OS DESABAMENTOS E O MARKETING DA ENGENHARIA E ARQUITETURA (Publicado em 04/09/2020) Eu quis escrever sobre isto há dez dias, quando ocorreu o desastre. Mas percebi que o fato estava sendo tratado com excessivo sensacionalismo por muita gente. Não quis entrar na fila. Minha intenção é fazer uma abordagem mais serena e, para isto, começo pela transcrição da entrevista que a proprietária do edifício concedeu à imprensa no dia seguinte ao desabamento: Imagem: hugogloss.uol.com.br O fato: um sobrado (2 pavimentos + térreo + cobertura) localizado em Mauá, na Grande São Paulo, desabou, atingindo duas residências vizinhas, na tarde do sábado (22/08/2020). Ninguém ficou ferido, mas os prejuízos materiais foram imensos. Repórter: O sobrado começou a ser construído em Mauá, na grande São Paulo, há 10 anos, e estava quase pronto. O casal, dono do imóvel, assumiu que a construção era irregular. (dirigindo-se à proprietária, Sra. Luana Souza) Esse diálogo, em vez de provocar revolta e críticas como as que eu li e ouvi, deveria ser o ponto de partida para uma reflexão importante. Afinal, o que essa moça disse de novidade? O que há de novo no caso em si? Nem o desabamento é um fato inesperado, nessas circunstâncias. PADILHA, Ênio. 2020 Leia também: NO FIM, A CULPA É DO ENGENHEIRO! |
Comentário #1 — 03/09/2020 21:50 Mônica S. C. Schneider — Administradora — Bom Princípio-RS |
Excelente artigo Professor Ênio! |
RÉPLICA DE ÊNIO PADILHA |
Obrigado, Mônica. Volte sempre |
Comentário #2 — 04/09/2020 10:52 Otávio Henrique Neves Pinto — Engenheiro civil — Cássia |
Certo. |
RÉPLICA DE ÊNIO PADILHA |
Certíssimo, Otávio. |
Comentário #3 — 04/09/2020 13:37 COMENTÁRIOS NO FACEBOOK — 04/09/2020 — |
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Comentário #4 — 05/09/2020 00:32 Farlley — Músico — Brasília-DF |
Por que o CAU, o CREA, o CONFEA não destinam parte de suas arrecadações, com as anuidades de seus associados, para fazer campanhas em rádios, TVs, cartazes em ônibus ou nos pontos de ônibus, metrô? Sem educar (sensibilizar a população) para que se compreenda a importância da engenharia e arquitetura, a ignorância (no sentido strictu do termo) vai perdurar. Não adianta o blá blá blá de conscientização numa roda em que os falantes e ouvintes sejam os próprios engenheiros ou arquitetos (é chover no molhado). Campanhas junto à população por um tempo duradouro! |
RÉPLICA DE ÊNIO PADILHA |
Farlley, em 2013, neste post AQUI já tratava disso. Dá uma olhada. |
Comentário #5 — 08/09/2020 22:59 JOSE CLAUDIO DECICO JUNIOR — Engenheiro Civil — Jundiaí-SP |
É um absurdo que acontece isso no Brasil. É a cultura do "eu sei mais", do "eu tenho experiência" e do "engenheiro para quê? Só para olhar?". Ora, os honorários técnicos de projeto são em torno de 8% a 10% do total da obra e para acompanhamento, planejamento, administração e fiscalização da obra são de 10% a 15%. No total, o engenheiro, ou arquiteto, custam em torno de 20% do total da obra. Dispensar o profissional é uma economia descabida, além de ser crime de exercício ilegal da profissão que o proprietário pode responder. Em 25 anos de profissão cansei de ver absurdos nessas comunidades de "pobres" (com que dinheiro uma desempregada consegue construir esse palacete irregular dado que prefeitura alguma aprova projeto e concede alvará de construção para CASA de três pavimentos?). A serviço da Defesa Civil de Jundiaí, em vistoria numa comunidade em 2006, vi uma edificação de três pavimentos no alto de um morro, cujas fundações eram latas de tinta de dezoito litros cheias de concreto, sem sapata, sem estaca e sem juízo! É a teoria que formulei, do elefante pendurado na teia de aranha. Pode parecer estranho, mas se o módulo de elasticidade do aço (E) é de 2.100.000 kgf/cm2, a teia de aranha possui um "E" 100 vezes maior. Então, pendura um elefante na teia de aranha, se a teia não arrebentar, põe mais um elefante e se não arrebentar, põe mais um e assim sucessivamente. Bem, a teia de aranha funciona muito bem para o propósito da aranha, que é o de apanhar pequenos insetos. Mas não vai apanhar elefante. É isso. É o que esse povo faz e vai subindo laje até que tudo vai abaixo. Por que não constrói casa de pau a pique, conheço algumas que são bicentenárias? Por que "pobre" não quer. "Pobre" tem mania de sobrado, quer ostentar nem que leve dez anos para bater laje e a cada laje joga mais água no concreto fresco para render mais, afinal, é tudo batido na mão mesmo. Francamente, não tenho dó. Sorte que ninguém morreu. A ruptura foi brusca, pilares esbeltos (esforços de segunda ordem, estado limite de utilização que levou ao estado limite último), concreto com resistência inferior às especificações de trabalho estrutural e aço suficiente para concreto mais resistente, resultando em estado limite último com ruptura brusca, é o tal do "domínio 4" da NBR 6118. |
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