COPAS DO MUNDO
(Carlos Alberto Padilha)

(Publicado em 11/06/2022)



Tenho escrito aqui no site algumas memórias, à título de Notas Autobiográficas

Há 20 anos meu irmão mais velho, Carlos Alberto, teve um sensacional surto de escritor e, durante vários meses, escreveu crônicas com as suas memórias e me enviava, por e-mail. Eu, claro, me divertia muito com os seus escritos.

Agora recuperei aquele material (são 16 textos) e vou publicá-los aqui nesta mesma seção das minhas notas autobiográficas, porque, afinal, as memórias do meu irmão, até os seus 16, 17 anos, são igualmente minhas.

Divirtam-se! (e deixem seus comentários, no final)





Imagem: Pixabay



Olá, caro irmão!

Em 1966, eu tenho uma vaga lembrança de ver o nosso pai ao lado de um rádio que transmitia uma partida de futebol, e pelo que me lembro, o velho (novo na época) não ficou nada satisfeito. Não era pra menos.

Tratava-se do Sr. Euzébio fazendo um verdadeiro estrago no time e nos corações dos brasileiros. 4 anos mais tarde, eu já havia passado por Florianópolis, onde aprendi com os meninos vizinhos da tia Eugênia Márcia o gosto por jogar e ver futebol. Lembro, que foi em Florianópolis que pela primeira vez assistimos a uma partida de futebol televisionada.

Só não posso garantir que tivesse sido ao vivo, mas o certo é que passou na TV, e nós paramos para ver. Bem. E em 1970? Em 70 posso analisar agora, que o espírito de patriotismo que toma conta de nós brasileiros, em época de Copa do Mundo, não era muito diferente.

Embora tenha recordações de ver nosso pai resmungar descontente com a seleção de 1966, não posso garantir que fosse um fanático torcedor. É certo que ele gostava de futebol. Aliás, fazia até parte do time dos gordos da prefeitura (como massagista é claro "massagista dos magros também".) mesmo assim, no mês do Mundial de 70, o pai  comprou uma televisão para assistir a copa. Me lembro de cada jogo.

Lembro inclusive do jogo de abertura, (este ao vivo com certeza) entre México e URSS, cujo placar ficou em branco. Diga-se de passagem, vimos o jogo na casa do Gilson Schlisting, o Même, lembra ? Veja a  importância  da coisa.

Pois é. Dai em diante, vendo os jogos em nosso aparelho, cada jogo era uma festa. Até porque a raridade de televisores, obrigava as pessoas a se juntarem em casas de amigos para assistir às partidas. Tri Campeões. Que coisa! Pois foi daí em diante que teve início a minha saga de torcedor descontrolado.

Em 1974, em nossa casa numa televisão "zinha" de 14", vi o carrossel holandes despachar nosso escrete nas quartas de finais. Em 1978, fomos campeões morais.

Pra mim nada adiantou, torcedor como eu só se contenta com o penta, digo, com o título. Campeão moral!

Em 1982, já casado, tive que agüentar três tiros de um tal Bambino Rossi, que nos desclassificou a um passo da glória.

Naquele dia, lembro me bem, minha jovem esposa, nada amiga do esporte bretão, perguntou-me, lá por umas 10 da noite, por que eu estava chorando.

Confesso que pensei em inventar algo muito triste para justificar a choradeira. Mas, não havia nada mais triste, (pelo menos naquele dia) então desabafei. "É que a seleção peeerdeeu!".
Não é necessário falar sobre os comentários de minha “amadíssima” esposa. Portanto, penso que ali tive em minha vida, a primeira grande crise de torcedor apaixonado por copas e pela Seleção Brasileira.

Desde então, a cada 4 anos, sofro tanto, que ninguém pode imaginar. Em 1986, com a derrota nas penalidades para a França, naquele sábado, bati meu carro por pura desatenção.

Em 1990, quando o Canidgia fez o gol, naquele domingo cinzento, não vi mais o resto do jogo e, na segunda-feira não fui para a aula na faculdade e perdi uma prova que me deu uma grande dor de cabeça. No título de 1994,  fiquei tão tenso na final com a Itália, que quando o jogo acabou, tive uma reação maluca.

Eu que tratava meu segundo sogro com muito respeito, me abracei a ele e o beijei no rosto como um desesperado.

Em 1998? Quase morri do coração por exatos 6 jogos completos.

Minha Querida Terê, em vez de me servir aquela cervejinha gelada, tratava logo de me trazer um chazinho de camomila e, para falar a verdade, eu mesmo achava melhor tomar o chá.

