POR QUE É QUE A GENTE É ASSIM ?

Este artigo foi publicado em 14/FEV/2002. É um dos meus artigos mais lidos e replicados, tanto na internet como em jornais e revistas (papel). É também, de longe, o artigo mais comentado, tendo recebido muitos elogios e também muitas críticas.

AVISO IMPORTANTE AO LEITOR: este artigo não representa nenhuma VERDADE ABSOLUTA, como alguns leitores fazem parecer. Trata-se apenas de uma leitura que eu fiz da realidade, em fevereiro de 2002. Já se passaram mais de 10 anos e algumas dessas coisas até já mudaram (tenho notícias de que, em algumas escolas, este artigo foi o motor de algumas mudanças. Isto me deixa muito orgulhoso, sem dúvida).

Agradeço muito a sua disposição de ler o artigo, mas peço que o faça com moderação. Os dois extremos (acreditar que tudo o que está escrito é a mais pura verdade ou acreditar que nada do que está escrito merece atenção) são perigosos e inconsequentes.
Boa leitura:





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POR QUE É QUE A GENTE É ASSIM?
É na Escola de Engenharia que começa a ser destruída a nossa auto-estima. É na Escola de Engenharia que começa a ser forjado o nosso comportamento autodestrutivo, nosso desprezo pelos valores da própria profissão, nosso desgosto com a nossa própria atividade profissional. É na Escola de Engenharia que nasce a nossa falta de coragem empresarial e essa submissão inaceitável aos caprichos dos clientes.

Engenheiros, Médicos, Arquitetos, Advogados, Agrônomos, Dentistas...
Uma coisa leva à outra: toda vez que, numa conversa qualquer, o assunto “comportamento no mercado” vem à tona acabamos caindo nas inevitáveis comparações de engenheiros, arquitetos e agrônomos com médicos, dentistas e advogados...

Quando me perguntam o que eu acho disso (dessa comparação de profissionais tão diferentes) respondo sempre a mesma coisa: acho que essa comparação é JUSTÍSSIMA.
Se eu, engenheiro, por qualquer motivo, tiver de ser comparado com outros profissionais, acho muito justo que seja com médicos, com dentistas ou com advogados. Afinal temos muito mais coisas em comum do que diferenças. Somos todos prestadores de serviços. Nosso produto (nosso serviço) é altamente especializado e todas essas atividades demandam profissionais com capacidade intelectual diferenciada. Ninguém chega a ser médico, advogado, dentista, agrônomo, arquiteto ou engenheiro apenas por ter um belo par de olhos, uma voz doce, algum dinheiro no banco ou um padrinho influente... A conquista de qualquer um desses títulos demanda qualidades e habilidades especiais, muito estudo e empenho (às vezes até muitos sacrifícios).

Temos, é verdade, muitas semelhanças, quando a comparação é feita no nível da qualificação. Porém, no exercício das profissões e no comportamento empresarial de cada grupo as diferenças aparecem e são enormes. Neste texto concentramos nossas reflexões sobre a formação dos profissionais de Engenharia. No entanto, nossa experiência e a convivência com milhares de arquitetos e agrônomos dos mais distantes lugares do Brasil nos permitem acreditar que os conceitos podem se estender sem problemas também para esses profissionais. Voltemos no tempo.

Voltemos ao tempo em que essa pessoa (que hoje é um engenheiro) tinha seus quinze, dezesseis anos, um ou dois anos antes do vestibular. Esse moço ou essa moça é, muito provavelmente, um dos melhores alunos da sua sala (talvez da escola). É um expoente estudantil, requisitado pelos colegas, elogiado pelos professores, respeitado pelos pais (de quem é motivo de muito orgulho) valorizado pelos parentes, pelos vizinhos, admirado pelas garotas (ou garotos).

Comparemos nosso amiguinho com o estudante de quinze ou dezesseis anos que virá a ser médico, dentista ou advogado.

Veremos quase nenhuma diferença.

É isso mesmo. Na origem, são todos iguais. Têm o mesmo perfil, a mesma história, o mesmo rendimento. Todos são brilhantes e bem sucedidos.

Vem o vestibular. Ingressa, cada qual, na faculdade que escolheu... E é aí que as diferenças começam a aparecer. Os estudantes de medicina e de odontologia são enquadrados em um ambiente novo, com pessoas que se vestem de uma maneira diferente, se comportam de uma maneira diferente e que estabelecem uma identidade visual (e, por decorrência, uma identidade psicológica) com a atividade profissional que irão exercer alguns anos depois.

