NOSSAS INTERMINÁVEIS BRIGAS INTERNAS

Há duas semanas ocorreu em Cuiabá o 7º Congresso Nacional dos Profissionais

Centenas de eventos preparatórios (locais, regionais e estaduais) foram realizados no Brasil inteiro, envolvendo todos os profissionais interessados em participar do processo. Para orientar as discussões desses eventos preparatórios o Confea elaborou um caderno com Textos Referenciais relativos aos diversos temas do Congresso (podem ser acessados AQUI).

Um desses textos foi escrito por mim, para o Eixo Referencial EXERCÍCIO PROFISSIONAL e tem o título \"O EXERCÍCIO PROFISSIONAL E A SUSTENTABILIDADE DAS PROFISSÕES: UMA ABORDAGEM MERCADOLÓGICA\" (16 páginas). O tópico 5 deste artigo relaciona \"Dez Elementos para o Exercício Profissional Sustentável\".

Aqui está um desses elementos: 5.5 NÃO INVESTIR ENERGIAS NAS BRIGAS INTERNAS DAS PROFISSÕES

Uma praga terrível, que arrasa nosso ambiente profissional e ameaça a sustentabilidade das nossas profissões são as brigas internas. Arquitetos brigam com Engenheiros Civis, que brigam com Engenheiros Eletricistas, que brigam com os técnicos, que brigam com os Agrônomos...
Enquanto o mundo lá fora segue seu rumo. Sem nós.

É muito comum que a análise dessa questão (das brigas internas) seja feita de forma superficial, exacerbando ânimos ou minimizando exageradamente as motivações. No entanto, acredito que deveríamos observar melhor as razões de cada lado, para propor uma ação diferente da usual.

O nosso sistema profissional (Crea, Confea...) foi concebido (e ampliado, posteriormente) sobre um pressuposto equivocado: o de que engenheiros, arquitetos e agrônomos são profissionais semelhantes com algumas diferenças. A verdade é que são profissionais muito diferentes e que apresentam alguns (poucos) pontos convergentes.

Medicina, Enfermagem, Odontologia e Fisioterapia têm muito mais em comum (em termos de características dos profissionais, processo de formação, exercício profissional, público-alvo) do que Engenharia, Arquitetura e Agronomia. Mas ninguém nem imagina reunir Médicos, Dentistas, Enfermeiros e Fisioterapeutas num único sistema profissional. Muito menos associar técnicos e Tecnólogos em Enfermagem, Protéticos ou Massoterapeutas a nenhum desses Conselhos.

Os processos de formação de engenheiros, arquitetos e agrônomos são muito diferentes. Por conta disso e por conta da natureza do exercício profissional de cada um deles, esses profissionais têm visões de mundo distintas. Têm estilos de vida diferentes. Têm suas próprios crenças e valores. E disso decorre que eles têm diferentes espectativas sobre o que um Conselho Profissional ou uma Entidade de Classe pode ou deve representar.

Entre engenheiros e arquitetos existe, é verdade, uma sobreposição e uma coincidência de atividades na área de construção. Mas a verdade é que engenheiros e arquitetos olham para a mesma obra de construção e veem coisas distintas, porque têm olhares diferentes.

A discussão sobre se cada modalidade profissional deveria ou não ter o seu próprio Conselho, neste momento eu considero secundária. Isto não resolveria este problema, pois a relação entre os profissionais não pode ser extinta por decreto. É o mercado que determina isso.

Acredito até que o Sistema Confea/Crea pode sobreviver e progredir congregando esses profissionais diferentes. O que precisa é mudar o pressuposto: aceitar que as profissões são diferentes. Os profissionais que as exercem são diferentes. Têm diferentes visões do mundo e diferentes expectativas. E que o Conselho precisa dar conta disso.

O pressuposto dominante hoje é o de que o Sistema pode ter ações que atendam a todas as demandas, necessidades e expectativas simultaneamente. Isso não existe. Por isso é que tudo o que o Crea faz acaba desagradando a todos. Ninguém se sente plenamente atendido porque todas as ações são uma colcha de retalhos que precisa atender a dezenas de interesses e expectativas distintas.

