UMA METÁFORA FUTEBOLÍSTICA (Parte 2)

(Publicado em 10/03/2011)



Toda empresa tem seus recursos. Assim como todo Clube de Futebol.
Nem todos os recursos, no entanto, são valiosos (raros ou idiosincráticos e valorizados pelo mercado). Recursos valiosos não acontecem por acaso. São resultante da existência de talento, organização e disciplina, combinados com o tempo e, algumas vezes, com uma trajetória única e que possibilita um resultado único, (são os chamados recursos path and time dependent (dependentes do tempo e da trajetória).

Peraí. Se você não está entendendo nada disso, talvez seja porque você ainda não leu a primeira parte deste artigo. Então, antes de continuar, faça uma paradinha e leia UMA METÁFORA FUTEBOLÍSTICA (Parte 1)

OK. Agora podemos continuar:


Pode ocorrer (e ocorre, na maioria dos casos) de uma empresa (ou Clube de Futebol) não ter nenhum recurso valioso. Nenhum Diferencial Competitivo. Não é o que se espera, mas acontece.
Acontece também (algumas vezes) de um Clube de Futebol (ou uma empresa) possuir um recurso valioso (um diferencial competitivo) mas não utilizá-lo para conceber e implementar alguma estratégia para a conquista da Vantagem Competitiva.
É o caso, por exemplo, de escritórios de engenharia antigos que apostam na estratégia de preços baixos, quando deveriam apostar no recurso da reputação (ou seja, explorar o recurso valioso da reputação construída ao longo de muitos anos).

Um time de futebol com três excepcionais atacantes (desses, bem acima da média) tem um treinador que acredita que o melhor ataque é a defesa. E arma estratégias defensivas para o seu time, jogando sempre com apenas dois atacantes. Funciona, algumas vezes, mas não funciona em outras. O treinador faz isso baseado no fato de que "todos os times jogam assim, com dois atacantes". Esquece de um detalhe IMPORTANTÍSSIMO: nenhum outro time tem TRÊS ATACANTES EXCEPCIONAIS!!!
O final da história a gente já sabe: time perdendo, atacante no banco... e alguém, na torcida, puxa o coro que logo será seguido por muitos: "burro! burro! burro!!!" (geralmente, quando se chega a esse ponto, a vaca já foi ou está à caminho do brejo.)

Não basta possuir um recurso valioso. É preciso conceber e implementar uma estratégia inteligente que transforme esse Diferencial Competitivo em uma Vantagem Competitiva. Diferencial Competitivo (Recurso Valioso) é Energia Potencial. E, para transformar energia potencial em trabalho (que é o que interessa) é preciso algum arranjo no sistema (não é isso? Fisica I, tá lembrado?).

Um escritório de Arquitetura/Engenharia pode, por exemplo, possuir a capacidade de executar os trabalhos contratados dentro de prazos curtos. Isto é (principalmente no Brasil) um diferencial competitivo pois praticamente nenhum escritório possui essa capacidade. Geralmente ela é obtida pela combinação de recursos que sozinhos não são tão valiosos: (1) uma boa equipe de trabalho, (2) um bom sistema operacional com rotinas bem definidas, (3) controle eficiente e (4) um programa de treinamento eficaz.
Isso tudo, junto, depois de muito tempo, transforma-se em uma fórmula de alta competência e eficácia: praticamente ninguém tem, porque é difícil e demorado ter... e o mercado valoriza: um típico Diferencial Competitivo.

No entanto, como eu já disse, não adianta ter um diferencial competitivo se ele não puder ser transformado em uma vantagem competitiva. E como transformar essa capacidade de cumprir prazos curtos em uma Vantagem competitiva?
Uma solução é incluir nas propostas comerciais e nos contratos, cláusulas de multas contratuais por atraso na entrega dos trabalhos. Isso impõe uma condição que não poderá ser seguida pelos concorrentes e evidenciará o diferencial competitivo, transformando-o em uma Vantagem competitiva.

Estratégias de comunicação, de ampliação de área de atuação e até mesmo de redução de preços (sem diminuir os lucros) são necessárias para transformar os seus diferenciais competitivos em Vantagens Competitivas.

Administrar seus talentos, com organização e disciplina é sempre a melhor solução, tanto num clube de Futebol quanto num Escritório de Engenharia/Arquitetura.





PADILHA, Ênio. 2011




Leia também: UMA METÁFORA FUTEBOLÍSTICA (Parte 1)



Faça o Teste para saber: O SEU ESCRITÓRIO TEM DIFERENCIAIS COMPETITIVOS?






Comentário #1 — 10/03/2011 16:28

CARLOS ALBERTO PADILHA — advogado — Blumenau

Então: Pelo o que eu entendi, podemos dizer que um clube de futebol pode ser administrado e até mesmo "escalado" como se administra uma empresa?! É isso ou não? Gostei do artigo! Grande tio Ênio. Abraços...

RÉPLICA DE ÊNIO PADILHA

Carlos Alberto Padilha, meu irmão (para minha alegria).
É isso mesmo.
Um Clube de futebol é um bom exemplo de Organização que deve conceber suas estratégias com base nos seus recursos.
1) Identificar os recursos;
2) Selecionar os recursos valiosos (raros ou idiossincráticos e que sejam importantes para alcançar os objetivos);
3) Conceber estratégias visando obter Vantagem Competitiva (ganhar jogos e campeonatos ou produzir novos jogadores e vender material esportivo - leia-se: conquistar e manter torcedores)
4) implementar com organização e disciplina as estratégias concebidas no item 3;
5) Manter o controle da administração do clube.

