BACK TO BASICS (Nossos Escritórios estão na Idade da Pedra da Administração)
(Publicado em 19/01/2011)
Uma conversa entre dois consultores de gestão pode deixar constrangido um arquiteto ou engenheiro que comanda com sacrifÃcio seu escritório. Aquele papo sobre as teorias da administração, os elementos clássicos, os ensinamentos de Taylor, Fayol, Mayo, Weber e os contemporâneos, Drucker, Porter, Mintzberg... a coisa é meio assustadora!
Será que eu não sei nada de gestão? Como fazer para implementar na minha empresa os mais novos (recentes) conceitos de administração de empresas?
Imagem: Ënio Padilha
Calma! Calma! Não vamos tentar recuperar em uma semana quase 120 anos de atraso.
Isso mesmo. Eu disse 120 anos! Já explico.
Há 120 anos as empresas (no mundo inteiro) eram administradas sem muito critério. O processo produtivo, em todas as áreas, era gerido pelas pessoas que sabiam fazer o trabalho (porque haviam aprendido com seus mestres). Mesmo em grandes empresas os processos eram bastante artesanais e personalizados.
Foi nessa época (final do século XIX) que apareceu, nos EUA, um jovem engenheiro mecânico chamado Frederick Winslow Taylor e tocou uma grande revolução no universo empresarial. Estava criada a Administração CientÃfica, sustentada em quatro princÃpios que hoje parecem primários mas que, na época, era uma inovação sem precedentes. Os quatro princÃpios eram os seguintes:
1) Separar quem planeja de quem executa as tarefas (criava a figura do administrador profissional, que não existia até então);
2) Selecionar os empregados de acordo com as caracterÃsticas necessárias para a execução das tarefas;
3) Dar treinamento adequado e exaustivo aos empregados para que executassem as tarefas com perfeição;
4) Controlar os processos para garantir que o que foi planejado (no item 1) fosse realizado pelas pessoas selecionadas (de acordo com o item 2) que haviam sido treinadas (conforme o item 3)
Na França, mais ou menos na mesma época, outro engenheiro, Henry Fayol, desenvolveu uma teoria semelhante, com resultados muito parecidos.
Taylor e Fayol foram as grandes referências da Adminsitração durante mais de 30 anos, quando então surgiu Elton Mayo, um médico australiano que desenvolveu uma importante pesquisa em Chicago, nos EUA. Ele começou a discordar da maneira como algumas coisas eram feitas. Começou a dizer que os empregados eram seres humanos e que a administração precisaria levar em conta esse "detalhe" (de fato, nem Taylor nem Fayol prestavam muita atenção nisso. Para eles os empregados eram apenas instrumentos do processo produtivo, recebiam apenas os cuidados necessários para que se mantivessem operantes e produtivos).
Elton Mayo criou a Teoria das Relações Humanas, que foi a segunda e talvez a mais importante revolução ocorrida na Administração depois de Taylor. Os empregados passaram a ser considerados e ouvidos. Produzir mais, melhor e mais barato já não era suficiente. Era preciso fazer tudo isso e ter empregados satisfeitos. Nascia a função social das empresas.
Depois disso (e, para encurtar essa nossa conversa) surgiram muitas outras teorias. A maioria delas cobrindo lacunas deixadas pelas suas antecessoras. Vieram o Modelo Burocrático, a Teoria Estruturalista, a Teoria Neoclássica e a Teoria Comportamental (que, nada mais eram do que releituras mais serenas da Administração CientÃfica e da Teoria das Relações Humanas) e a moderna Teoria da Contingência... ufa!!!
E, nessa esteira, surgiram as modernas técnicas de gestão: Administração Participativa, Administração HolÃstica, Benchmarking, Downsizing, Qualidade Total, Learning Organization, Terceirização, Reengenharia, Readministração... Meu Deus!
E o nosso Escritório de Arquitetura? e o nosso Escritório de Engenharia? muitos deles sequer têm uma secretária? Como faz?
Poisintão! Era disso que eu estava falando, quando disse que temos 120 anos para recuperar. Nossos escritórios (a maioria deles) ainda é tocado com as mesmas técnicas de gestão utilizadas pelas empresas em 1890!
Estamos na Idade da Pedra da Administração. Precisamos fazer alguma coisa, claro!
Mas, atenção. Não devemos começar pelo fim, cedendo à tentação dos modismos da gestão. Nenhuma dessas modernas técnicas de gestão, com nomes bonitos (em inglês, of course) vai funcionar numa empresa que não tenha sido alfabetizada em Administração. É preciso investir nos fundamentos da Administração. Beber um pouquinho nos ensinamentos de Taylor, Fayol, Elton Mayo e Webber (pra ficar só em alguns clássicos). É preciso, no mÃnimo, implementar na sua empresa os quatro princÃpios da Administração CientÃfica de Taylor, combinados com os princÃpios fundamentais da Administração de Recursos Humanos.
É preciso entender que a Administração é um conjunto de quatro grandes áreas (Produção, Financeiro, Pessoas e Mercado) e que descuidar de um deles (qualquer um deles) pode ser fatal.
É preciso tirar o seu escritório da indigência administrativa. Mas isso deve ser feito sem queimar etapas. Primeiro devemos ficar de pé e depois caminhar... Correr já é outra conversa.
PADILHA, Ênio. 2011
Leia também: PROJETO, CONSULTORIA, ASSESSORIA
ALHOS E BUGALHOS
Quais são os produtos disponÃveis em um escritório de Engenharia ou de Arquitetura? Qual é a natureza desses produtos? Por que é importante, para o profissional entender isso? O que acontece quando um engenheiro (ou arquiteto) não sabe a diferença entre uma consultoria e uma assessoria?
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