Os estudantes de direito, já nos primeiros meses de escola convivem com professores que vêm para as aulas de terno, gravata, sapato social, barba feita ou bem cuidada. E o mais interessante: aqueles senhores e senhoras respeitáveis, bem vestidos e de fina educação (os professores), tratam os seus alunos por “senhor” ou “senhora”, com toda a fineza e educação que a prática profissional recomenda. E estimulam seus alunos a acreditar e se convencerem de que são superiores. Que estão se preparando para “falar com o Estado” (privilégio que não é concedido a nenhum outro profissional...). Enfim, aprendem que precisam respeitar os outros, mas aprendem, antes de tudo, que precisam exigir respeito para si.
Nos últimos anos de faculdade, estudantes de odontologia e medicina já se vestem como se médicos ou dentistas fossem. Freqüentam clínicas e atuam como profissionais na área da saúde. Assumem, enfim, um ou dois anos antes de terminada a faculdade, todo um comportamento típico de médico. De dentista.

Os estudantes de Direito, por sua vez, a partir da Segunda metade do curso, já se vestem como advogados (roupa social, sapato, eventualmente gravata e um terno ou blazer...). Mantém com os seus professores e com os seus colegas um comportamento e um vocabulário apropriados para as lides jurídicas. E, o mais importante: são tratados, pelos seus professores, como Doutor. (Dr. Fulano, termine seu relatório até a próxima aula. Dr. Sicrano, esteja preparado para a prova final, na sexta-feira.). Apesar de ainda não terem concluído o curso.

Os estudantes de engenharia, ao contrário, a partir do início do curso, a única diferença que eles conseguem perceber na faculdade, em relação ao ensino médio é o grau de dificuldade (que simplesmente quintuplica!).

Não existe nenhum estímulo a um comportamento novo, nenhuma referência, um exemplo positivo de comportamento. Nenhuma motivação para um desenvolvimento psicológico alternativo. Nenhum elemento que interfira na formação do profissional do ponto de vista da sua imagem física composta de aspectos visuais e comportamentais. A vida social, no ambiente da faculdade, é muito restrita, quando não inexistente.

Além do mais, a faculdade entra na vida desses jovens como um elemento de ruptura. Os alunos são colocados em uma condição a que eles não estavam acostumados. Estavam acostumados a tirar notas máximas com a maior facilidade e, de repente, passam a sofrer e ter grandes dificuldades para obter notas mínimas ou médias. Deixam de ser respeitados pelos seus professores que se tornam distantes e autoritários e perdem a admiração dos colegas que estão todos desesperados tentando se salvar de uma coisa que ainda não estão entendendo direito.

Não que as faculdades de medicina, direito ou odontologia sejam fáceis. Ocorre que lá os estudantes têm compensações psicológicas que os estudantes de engenharia não têm. Essas faculdades, por diversos mecanismos, inexistentes nas escolas de engenharia, dão continuidade ao amadurecimento psicológico e social do futuro profissional. E, com isto, mantêm em alta a motivação e auto-estima dos seus estudantes.
Na engenharia não existe nenhum processo de acompanhamento psicológico para aquele estudante desesperado que teve a sua carreira de sucesso estudantil subitamente interrompida (mesmo os alunos que continuam conquistando notas altas, acabam sentindo a falta do aplauso dos colegas, do respeito dos professores e da admiração coletiva). E não existe ninguém para explicar o que está acontecendo. Ninguém para dizer a este estudante que ele não é tão inepto ou incapaz como, algumas vezes os professores parecem querer provar.
É quase geral, por parte dos professores, nas escolas de engenharia, a manifestação desnecessária de superioridade intelectual, o exercício gratuito de poder e o terrorismo psicológico.

E o estudante, que entrou na faculdade no auge positivo da auto-estima, vai recebendo, ao longo de cinco anos, das mais variadas formas, uma única mensagem: “Você não é tão bom quanto você pensava que fosse !”.
Ao contrário dos estudantes de direito, medicina ou odontologia, que têm como professores, profissionais que atuam no dia-a-dia de suas atividades, os estudantes de engenharia passam cinco anos submetidos aos rigores (e, em alguns casos, caprichos) de engenheiros que não atuam, profissionalmente, como engenheiros e sim como professores, e que, portanto, não têm a vivência da atividade profissional e não têm a ciência ou a consciência das relações comerciais que vão definir o sucesso ou o fracasso dos profissionais que eles estão formando.

Como resultado disso, ao final de cinco anos, o estudante de engenharia se transforma em um engenheiro. E este engenheiro é completamente desprovido de auto-estima, de respeito próprio, de prazer profissional ou de consciência de mercado. Na metade do último semestre da faculdade, dois meses antes de receber o diploma e ser entregue aos leões do mercado, o estudante de engenharia ainda é tratado como mero es-tu-dan-te.
Em momento algum, durante a faculdade, o estudante de engenharia é tratado como engenheiro, em momento algum, durante esses cinco anos, a escola propicia a percepção da mudança de condição de estudante para a condição de profissional.

