berlim, Alemanha

Olha, acho que esse imposto deve dar para pagar uns dois anos de cartão corporativo do presidente. Nem para o auxílio-moradia dos juizes chega.

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