PS. Escrevi o primeiro artigo com o objetivo de utilizar os Clubes de Futebol como parâmetros de comparação para Engenheiros e Arquitetos nos seus escritórios. Porém depois da nossa conversa, acabei escrevendo este segundo pensando em como os escritórios de Arquitetura/Engenharia podem servir de parâmetro para a gestão de Clubes de Futebol.

Espero que tenha funcionado, para os dois lados.

Comentário #2 — 10/03/2011 23:24

Arq. Luciana Caixeta Duarte — Arquiteta e Urbanista — Palmas/TO

Isto aí, Ênio... lembra bem que é importante se ter uma gama de profissionais fazendo aquilo que é sua especialidade - equipe - e assim, faz melhor e em menor tempo... é a equipe quem ganha... o gol é apenas uma consequência de um bom trabalho de equipe.

RÉPLICA DE ÊNIO PADILHA

Luciana
Este tema (Visão da Empresa Baseada em Recursos) é uma boa novidade nos estudos de estratégia. Estou tentando trazer essa novidade para o universo dos escritórios de Arquitetura e de Engenharia. espero que os colegas Engenheiros e Arquitetos percebam o potencial dessa análise para a concepção de estratégias para alcançar a VANTAGEM COMPETITIVA.

Comentário #3 — 16/03/2011 11:30

Ênio Padilha — Engenheiro — Balneário camboriú - SC

O que aconteceu com o Flamengo em 2010 (depois de ter sido campeão brasileiro de 2009) e o que aconteceu com o Fluminense em 2011 (depois de ter sido campeão brasileiro de 2010) mostra claramente como a gestão de recursos e a concepção de estratégias baseadas em recursos é A ÚNICA maneira de obter sucesso de longo prazo.

É bom lembrar (e aí vai a cornetada) que tanto Flamengo quanto Fluminense foram os únicos clubes, na era dos pontos corridos, que foram beneficiados pelo sistema do "entrega" que forçou a CBF a alterar os critérios para a formação da tabela do Campeonato deste ano. Ou seja, não foram campeões apenas por méritos próprios. O resultado disso (ou a consequência disso) se viu já no ano seguinte.

Comentário #4 — 26/04/2011 16:19

Hamilton M F Delgadinho — Eng. Civil — Sao Bernardo do Campo

Caro Ênio:
Suas considerações e conclusões foram muito felizes e elucidatórias tanto aos escritórios de engenharia e arquiterura como para os times de futebol. Parebéns pela iniciativa.
Porém farei outro paralelo. Nenhum avião ou navio despenca/afunda por algum motivo isolado. Para que a catástrofe ocorra é preciso que uma somatória de fatores ocorram ao mesmo tempo. Da mesma forma que vemos em nosso país grandes empresas familiares, com vários vícios de tecnologia, econômicos etc etc.
Quando o conceito de uma equipe multidisciplinar for adotado pelas empresas que tem melhor visão estratégica, daremos um salto exponencial nas relações projeto X profissionais.
Aquelas que continuarem com a citada visão arcaica, finalmente sucumbirão.
Para alívio de todos...

RÉPLICA DE ÊNIO PADILHA

Caro Hamilton

Concordo plenamente.
No esporte, nas empresas e na vida nada acontece como resultado apenas de um fator isolado. Algumas pessoas fumam a vida inteira e nunca desonvolvem um cancer, por exemplo. O que não exclui o cigarro como uma das principais causas da doença. Mas o cigarro, sozinho pode não causar o mal. Da mesma forma que comer frutas e verduras a vida inteira é uma atitude que, sozinha, não é capaz de evitar mal nenhum à saúde.

Uma equipe multidisciplinar, exatamente por ser um recurso idiossincratico que geralmente dependente do tempo e da trajetória (time e path dependent) é considerado sempre como um recurso valioso e, portanto, um potencial diferencial competitivo (que permite conceber estratégias para obteção de vantagem competitiva)

E segue o baile!

Comentário #5 — 03/08/2013 09:56

Jean Tosetto — Arquiteto — Paulínia

É difícil comparar um time de futebol com uma empresa, pois as empreses visam lucros basicamente monetários, enquanto que os times querem ser campeões e alguns, para isso acontecer, gastam o que tem e o que não tem.
Por isso vemos que um clube campeão sul americano pode jogar, poucos anos depois, na segunda divisão do torneio nacional. Aconteceu com o Palmeiras de 1999 para 2002.
Se uma empresa de porte vai para a segunda divisão do seu mercado, dificilmente ela retorna ao topo. Mas os times fazem isso com certa frequência.
O Atlético Mineiro, por exemplo, acaba de ganhar a Libertadores, mas o seu balanço financeiro é negativo. Se o clube não tivesse sido campeão o time seria desmontado imediatamente e ficaria alguns anos na penúria esportiva.

RÉPLICA DE ÊNIO PADILHA

Caro Jean
Quando eu disse (no início da Parte 1) que corria o risco de não ser bem sucedido estava me referindo a isso mesmo: é muito difícil fazer essa comparação com 100% de acerto.

Infelizmente os clubes de futebol, no Brasil principalmente, não são administrados de forma racional. São administrados com uma mistura explosiva de paixão e corrupção (salvo raríssimas excessões). Por isso os resultados são tão oscilantes.

Mas... quando falamos em Clube de futebol deixamos claro o que eles querem (deveriam querer) "sem paixões". Do ponto de vista administrativo, ser campeão não deveria ser o único objetivo de um clube.

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