Estudantes de direito, medicina e odontologia, ao contrário, muito antes do fim da faculdade já têm uma noção razoavelmente clara das dificuldades do exercício profissional que eles irão enfrentar. Com isso vão desenvolvendo mecanismos psicológicos de defesa e saem da faculdade com maior grau de segurança. Entram no mercado profissional de cabeça erguida, com uma consciência de valor. E com todo o processo de construção da imagem profissional em andamento. Estudantes de engenharia não são estimulados a se vestir bem, nem a ter preocupações com técnicas de comunicação ou relacionamento social ou de exercício intelectual não linear. Com isso acabam não desenvolvendo habilidades gerenciais ou de relacionamento com o mercado.
Esta é uma das razões pelas quais as organizações de engenharia são, quase sempre, extremamente burocráticas e conservadoras.

Engenheiros (ao contrário de advogados, médicos e dentistas) não comandam seu ambiente de trabalho. Por mais que detenham o conhecimento e a técnica, os engenheiros são, via de regra, pouco influentes em relação ao produto final, seja uma construção, uma instalação, um empreendimento complexo ou um processo produtivo.

O mais lamentável é que os engenheiros, via de regra, só vão perceber os resultados da negligência com a imagem física, a comunicação não-verbal e o comportamento no mercado, depois de já terem acumulado muitas perdas desnecessárias (algumas das quais, infelizmente, irreversíveis).

E qual é a utilidade desse discurso? Qual a importância de se colocar este tema no papel? Porque tornar pública esta opinião, que, com certeza aborrecerá alguns segmentos? Ninguém é ingênuo a ponto de acreditar que a simples leitura deste ensaio leve um diretor de escola de engenharia, um professor, um estudante ou um profissional de engenharia a alterar o seu comportamento. O que se espera é que essas pessoas, a quem o texto é dedicado, tenham um momento de reflexão. E que a esse momento de reflexão se siga uma atitude. E que essa atitude tenha como objetivo dar um futuro melhor para a engenharia no Brasil.

A engenharia depende dos engenheiros. E os engenheiros começam a ser formados aos quinze ou dezesseis anos, ainda no ensino médio.
Eu ainda acho, como sempre achei, que o conhecimento científico que é transmitido aos estudantes durante a faculdade de engenharia é fundamental. E que o valor da engenharia está sustentado na capacidade intelectual e técnica dos seus profissionais.
No entanto, vejo como importantíssima uma nova visão, nesse processo de formação do engenheiro, que leve em consideração todo o relacionamento social dos estudantes entre si e com os seus professores. É importante que, aos estudantes, seja transmitida uma visão mais clara das relações comerciais que eles enfrentarão na vida profissional, seja na condição de profissionais autônomos, empresários ou empregados em alguma empresa.

Em qualquer um desses casos as relações sociais são elementos definitivos para o sucesso. É um “detalhe” que faz toda a diferença.
O estudante chega ao curso de Engenharia cheio de sonhos com a auto-estima elevada, transpirando confiança e auto-respeito. É muito triste que, dez ou quinze anos depois esse potencial tenha se transformado em um sujeito cabisbaixo, sem consciência de valor, destituído de auto-estima e respeito próprio. Abrindo mão da sua natural vocação de agente do desenvolvimento para ser mero instrumento de trabalho para terceiros.
Na Escola de Engenharia o engenheiro precisa ser “construído” para ser um vencedor. Precisa ser estimulado a acreditar no seu potencial. Confiar na sua inteligência. E, acima de tudo, precisa aprender a importância de manter a cabeça erguida.





PADILHA, Ênio. 2002





Clique aqui e leia o comentário do professor Weber Figueiredo




(Este artigo foi incluído no livro VALORIZAÇÃO PROFISSIONAL - Artigos e ensaios sobre a Valorização Profissional de Engenheiros e Arquitetos (lançado em 2011) onde este tema é melhor explorado e outras questões relativas ao tema são tratadas com maior profundidade)



Comentário #1 — 06/09/2006 13:08

Egydio Hervé Neto — Engenheiro Civil — Porto Alegre

Caro Ênio: Já havia lido, tempos atrás, este seu artigo. Outro dia conversava com um colega e relembrávamos aquelas aulas de Física, à noite, no inverno rigoros dos gaúchos, no imenso auditório da UFRGS. "Uma carga pontual encontra-se em um campo magnético...". Coisa incrível! Havíamos estudado no Científico aquele livrão de Física (não lembro a autoria) e depois, no primeiro esegundo ano de Engenharia tínhamos que estudar nos dois livrões (Física I e II) do Hollydai-Resnicks (lembro do nome, não como se escreve, são 40 anos de memória!). Daí pode-se imaginar muitodo massacre de que falas em teu artigo. Não havia nada que nos fizesse sentir melhores. Mesmo com notas máximas em algumas provas, ficáva-nos a sensação de "sorte", não de conhecimento... Era a famosa "lavagem cerebral" de que os Engenheiros tanto se queixam: "estudei horrores de coisas que nunca apliquei!" dizem os mais experientes. De fato. Aquilo serve para nos "abrir a mente a machadadas!".