Quanto ao 7º  jogo? Ah, este foi logo definido e, acalmou meu coração.

2002. Que sofrimento! Estou mais velho e mais torcedor. Controle? Quase "0".

Ah!? Lembra sobre o pai? O Velho ia a quase todos os jogos do Juventus, metia-se a presidente de times de várzeas, e os acompanhava em idas ao interior dos municípios vizinhos em cima de caminhões etc.

Acho que puxei por ele.

Mano Ênio, um abraço, beijos.





CARLOS ALBERTO PADILHA, JUN/2002








Leia também: COPAS DO MUNDO
Primeiro artigo da série, com as memórias das copas do mundo, até 2002



O VELHO REX
(...) todo cachorro quando está comendo ainda que seja velho e louco, não admite interferência. O cão me advertiu rosnando seriamente...



NOSSA PRIMEIRA COMUNHÃO
(...) compromisso é compromisso e o ensaio geral era muito importante. De modo que não havia jeito,  teria que ir assim mesmo. Até a Igreja foi tudo bem, afinal "moleques"  na rua andam de qualquer maneira. Mas na Igreja não!



O CASO DO BALANCINHO
(...) De súbito minha mãe me pediu silêncio e, num gesto como de espreita  dona Mathilde ergueu a cabeça concentrando-se para ouvir melhor algo que por certo lhe parecia estranho. E era!



O CAFEZINHO DO PAI
(...) Não havendo como conservar o café quente, o jeito era esquentar (requentar) cada vez que o quisesse. Assim, levava-se o bule com café ao fogo, esquentando-o com cuidado para que não fervesse



O CAFEZINHO DO PAI (2)
(...) Todos sabemos que não se deve usar os próprios dedos como termômetro (muito menos para saber se um café está quente ou não). Mas será que o nosso irmão Edson sabia?



O DIDI PESCADOR - DOMINGO É DIA DE PIQUENIQUE
(...) Sem muita demora, vi quando o Didi alçou o anzol da água, e preso nele um peixe desdobrava-se fisgado ao engodo. E logo em seguida, mais uns três ou quatro. Quanto a mim, continuava sapateiro



A VELHA CASA DA VOLTA DO UBA
(...) Era mal assombrada e pronto. A casa estava abandonada havia vários anos. Contavam os mais antigos, que sua última moradora,  uma senhora de idade, falecera ali desprezada pelos filhos e parentes. E iam mais longe: falavam que a velha  antes de morrer...



O CAMINHÃO DAS BALAS BELA VISTA
(O tal caminhão das Balas Bela Vista era, sim, um desafio pra quase todos os meninos corajosos. Eu não tava nesse time. Eu sempre fui muito cuidadoso com essas coisas de arriscar danos físicos. Não era do tipo que mergulhava de cabeça nos riachos nem andava de bicicleta a toda velocidade. Preferia a calma e a segurança.
Mas o meu irmão... esse era doido de pedra. Não podia ver um perigo que já queria correr...Deu sorte de não apanhar nesse dia.)



O POÇO
(Um dia, nossa mãe já cansada de subir as barrancas do Itajaí Açu carregando latas d'água, resolveu fazer um poço.
Associando-se aos nossos vizinhos alemães, saíram em busca de contratar um poceiro.  
O poceiro mais famoso do lugar, era um senhor conhecido como Pedro Mudo. Pedro Mudo, obviamente porque não falava, era mudo mesmo.)



OS TRENS DA VÓ
(Nossa avó tinha uns trens. E a gente estava doidinhos pra conhecê-los)



A FLORIANÓPOLIS DE 1969
(Nesta crônica Carlos conta como foi conhecer Florianópolis, aos 11 anos (ele) e 10 anos (eu) - A cidade tinha, certamente outra alma.)



O NOME DO DIDI
(Nesta crônica Carlos conta a surpresa que foi ficar sabendo que o nome do irmão mais novo era Ênio Padilha Filho e não Didi, como ele estava acostumado a chamar.)



ENTENDA LÁ COMO QUISER
(Nosso pai, o Ênio Padilha original, era cheio das frases de efeito...)



CEGONHA OU AVIÃO?
(A chegada da Preta (minha quarta irmã) foi um momento de questionar algumas crenças de criança... eu tinha 6 anos... meu irmão Carlos, tinha 7)



O TREM
(Ah, que saudades que eu tenho, da aurora da minha vida...)


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