UM INTELECTUAL QUE SE PREZA

(Publicado em 09/07/2002)



Este artigo foi escrito em 2002 e manifestava a minha inquietação com o comportamento dos meus amigos "intelectuais" e militantes ideológicos". Infelizmente, pouca coisa mudou em mais de dez anos. Mas agora os intelectuais não são mais contra o governo. São contra a imprensa!



Um intelectual que se preza deve ser contra "tudo isso que está aí"...

Um intelectual que se preza deve ser contra o governo (qualquer governo) em qualquer circunstância. Deve ser contra, por princípio.

Deve ser contra os ricos e contra os poderosos. Deve partir do princípio de que toda pessoa rica alcançou fortuna roubando, enganando e explorando pessoas e sempre, SEMPRE, à custa do empobrecimento de outros. Toda pessoa poderosa tem seu poder devido a alguma coisa muito errada que tenha feito no passado.

Um intelectual que se preza deve desconfiar de tudo. Deve ver os chifres que existem nas cabeças dos cavalos. Deve perceber que existe uma conspiração em cada canto. Nada é o que parece ser. Em TUDO existe a mão oculta do poder do mal.

Um intelectual que se preza deve saber que todo mundo é desonesto, até prova em contrário. Deve saber que toda pessoa famosa deve sua fama ao marketing, à mídia ou à ignorância popular (geralmente é a soma desses três fatores). A massa é burra. A maioria está SEMPRE errada, pois é conduzida pela mídia, esse dragão do mal.

Um intelectual que se preza sabe que todo galã da televisão é um homossexual enrustido. Um intelectual que se preza sabe que ator de televisão não é artista que se preza. Aliás, a televisão é apenas uma manifestação comercial sujeita aos caprichos dos anunciantes. É simples assim.

Um intelectual que se preza deve ser INCONDICIONALMENTE contra o Bill Gates, o Futebol, a Igreja, a Globo, a Gisele e o FHC...

Um intelectual que se preza procura (e encontra) defeitos no Guga, no Chico Xavier, na Irmã Dulce, no Zico...

Um intelectual que se preza deve ser anti americano desde criancinha. E deve ser mal-humorado e pessimista, sempre.

Quando escreve, um intelectual que se preza deve ser prolixo e professoral. Deve citar autores franceses desconhecidos e frases inteiras em Latim (sem tradução simultânea, evidentemente. Afinal, um intelectual que se preza não tem culpa se a ralé, esse bando de parvos, não sabe Latim).

(...)

Descobri tudo isso noutro dia, quando inadvertidamente TRANSGREDI um desses MANDAMENTOS diante de um VERDADEIRO INTELECTUAL: Tive a estupidez de enumerar um ou outro exemplo de ação positiva de um determinado ministro do governo.

Pra que?! O dito cujo me passou um sabão daqueles. Ficou furioso. Mostrou-se decepcionado comigo. Ele que achava que eu até fosse inteligente...

Eu fiquei muito envergonhado, mas agora eu sei das minhas limitações. Fui posto no meu devido lugar. Evidentemente eu não sou um intelectual. Eu não tenho as qualidades necessárias a um bom intelectual. Sou apenas um escriba. Alguém tentando traduzir o mundo para seus pares sem tempo. Um artesão (nunca um artista) das palavras. Nada mais do que isso.E tenho dito.





PADILHA, Ênio. 2002





O ministro a quem eu elogiei foi Paulo Renato de Souza, morto em 2011. Na minha opinião, ele foi quem realmente iniciou a revolução na educação brasileira. O primeiro a investir pesado na educação de base. No ensino fundamental.






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