Este poderoso instrumento para fortalecer a nossa mente e transformar-nos em um Engenheiro - o estudo forte e obsessivo com poucos resultados práticos imediatos e até mesmo com certo "cheiro de fracasso" - é ralmente eficaz. Nada afasta um Engenheiro de seu objetivo. Nenhuma profissão cria tão fortes e obsessivas personalidades que perseguem os resultados não em busca do sucesso, mas, sim, em busca do acêrto, do resultado correto. Nós somos assim! Engenheiros são assim! Mas isto, que deu certo e despertou admiração e respeito durante tantos anos, não está servindo mais! Será? Mas é verdade! Nós Engenheiros estamos tão acostumados a lutar e encontrar um resultado certo para as nossas realizações profissionais, que não nos preparamos para o fracasso social! Do alto de nosso pedestal, sólidamente construído sobre uma base inexpugnável, não percebemos que as pessoas foram se afastando, procurando meios mais fáceis de lidar com a vida e os Engenheiros,esses são muito "exigentes"...

Realmente, não lidamos com as pessoas de modo a valorizar as suas idéias. Nãolidamos com as pessoas de modo a "mantê-las no comando" de suas idéias, de suas necessidades,de seus desejos. Qualquer corretor sabe o que mais "vende" em matéria de moradia, escritório, terreno, indústria. Mas o Engenheiro não está preparado para isto. Para qualquer solicitação tem uma iéia própria, exata e "melhor" para o seu cliente, mesmo que esta idéia não seja o que o cliente quer. Mas "será que o cliente sabe o que quer?" pensamos. Dentro de nossa visão própria e universalista não há espaço para errar, não há espaço para opiniões que não atendam ao nosso objetivo. Não fomos preparados para um mundo que deseja criar, errar, liberdade, diálogo, poder. O "poder" é o que as pessoas mais necessitam hoje! Lidar com um Engenheiro, pasmem é renunciar ao poder sobre seus próprios desejos, seus próprios sonhos! Será que somos assim? Sim, como muito bem coloca Ênio Padilha, falta-nos o item "relações sociais".


Sim, em nosso curso não fomos orientados a obter o sucesso junto com a sociedade. Não fomos respeitados e assim não aprendemos a respeitar. Nossos professores nada sabem de estima, cortesia, relações sociais? Lógico! São Engenheiros!?! Lidaram com o mesmo tipo defrustração, adquiriram esta síndrome da "auto-estima deficiente" aliada a um conhecimento desproporcionalmente profundo e lidam com isto como quem usa um remédio forte demais para curar uma doença e criam outras em seus "pacientes" (clientes) afastando-os. Passamos então a ser entendidos como uma "necessidade legal", não como uma solução adequada. E aí - "perdoai-os Senhor eles não sabem o que fazem" -, os "canetinhas" e outras soluções corruptas, sempre presentes como parte do "jeitinho brasileiro", crescem e florescem a olhos vistos nesta sociedade prática e amoral. Então como lidar com isto?

Comentário #2 — 21/09/2006 13:46

Helton Moraes — Médico do Trabalho — Porto Alegre

Achei bastante interessante este texto, contendo vários pontos sobre os quais é válido refletir, e também tenho vários pontos dos quais me sinto inclinado a discordar.
Sou médico do trabalho formado pela FFFCMPA há 4 anos, mas por questões pessoais, como personalidade e vocação, estou cursando o segundo ano de engenharia mecânica, na UFRGS, curso do qual estou gostando muito.
Um dos motivos é que, ao contrário da faculdade de medicina, a aura de \"pompa\" e o empolamento típico dos professores de medicina e direito desaparece, e, como falaste em teu texto, exceto pelo abismo tem termos de dificuldade e rigor do conteúdo e avaliação, a diferença com relação ao ensino médio é menos evidente.
Senti durante minha primeira faculdade, de medicina, especialmente na segunda metade do curso, que o professor médico é muito mais professor do que médico, e está dando aulas movido por certa vantagem mercadológica em ser professor.

E por uma vantagem mais mercadológica do que acadêmica na formação de seus futuros "colegas de profissão". Por outro lado, creio que o aluno de engenharia se beneficie muito de professores que se dedicam à arte de ensinar, e com isso são menos propensos a falhas de didática, instabilidade de horários (com os conseqüentes atrasos ou ausências), desatualização dos conteúdos e indisponibilidade para atendimento fora do horário de aula. Creio que o talento para fazer e o talento para ensinar são independentes, e dentro do tempo limitado de que se dispõe no cotidiano, diria que é bastante raro o talento para fazer bem as duas coisas simultaneamente.