Deveria haver ações que atendessem plenamente a arquitetos (mesmo que desagradasse a engenheiros e agrônomos); outras ações ou atividades que satisfizessem completamente engenheiros ou agrônomos (mesmo que arquitetos torcessem o nariz). É claro que para isso teria de haver um pacto de generosidade entre os envolvidos. Enquanto todos os integrantes do sistema assumirem uma posição de ferrenhos defensores dos seus próprios interesses o sistema não funcionará e nem justificará sua existência.

O que estamos sugerindo, portanto, é que os profissionais abandonem a postura bélica e compreendam que Engenheiros e Arquitetos têm interesses comuns e que a sustentabilidade dessas profissões depende muito da união desses interesses (mesmo que, nesse futuro, os profissionais estejam separados em Conselhos Profissionais próprios). Todo o tempo e toda a energia despendida nessas brigas são recursos que seriam muito melhor empregados na valorização das respectivas marcas e, portanto, um investimento na sustentabilidade das profissões.

ENG. ÊNIO PADILHA (Msc. Adm.)
www.eniopadilha.com.br - ep@eniopadilha.com.br


Não deixe de ler

ENGENHEIROS E ENGENHEIROS, artigo escrito em 1987 e publicado pela primeira vez no último capítulo do livro \"Marketing para Engenharia, Arquitetura e Agronomia\", em 1998, este artigo se insurge contra o comodismo dos profissionais que apenas exploram os direitos garantidos em lei, sem se preocupar em desenvolver o mercado para sua profissão;

ÁGUA E VINHO, artigo publicado em agosto de 2009 e que aponta como equivocados os pressupostos que criaram e estruturaram nosso sistema profissional;

O QUINTO MANDAMENTO, artigo que defende a tese de que Engenheiros e Arquitetos deveriam se preocupar menos com as brigas entre si e mais em desenvolver o imenso mercado potencial de Engenharia e de Arquitetura que não está sendo ocupado por esses profissionais.

Comentário #1 — 04/09/2010 08:35

Ênio Padilha — Engenheiro — Balneário Camboriú - SC

[Comentário do Ênio Padilha]

Prezado Leitor
Na quarta-feira, dia 8/09/2010 (6h00) será publicado aqui o artigo inédito "O QUINTO MANDAMENTO" que fala da reação apaixonada que este ponto de vista enfrenta nas apresentações das minhas palestras.
Aguarde e confira

