ENIO PADILHA, PAI
(Este artigo foi publicado originalmente em 26/01/2011. Atualizado em 26/01/2021.
Quem me conhece apenas como escritor talvez não tenha o registro de que o meu nome completo inclui um Filho depois do Ênio Padilha.
Isto mesmo: Ênio Padilha Filho.
Em 1998, no dia que foi decidida a capa para o meu primeiro livro (Marketing para Engenharia e Arquitetura), resolvi suprimir esse complemento do meu nome, por conta de uma recomendação do marketing pessoal (as pessoas guardam mais facilmente nomes com duas palavras). Mas essas recomendações do marketing pessoal são outro assunto (aliás, tratados no capítulo 6 do livro Manual do Engenheiro Recém-Formado).
O assunto aqui é, justamente, o outro Ênio Padilha. O original. O verdadeiro dono do nome: meu pai, que, se ainda estivesse entre nós, completaria 99 anos neste dia 26 de janeiro de 2021.
Foto: Carlos Marzall
Meu pai nasceu em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, em 1922. Era o 2º filho do vô Argemiro ( Correia Padilha) e da vó Maria Luiza ( Pires Padilha). Viveu seus primeiros anos no Bairro Bonfim, na capital gaúcha, onde trabalhou como ajudante de padeiro, fazendo entregas com uma carroça. Nesse trabalho sofreu um grave acidente que lhe quebrou as duas pernas. Esse infortúnio o deixou, por toda a vida, com um defeito em uma das pernas, responsável por uma característica que o identificava, mesmo visto de longe, caminhando: era manco.
Na juventude morou por algum tempo em Caxias do Sul, trabalhando com o vô Argemiro, que era calceteiro (trabalhador que calça ruas e outros caminhos com pedras ou paralelepípedos). Lá conheceu Natalina Rodrigues (seis anos mais velha) com quem se casou, em 1941. Tinha, então, 19 anos. O casamento durou 11 anos e resultou, entre outras coisas, em dois filhos: Adão e José Carlos. A essas alturas Ênio Padilha já era, ele próprio, um calceteiro reconhecido e trabalhava por conta própria, prestando serviços para prefeituras de várias cidades.
Com a morte da mãe dele, (a vó Maria Luiza), acompanhou o pai (vô Argemiro) na mudança para Santa Catarina, em 1953. Estabeleceram-se em Rio do Sul, onde Ênio conheceu Mathildes Souza (quatorze anos mais nova) e com ela se casou, em 1954.
Com Mathildes (que virou Dona Ana, por sugestão do sogro, que considerava Mathildes um nome muito complicado), Ênio viveu por 26 anos e teve 7 filhos: Carlos Alberto, Ênio, Edson, Enoína, Eronilde, Eliane e Élcio.
A profissão de calceteiro, na qual iniciou-se aos 18 anos, foi sua ocupação durante toda a vida. Com ela criou seus filhos e tornou-se conhecido, principalmente em Rio do Sul, onde viveu por mais de 30 anos. Em Rio do Sul, foi o responsável pela pavimentação (com paralelepípedos ou lajotas de concreto) das principais ruas e avenidas da cidade. Muitas dessas ruas, como a Rua XV e a Aristiliano Ramos, hoje estão cobertas pelo bem-vindo asfalto.
Tornou-se tão conhecido e querido por tanta gente em Rio do Sul que existe, na cidade, uma rua com o seu nome. Homenagem feita pelos próprios moradores da rua, poucos meses após o seu falecimento, em março de 1989.
Mas os paralelepípedos não foram suas únicas ocupações. Ele também era músico, tocava bateria e pandeiro em bares e casas noturnas de Rio do Sul. Adorava dançar tangos, cantarolar boleros e torcer pelo Internacional de Porto alegre (com o rádio de pilha colado ao ouvido)
Seu Padilha, que hoje anima as festas do céu, ao lado dos irmãos Paulinho e Nelson, músicos e que também já partiram, certamente olha para cá e abençoa os 9 filhos (e muitas noras, genros, netos e bisnetos) que ainda sentem saudades e que se esforçam para cumprir seus sábios conselhos e construir vidas úteis, honestas e felizes.
PADILHA, Ênio. 2021
Imagens:
Na primeira foto (preto e branco), feita pelo fotógrafo Carlos Marzall, de Rio do Sul, provavelmente na década de 1960, meu pai aparece em primeiro plano, na sua inseparável bicicleta Monark;
Na segunda foto (feita pela minha amiga Sônia Tomazoni, em 2007) o detalhe da placa da rua Ênio Padilha, no Bairro Taboão - Rio do Sul-SC;
Na terceira foto (feita por mim) a entrada do nosso escritório, em Balneário Camboriú. Mandei fazer uma ruazinha em paralelepípedos, para homenagear o velho;
As duas fotos maiores, depois do texto, foram feitas em janeiro de 2013 pelo meu irmão, Carlos Alberto Padilha e mostram algumas das casas da Rua Ênio Padilha.
As últimas fotos, onde a rua aparece já pavimentada, foram feitas pelo amigo Antônio Celso Silveira, em setembro de 2016.
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