Eu destacaria, no curso de medicina, ao menos sob meu ponto de vista, que os "mecanismos de amadurecimento" do aluno, em direção a uma vida profissional, são em grande parte, baseados na baixa tolerância ao erro, ao comportamento competitivo e "julgador" dos colegas, e de grandes doses de terrorismo psicológico e exibições abusivas e desnecessárias de erudição acadêmica por parte dos professores. Como ainda não concluí o curso, não tenho uma amostra significativa de exemplos de professores engenheiros, mas nota-se que estão mais dispostos a interagir com os alunos e orientá-los, a não sonegarem conhecimento, e a se interessarem pelo aprendizado de fato. Considero bastante justa a avaliação rigorosa, pois a tolerância ou brandura na avaliação é porta de entrada para o mau profissional no ambiente de trabalho.

Para concluir, creio que o choque causado pela "síndrome do ex-melhor da turma", e as dificuldades de contato social, muitas vezes causadas pelo ego inflado e pela necessidade de auto-afirmação intelectual como forma de compensar a inabilidade social (mal de que os engenheiros costumam, em vários níveis, padecer), além do afastamento necessário para os estudos, estejam muito associados à imaturidade pessoal com que os alunos de engenharia, via de regra, ingressam no curso. Isso pode ser também estendido para outros cursos difíceis, como direito e medicina, por exemplo. Acredito que os estereótipos que citaste em teu texto (advogados e médicos sérios, bem arrumados, e ao mesmo tempo altivos e fleumáticos, quando não arrogantes, em oposição a engenheiros alienados e com obcessão pelo detalhe técnico) são frutos do fenômeno que se observa sistematicamente em nossas universidades, que é a personalidade se moldando ao ambiente acadêmico.

Ao invés disso, o meio acadêmico deveria servir como um complemento profissionalizante da personalidade em desenvolvimento, personalidade essa que de forma alguma deveria ser marcada pela machadada acadêmica como uma árvore é permanentemente deformada por um raio.
Creio que alunos mais maduros (leia-se mais velhos e menos pressionados a entrar no meio universitário a qualquer custo e o mais rápido possível), com adequado ambiente familiar, com mais experiência de vida e de trabalho, e especialmente com uma orientação vocacional - e métodos de seleção para o ingresso no curso - que não priorizem a capacidade intelectual e o valor de mercado sobre a motivação, o interesse e o talento pessoais, teriam mais condição de perceber que a idéia de "estarem sendo obrigados a aprender coisas que nunca vão usar" é totalmente equivocada, e que o verdadeiro conhecimento não reside em depositar na cabeça todo o avassalador volume de informação recebido em um curso de engenharia mas sim em saber o que fazer com esse conhecimento, que pode (e deve, na maior parte das vezes) permanecer nos livros e tabelas.

Comentário #3 — 21/09/2006 16:16

Ênio Padilha — Engenheiro Eletricista — Balneário Camboriú

Prezado Helton

Seja muito bem-vindo ao nosso site. E seja bem-vindo, também, ao mundo da engenharia.

Seus comentários são muito inteligentes e devem ser (e serão) analisados com muito carinho.

De qualquer forma, tente se imaginar entrando no curso de engenharia sem a maturidade e a auto-estima decorrente do fato de o senhor já ser médico.
A sua leitura da situação certamente não seria tão lúcida.
O desespero e a insegurança certamente tornariam as coisas mais complicadas

Quanto a este artigo, estou desenvolvendo um grande estudo sobre este tema. Provavelmente resultará em uma publicação que (eu espero) seja bastante consistente.

Nesse estudo o pressuposto básico é o seguinte: 'Não é só isso'. Ou seja,este artigo apresenta apenas um recorte dessa realidade e ajuda a explicar apenas uma parte do todo.

Muitas outras questões precisam ser consideradas. Questões, por exemplo, como essas que o senhor colocou no seu comentários.

Nesse meu trabalho eu vou dedicar alguns capítulos aos profissionais que, além de terem cursado Engenharia tenham também cursado Direito, Medicina ou Odontologia, exatamente para tornar a visão um pouco mais abrangente.

Espero concluí-lo até o final do ano que vem. E espero poder contar com a sua ajuda.

Abraço e volte sempre.

Comentário #4 — 25/09/2006 13:01

Helton Moraes — Médico do Trabalho — Porto Alegre

Caro Ênio

Percebo que, como não poderia deixar de ser, os tópicos abordados pelo senhor constituem uma parcela de um panorama bastante abrangente, e que se não são regra, representam um fenômeno que acomete uma considerável proporção de estudantes e profissionais.

Estou à disposição para qualquer colaboração sobre o assunto que venha a ser útil.