Comentário #2 — 04/09/2010 09:40

francisco figueredo — eng. oper, mec e eng. segurança — CUIABA - MT

CARO PROF. ENIO .
VOCE ESTÁ REPLETO DE RAZÕES, QUANDO FALA DA CONSTANCIA DE AMBIENTES BELICOSOS, NO SEIO DDAS PROFISSÕES QUE COMPOEM A ENGENHARIA BRASILEIRA. LAMENTAVELMENTE, A COISA ME PARECE SE CRIA ANTERIORMENTE; JA NA FACULDADE, QUALQUER FACULDADE, NAO APENAS ENGENHARIAS, OK.
O ESTUDANTE BRASILEIRO NÃO É TREINADO, NÃO É NFORMDO, DE MATERIAS VITAIS A SUA SOBREVIVENCIA NA SELVA; E POR QUE SE APELIDOU SELVA, O AMBIENTE D TRABALHO, DEVE INTERESSAR A INTERESSES EXCUSOS ESSA COMPETIÇÃO, ESSE TRO-LO-LÓ, COMO DIZIA OUTRO PRESIDENTE DESTA NOSSA MUITA AMADA E NÃO SUSTENTAVEL PATRIA; NÃO SE ENSINAM NAS ESCOLAS, AO ESTUDANTE QUE ELE NÃO É O SOL DO UNIVERSO, NEM TAMPOUCO LHE DIZEM QUE ELE É DE FUNDAMENTAL IMPORTANCIA AO SISTEMA PARA TORNAR O MESMO SUSTENTAVEL.
DAÍ, O ENGENHEIRO, O MEDICO, O DENTISTA, RECEBM O DIPLOMA E VÃO APERTAR PARAFUSOS,ARRANCAR DENTES, E COSTURAR TRIPAS FURADAS POR TIROS, OK.
É INDISPENSAVEL, QUE A ESCOLA DIGA, TODO DIA, EM TODOS OS NIVEIS DE ENSINO, DA IMPORTANCIA QUE TEM O ESTYUDANTE, O HOME QUANDO ELE ESTA EM CIMA DA TERRA. E DIZGA-LHE TAMBÉM QUE ELE NÃO É O UMBIGO DO MUNDO; MAS QUE ELE PODE FAZER A DIFERENÇA QUANDO TRABALHA, EM GRUPO, QUANDO RESPEITA A IDEIA DE SEU COLEGA, QUANDO AVALIA A IDEIA DE SEU COLEGA, E PARA QUE ELE ESQUELÇA SEU EGO,A MALDIÇÃO DO EGO, É INDISPENSAVEL QUE SAIBAMOS CADA UM DE NÓS, QUE HÁ COISAS MUITO MAIS VALIOSAS A SOCIEDADE AO HOMEM, A MULHER, DO QUE USAR O ULTIMO MODELO DE CRRO, OU DE SAPATO OU DE CELULAR, POIS ISTO, NÃO É SUSTENTAVEL E DEMANDA MAIS CAPITAL, MAIS CAPITAL DEMANDA MAIS TRABALHO, E MAIS TRABALHO E AÍ, VEM A DISPUTA ENTRE COLEGAS.
E QUEM LUCRA, É O MERCADO QUE VAI PAGAR MUITO MENOS POR UM RABALHO QUE VAÇLE MUITO MAIS, UNICAMENTE POR CONTA DO EGO, GIGANTESCO E AMALDIÇOADO DE CADA UM DE NÓS, E OS NOSSOS CLIENTES, NOSSOS CONTRATANTES ELES SABEM DISSO, EXPLORAM ISSO, E EXPLORAM MUITO MAIS QUE ISSO.
PORTANTO SEJAMOS COERENTES, ESQUEÇAMOS NOSSO EGO, NOSSO EGO, É UM PÉSSIMO ALIADO. ELE NA VERDADE, NEM SABE PARA ONDE DEVEMOS CAMINHAR PARA SERMOS FELIZES, MAS TEM UMA INFUENCIA...ENORME.
ERA ISSO, RESUMO DA CONVERSA: É PRECISO DIFUNDIR A EXTINÇÃO DO EGO; E ISTO PASSA POR UM LONGO APRENDIZADO, E QUE COMECE LOGO, ENTÃO. POIS AS MATÉRIAS QUE ENSINAM TREINAM SOBRE ISSO, NÃO ESTAO NOS LIVROS DA ENGENHARIA, MAS NOS LIVROS DA ESPIRITUALIDADE DO HOMEM, DA MULHER, COISA, MUITISSIMO MAIS FUNDAMENTAL QUE SIMPLES TRE-LE-LÉS, CONFEDERADOS OU REGIONALIZADOS.

ABRAÇOS
SAUDE E LUZ
ENG. FRANCISCO

Comentário #3 — 05/09/2010 15:57

Marco Antonio Gazar Barbalho — Engº Civil — Salvador

Prof. Ênio, Boa Tarde!

O seu artigo foi ótimo,aliás, como tudo que você escreve. No entanto sou favorável a criação de Conselhos distintos, num futuro não muito distante. Creio que estariamos todos melhores atendidos em função da convergência de interesses.

Um grande abraço, Marco Gazar

[Comentário do Ênio Padilha]

Prezado Marco
Considero que a criação do CAU é uma questão de tempo. E que isso pode ser apenas o começo de uma implosão total do nosso sistema profissional.
Não tenho uma posição a favor ou contra isso. É apenas uma leitura da situação.

No entanto, independente de como estejamos organizados institucionalmente, o que importa é que na "vida real" representada pelo mercado, as coisas não vão mudar. Engenheiros e Arquitetos continuarão a ter seus destinos cruzados e suas atividades profissionais profundamente interligadas.
Por isso é que eu insisto em que o mais importante é que cada profissional entenda e valorize o trabalho dos profissionais das outras áreas. Abrir mão dos preconceitos e egoismos é essencial para construir o nosso mercado de trabalho para o futuro.

Comentário #4 — 23/11/2010 14:11

Ênio Padilha — Engenheiro — Balneário Camboriú

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