BRASIL OLÍMPICO: O QUE É QUE EU TENHO COM ISSO?
(Publicado em 07/10/2009)
Você sabe por que a escolha da cidade sede dos Jogos Olímpicos é feita com sete anos de antecedência?
Simples: é porque a experiência já demonstrou ao Comitê Olímpico Internacional que as providências necessárias para a realização do evento precisam de SETE ANOS para serem executadas (inclusive em países ricos e bem estruturados, como a Inglaterra, por exemplo, sede dos Jogos Olímpicos de 2012).
No Brasil essa ideia nunca ficou muito clara. Os Jogos Pan Americanos foi um claro exemplo disso. E a consequência principal foi justamente o estouro espetacular do orçamento, pois não levaram em conta aquilo que eu chamo de A EQUAÇÃO DO EVENTO que está ligada ao processo decisório.
Uma das características fundamentais dos eventos é a sua hora marcada. Uma vez determinado, o evento não espera. Ele irá acontecer no momento previsto. Isto é dado como variável incontrolável. As outras coisas é que vão variar de acordo com as decisões dos organizadores.
A qualidade de um evento bem como seus custos são resultados diretamente vinculados à antecedência das decisões tomadas. Em linguagem de engenheiro podemos dizer que "a qualidade do evento (Qe) é diretamente proporcional ao tempo decorrido entre a Tomada de Decisão (TDe) e a realização do evento; por outro lado, os custos do evento (Ce) são inversamente proporcionais ao tempo decorrido entre a Tomada de Decisão (TDe) e a realização do evento.
Assim, (1) Qe = k * TDe
e (2) Ce = k * 1 / TDe
A combinação das equações (1) e (2) pode ser enunciada da seguinte forma: quanto mais demorada é a decisão sobre o evento, menor será a sua qualidade e maior será o seu custo.
Esta conclusão, por mais óbvia que possa parecer, nem sempre é observada pelos decisores de eventos, podendo gerar enormes desgastes e prejuízos para o evento e para a instituição organizadora. No caso dos Jogos Olímpicos, a instituição organizadora é o povo brasileiro (não se iludam os cariocas: para um Dinamarquês, Francês ou Japonês não existe Paulista, Mineiro, Carioca ou Gaúcho. Só existe Brasileiro!)
Assim, meus amigos, temos sete anos para realizarmos uma tarefa que demanda sete anos para a sua realização eficiente. Se deixarmos para fazer em 2011 o que precisa ser feito em 2010 automaticamente será acionada a EQUAÇÃO DO EVENTO: a qualidade diminuirá ou os custos aumentarão.
Como cidadão brasileiro e como engenheiro, sem estar na equipe da organização dos jogos, eu sei perfeitamente qual é o meu papel, ou seja, como é que eu posso contribuir:
Primeiro, sendo otimista e reconhecendo o trabalho dos que estiverem na linha de frente. Estimulando o trabalho deles da maneira que for possível: divulgando o andamento dos trabalhos, vestindo a camisa, sendo um torcedor;
Segundo, agindo sobre as instituições às quais eu estou ligado (Entidade de Classe, Crea, Confea...) instando-as à ação proativa. Nossas instituições precisam ficar em alerta permanente. Têm de fiscalizar os trabalhos, os projetos, as licitações, os contratos e as obras. Os profissionais de Engenharia e de Arquitetura estão preparados para esse tipo de vigília e não podem faltar nessa hora.
Terceiro, exigindo transparência. Me associando à instituições que se disponham a vigiar a transparência dos contratos e dos processos. Apoiando os Creas, o Confea e as Entidades Nacionais que se engajarem nessa empreitada.
O projeto dos Jogos Olímpicos do Brasil não pode ser uma caixa preta. Não é um projeto do COB. Não é um projeto do Rio de Janeiro. Não é um projeto do Governo do Brasil. É um projeto do Povo Brasileiro! E nós, engenheiros e arquitetos precisamos assumir nossos postos: na linha de frente da fiscalização.
PADILHA, Ênio. 2009
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