E DIGO MAIS: DUNGA É UM PÉSSIMO EXEMPLO!

(Publicado em 11/09/2006)



Já explico, leitor.
É que, na semana passada, publiquei, no nosso site www.eniopadilha.com.br e no nosso "Três Minutos" um artigo chamado É SIMPLES, MAS NÃO É FÁCIL falando das pessoas que querem o sucesso através de atalhos, dicas, truques, fórmulas milagrosas e receitas prontas. Gente que faz a fama e fortuna dos autores de auto-ajuda e motivação pessoal (que se alimentam da mediocridade e boa fé dos fracos).

É preciso registrar, no entanto, que essa gente não sai "do nada". É massa fabricada. Duas das principais instituições nacionais (as novelas da TV e o nosso futebol) têm contribuído para construir e fortalecer esse conceito do sucesso ao alcance de qualquer um, obtido apenas com a "vontade de vencer".

Nas novelas, os personagens principais nunca estudam. Alguém aí se lembra de algum personagem que tenha vencido na vida ou progredido, por ter estudado, durante uma novela?
Nem em "Malhação" (cujo cenário é uma escola) os personagens estudam ou têm suas vidas transformadas em função da dedicação aos livros e cadernos.

Nas novelas é muito comum o progresso (muitas vezes vertiginoso) por outras razões como beleza, simpatia, jeitinhos ou contatos com as pessoas certas.
Isso alimenta nas pessoas (nos telespectadores) a crença de que o sucesso está ao alcance de qualquer um: estar melhor preparado para as oportunidades não faz diferença. É tudo uma questão de "força de vontade".

No futebol (nos esportes, em geral) essa lógica também é forte. Em outros países, um atleta que se preparou muito e por alguma razão perde a competição não é desprezado pela torcida. Ao contrário, recebe os aplausos e o reconhecimento pelo empenho e preparo. A torcida sabe que aquele atleta tem maior chance de construir uma carreira de bons resultados.

No Brasil não. O brasileiro supervaloriza as conquistas casuais, as vitórias inesperadas, o campeão que surpreendeu a todos, o atleta que vence uma grande competição quando ninguém esperava nada dele.

Torcemos sempre pelo time mais fraco e pelo competidor mais despreparado. São os atletas e equipes que, no imaginário coletivo, chegam às conquistas por acaso, sem querer, sem ter planejado isto.

Pais e mães se orgulham de contar para os amigos que "meu filho passou no vestibular. E olha que ele nunca estudava para a prova".

Uma pessoa conquista um bom emprego e conta pra todo mundo, cheio de orgulho: "nem me preparei para a entrevista!"

O brasileiro vive procurando provas de que é possível vencer na vida sem preparo, sem investimentos e, principalmente, sem passar pelo caminho completo.

Nós, brasileiros, não acreditamos no treinamento. Não acreditamos no estudo. Não acreditamos que o desempenho é o resultado de uma estrutura (física, intelectual ou psicológica) planejada.

Torcemos contra o atleta favorito (aquele que treinou mais e por mais tempo). Torcemos contra os mais fortes (que são mais preparados e estruturados). Torcemos sempre para que haja uma queima inesperada de etapas com a surpreendente vitória do novato, daquele que não estudou ou que não se preparou direito.

A escolha de Dunga para treinar a seleção brasileira é apenas uma constatação dessa postura. Trata-se, naturalmente, de um atleta vitorioso, com muitas qualidades.

Mas não tem curso superior em Educação Física (uma das exigências, no Brasil, para treinar qualquer time, até na terceira divisão) e nunca dirigiu nenhum time de futebol. Seu único mérito, além da garra e determinação, é ser amigo das pessoas "certas".
Mesmo assim, tem sido festejado, de norte a sul. Porque ele prova que qualquer um pode chegar lá. Há até quem diga que o grande mérito dele é justamente não ter estudado. "Estudo demais atrapalha!" Esta é a logica.

A escolha de Dunga desestimula muita gente a estudar. Afinal, como se sabe, estudar custa caro. Não falo apenas do investimento financeiro. Custa caro em anos da vida. Custa energia. Custa sacrifícios inevitáveis.

Estudar pra quê? Se para "chegar lá" é suficiente ter garra, determinação, atitude, força de vontade e outras virtudes tão estimuladas pelos autores de motivação pessoal e auto-ajuda.

Quem vai dizer a esses jovens que essas virtudes são apenas condições necessárias? Não são condições suficientes.
E que há uma sutil diferença entre essas duas coisas (necessária e suficiente)?

Enquanto estiver dando certo (e, no caso Dunga, por enquanto está), só ajuda a confirmar a crença FALSA de que estudar é uma bobagem. Uma perda de tempo que não faz diferença nenhuma. Quando esse barco fizer água (e fará, não tenho dúvidas), ninguém vai lembrar do verdadeiro motivo do fracasso: a falta de preparo consistente.





PADILHA, Ênio. 2014

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