VUVUZELAS x CAXIROLAS
(Publicado em 25/08/2011)
Durante a última copa do mundo, na África do Sul, eu escrevi, aqui, que eu esperava da torcida africana um verdadeiro espetáculo de sons e coreografias, pois trata-se de um povo em que o ritmo e a musicalidade estão no DNA.
Sonhei com os batuques, com as danças e com as cantorias tribais. E fui acordado com um barulho infernal de cornetas baratas sopradas freneticamente pela ala medíocre da torcida. Digo medíocre porque "tocar" vuvuzela não exige nenhum talento. E todos sabemos que talento artístico os africanos têm. E não é pouco.
Desde que eu me lembro de acompanhar competições esportivas, não me lembro de algo mais horroroso do que o som das vuvuzelas. Você ligava a TV e lá estava aquele zumbido monocórdico e interminável.
Se o time está na defesa a torcida faz BZZZZZZZ; se o time vai para o ataque, BZZZZZZZZZZZ; acontece um gol: BZZZZZZZZZZZZZZ; termina o jogo: BZZZZZZZZZZ. Você ficava sem saber pra quem o estádio estava torcendo. Ficava totalmente sem graça.
Interessante é que, olhando com atenção, percebíamos que menos de 10% dos torcedores utilizavam as malditas cornetas. E conseguiam suplantar toda a beleza que é o som de uma torcida num estádio de futebol.
A Vuvuzela foi, na minha opinião, a vitória da mediocridade sobre a criatividade!
Felizmente essa praga não veio para o Brasil!
Mas ontem fui surpreendido com a notícia de que o Brasil terá a sua Vuvuzela. Chama-se Caxirola. E foi inventada pelo músico baiano Carlinhos Brawn
Trata-se de uma adaptação do caxixi, instrumento percussivo de origem africana que acompanha o toque do berimbau nas rodas de capoeira. De acordo com o Carlinhos Brown, seu invento, uma espécie de chocalho, ainda está sendo aperfeiçoado, mas estará pronto para tomar os estádios daqui a três anos.
Então quero declarar aqui que a caxirola tem o meu voto de confiança. A minha confiança está no talento do seu criador. Tenho a esperança de que ela não será outra Vuvuzela. E que o Brasil possa dar uma lição ao mundo de como uma torcida pode fazer a diferença no espetáculo que é uma partida de futebol.
PADILHA, Ênio. 2011
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