Helton Moraes

Comentário #5 — 05/05/2007 14:24

Marcus Vinícius — Engenheiro Eletricista — Goiânia

Caro Ênio Padilha,

Sem maiores delongas, parabenizo-o pelo artigo. É exatamente assim que me senti/sinto. Suas palavras esmiuçaram - com uma riqueza de detalhes embasbacante - o que ocorre aqui na Escola de Engenharia Elétrica da Universidade Federla de Goiás (e em todo país). Aqui em Goiás, onde muitas pessoas ainda confundem "engenheiro" com "eletricista", a situação é triste, pois além do nosso estado estar fora dos grandes centros tecnológicos, ainda existe um ranço provincianista de que o aluno deve "sofrer para aprender". Somos desestimulados a não questionar e estimulados a tapar os olhos diante das mudanças.
Parece até que o Sr. veio aqui e fez um estudo aprofundado de nossa situação. Com sua permissão, repassarei o link deste artigo para a Coordenação de Curso, pois seu artigo é mais que um desabafo, é um manifesto a favor de milhares de estudantes, que assim como eu, sentem-se desmotivados após cinco anos de sofrimento e não de aprendizado.

Comentário #6 — 08/07/2007 20:25

Flavio Kodama — Engenheiro Computacional — Sao Paulo / Campinas

Artigo e comentarios excelentes.
Gostaria de frisar o comentario de Marcus Vinicius e o que ocorre de confundirem engenheiro eletrico com eletricista tambem ocorre de se confudir engenheiro/cientista computacional com um mero tecnico. Muito provavelmente essa confusao de ideias que se tem de profissionais de nivel superior ocorrem em larga escala em diversas areas.
Assim como pessoas comuns acham que qualquer medico resolve qualquer enfermidade ou qualquer advogado resolve qualquer processo, enfim. O que temos aqui é um problema da sociedade. Acredito que ao inves de forcar as pessoas a escolherem tao precipitadamente suas profissoes antes de ter uma visao sobre o mundo o ensino media deveria ser prolongado, assim como retardado o ingresso numa instituicao de ensino superior, assim poderia-se tanto aprender mais a respeito de outras profissoes(mundo) como tambem saber como/ onde/ quando requisitar servicos de tal necessidade. Caso isso nao venha a ocorrer continuaremos a ver se aprofundar alguns problemas como: a visao da sociedade de que é necessario ter conhecimento de engenharia para poder ser eletricista, é necessario ter conhecimento de farmacia para se vender remedios, é necessario ter conhecimentos contabeis para ser caixa de banco, é necessario ter conhecimento de advocacia para ser office-boy, é necessario ter conhecimentos computacionais para consertar falhas do windows.

O fato é que nao sabemos o que cada profissao faz realmente. Mas uma coisa é certa, um egenheiro é formado para projetar e nao assinar, consertar ou administrar. Coisas que veem acontecendo aos recem formados. Eles tem apenas tem tomado empregos de pessoas com ensino tecnico. O diploma se tornou apenas para ingles ver.

Comentário #7 — 09/07/2007 11:49

Pai de um estudante de Engenharia — Desembargador — São Paulo

...

O comentário feito pelo leitor acima foi bloqueado, em função do ANONIMATO, que não é autorizado pelo nosso site.
Caso o leitor se identifique, teremos o maior prazer em publicar o seu comentário

Ênio Padilha

Comentário #8 — 09/07/2007 13:59

Josadarck Tomaz Coutinho — Estudante de Engenharia Computacional — Campinas

Essa preocupação prévia de quem está se formando é mais típica para aquele que está com a cabeça vazia, do que propriamente aquele que se encontra mergulhado nos estudos e preocupado em apreender cada vez mais. Jalecos e o título precoce de doutor não assinam diplomas nem qualificam ninguém a nada. Fosse assim, imagine a personalidade do milico, que entra na academia é, como cadete, é tratado como "bicho", depois, com o passar dos anos, sempre vendo pela frente alguém com uma "patente" superior. Forma-se como aspirante, mas tem o tenente; é promovido a tenente, mas tem o capitão; chega a capitão, tem o major; já major, bate continência para o tenente-coronel e assim por diante.

O bacharelando em direito, embora vista terno e gravata e seja chamado pelos professores de doutores, na vida real, fora da faculdade, são, como se diz no linguajar forense, "escraviários", e desempenham, para os escritórios, verdadeiro papel de office-boys; os médicos e odontólogos, com seus jalecos brancos, na vida real, são massacrados pelo turnos das residências, péssima remuneração (também comum aos alunos de direito), e a triste visão da realidade dos desdentados e dos prontosocorreos de periferia. E os engenheiros? Aqueles que realmente estudaram e se dedicaram ao aperfeiçoamento técnico, estão é nos grandes escritórios, trabalhando nas grandes construções; estão nas hidroelétricas, na microsoft, na google etc. Talvez nem usem jalecos nem sejam chamados de doutores. Mas, certamente, estão enbevecidos com suas realizações; e o dimdim está nas contas bancárias. O resto é bobagem.

Comentário #9 — 11/09/2007 14:14

Lia Mara Fischer Pereira Knebel — Engenheira de Segurança do Trabalho — Florianópolis

O que vimos é que o Construtivismo da Pedagogia Moderna passou longe das escolas de engenharia.Fomos bravos guerreiros capazes de entender cálculos diferencias e integrais, mecânica dos fluidos, equações diferenciais...e, de tão ocupados em conseguir resolver provas difíceis, fomos nos fragmentando. Perdemos até a noção do "nosso todo" pessoal, já que nos dividíamos em cronogramas de estudos. Nosso raciocínio lógico foi usado para questões pontuais em sua capacidade máxima, mas ficamos com muitas dificuldades em integrar os conhecimentos. Houve uma falha pedagógica. Depois buscamos compensá-la com cursos de Gestão Empresarial, de Negociação, de Gestão de Pessoas, de Oratória...(que bom que eles existem!)
Talvez, devido a essas dificuldades é que foram criados os cursos superiores sequenciais e os superiores de tecnólogos, para conseguirem delimitar a área do conhecimento e facilitar a visão do "todo".
As escolas de engenharia precisam de uma grande reavaliação pedagógica.

Comentário #10 — 17/06/2008 16:54

Nayara Teixeira Rocha — Estudande de engenharia civil! — Chapecó!

hj voltei a ler...e como sempre chorei muito!!!
Mandei para várioas amigos meus do curso...acho que nós merecemos parabens por toda a nossa força pra seguir em frente!!!
Como já dizia na "carta a oswaldo montenegro"..."...Que a força do medo que tenho não me impeça de ver o que anseio,que a morte de tudo em que acredito não me tape os ouvidos e a boca,pq metade de mim é o que grito,mas a outra metade de mim é silêncio..."..."Que as palavras que eu falo não sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervor,apenas respeitadas como a unica coisa que resta a um homem inundado de sentimentos, pq metade de mim é o que ouço,mas a outra metade de mim é o que calo,que essa minha vontade de ir embora se transforme na calma e na paz que eu mereço,e que essa tensão que me corrói por dentro seja um dia recompensada,pq metade de mim é o que penso,mas a outra metade é um vulcão!!!que o MEDO da solidão se afaste e que o convívio comigo mesmo se torne ao menos supportável..."

Comentário #11 — 17/06/2008 16:58

Nayara Teixeira Rocha — Estudande de engenharia civil! — Chapecó!

"...que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso que eu me lembro ter dado na infância,pq metade de mim é lembrança do que FUI, a outra metade eu não sei...que a ARTE(nossa arte de engenhar)nos aponte uma resposta,mesmo que ela não saiba,e que ninguém tente complicar pq é preciso SIMPLICIDADE para fazê-la florecer...."Enfim que minha loucura seja perdoada pq metade de mim é amor e a outra TBM!!!

Apesar de tudo amo muito o que faço...e eh esse amor que me leva à frente!

Comentário #12 — 28/08/2008 14:26

Mauricio Souza Fishe — engenheiro químico — Natal/RN

O artigo é muito realístico. Sou engenheiro químico formado pela UFRJ há pouco mais de uma década. Vi colegas que eram "zero um" do ITA ficarem 7 anos ralando para conseguir se formar na "Escola de Química" da UFRJ. Eram "gênios" e se tornaram alunos "fracos". Na prática a sequela na auto-estima foi feita, mas por outro lado estávamos nivelados por cima!!! Sou muito critico e afirmo com todas as letras: não aprendi a ser um bom engenheiro na faculdade, mas aprendi a ser um excepcional "fazedor de provas". Menos de 10% dos meus colegas de turma trabalham com engenharia. Porém graças a "ralação" hoje há colegas auditores fiscais da receita, oficial do quadro complementar da marinha, peritos da Policia Federal, engenheiros da Petrobras ( a salvação de muitos!!!rsrsrs), Analista do banco central, policia rodoviario federal, enfim, falou em passar em concurso? Todo mundo passou em algum!!! rsrs De toda forma, o ensino de engenharia deve ser revisto !!! Parabéns pelo excelente artigo.

Comentário #13 — 05/10/2008 17:47

Liliane — estudante de arquitetura — Palmas

Sou estudante de arquitetura e urbanismo e sinto também que há um grande desrespeito pelo aluno. No nosso curso nao temos tantos cálculos, por isso o massacre da auto estima acontece nas aulas de projeto. Voce chega com o projeto em sala para ser orientado pelo professor, ele ve que está bom e pede pra vc mudar tudo por causa de um mínimo detalhe que nao compromete o projeto como um todo. Entao vc quebra a cabeça passa madrugadas tentando fazer o que ele pediu sem perder a graça do projeto, quando chega na sala de aula e mostra, eles acabam com seu trabalham te chamam até de preguiçoso.
Já aconteceu de professores detonarem tanto meu trabalho que pensei em parar com o curso acreditando que nao tinha criatividade ou dom para a profissao, entao um profissional por acaso olhou o trabalho e achou o máximo e que se fosse construído aqui na nossa cidade seria uma quebra de paradigmas. Aos poucos os alunos começam a se sentir incapazes, meio deprimidos.
Sineramente acho ue a funçao de muitos professores é esta mesmo: detonar a auto estima dos alunos, afinal quem pode ser um bom profissional se nao acreditar em si mesmo... Acho também que os professores universitarios deveriam ser escolhidos nao só pela quantidade de títulos que tenham mas pela capacidade de encaminhar as pessoas a um futuro de realizações. Afinal o professor tem muita influencia na vida de seus alunos.

Comentário #14 — 10/10/2008 20:24

Rodnei Medeiros — Designer — São Paulo

Na minha opinião, o caráter de cada indíviduo tem características que são imutáveis, e outras, que aperfeiçoamos, ao lidarmos com exemplos de virtudes, em casa, na escola, na universidade, no trabalho.
Os valores básicos, como amor á família, honestidade, honra, respeito, estes são como a rocha, estes, dificilmente se quebram. Algumas pessoas não possuem estes valores básicos, mas, simplesmente por falta de exemplos honestos. Quanto a falta de autoestima, eu diria, que a vida nos faz sermos como o bambu. Extremamente flexíveis, hora nos vemos como aprendizes, sujando a mão no barro, própriamente dito, deitando ao chão, ao sabor do vento, realmente deitado ao solo nas tempestades, mas altivo, calmo e verdejante nas calmarias. Porque mesmo com todas as dificuldades, a autoestima sempre se eleva ao percebermos que estamos no caminho certo, cercado de valores imensos e maravilhosos, como a família, amigos, trabalhando honestamente e com dignidade.

Comentário #15 — 16/03/2009 22:32

felipe alencar — eng.eletrica — belém

aí sensacional esse texto..estou no 1° ano do curso de eng..eletrica na ufpa..antes de entrar no curso varias pessoas perguntaram pra mim no vest.."q curso vai fazer"respondia eng.eletrica,eles repentinamente falavam"aí tu és doido"...cara tds tem a imagem de q eng. é doido.relaxado..por justamente não haver um modo de vestimenta...me falaram antes de entrar no curso q é impossivel sair da faculdade de eletrica sem repetir nenhuma materia...q os professores são ruins.estou entrando no curso extremamente consciente do q vou enfrentar,porém muito intusiasmado...

Comentário #16 — 25/03/2009 01:16

Carlos Andrade Neto — Estudante de Eng. Elétrica-UFV — Viçosa-MG

De fato os cursos de engenharia são bastante puxados, porém ainda não havia parado pra pensar nessa questão da influência psicológica no estudante de engenharia.

Eu estou no 5ºsemestre do curso de eng. elétrica e de fato minha auto-estima não é a mesma de quando era calouro. Parece inevitável para todo estudante que ele sempre levará "pau" numa matéria específica do curso se este não se esforçar o suficiente pra merecer passar.

Depois de ler este artigo, minha mente com certeza abriu mais para o assunto. É evidente a falta de motivação nos professores das engenharias em geral. Talvez a raíz do problema esteja na história da sociedade brasileira. É fato que, aqui no Brasil, Direito e Medicina são os cursos de maior status. E a engenharia? Vai bem, obrigado.

Comentário #17 — 26/03/2009 19:34

Alberto Lima — Engenheiro Eletricista — Belém-Pa

Perfeito, o seu texto!
Principalmente a exposição da posição arrogante do corpo de professores dos cursos de engenharia. Mais preocupados em se auto-promoverem, do que ensinar, só que o mercado cobra caro por isso, e muitos professores viram o espelho de seus alunos!
Cheguei a ficar com "inveja branca" dos médicos e advogados! (risos!)

Comentário #18 — 26/03/2009 20:58

Luiz Felipe — Estudante de Engenharia Elétrica — Vitória

Concordo com alguns pontos abordados mas, em relação a maioria, estão desatualizados. Hoje já existe um elo maior entre as escolas de engenharia e a industria o que contribui para a praticabilidade do ensino, sem falar dos PETS e da iniciação cientifica e algumas de suas afirmações são relativas, dependem de varios fatores como a propria universidade, do local em que se esta cursando engenharia e do interesse do proprio estudante.

Comentário #19 — 26/03/2009 21:01

Ênio Padilha — Engenheiro — Balneário Camboriú

Certíssimo, Luiz Felipe.
Aliás, fico feliz que seja assim.
Este artigo eu escrevi em 2002 e eu reconheço que muitas coisas melhoraram desde então.
Espero que, daqui a uns 10 anos, este artigo não tenha mais valor nenhum (a não ser a sua contribuição, por menor que tenha sido, para mudar esse tipo de coisa)

Grande abraço

Comentário #20 — 28/03/2009 12:14

Érika — Estudante — Vitória da Conquista

Caro Ênio, não sou a pessoa mais indicada para discorrer sobre o assunto, porém ao ler o teu texto sentir que as suas generalizações comovem uma grande parte da parcelas de estudantes que sonham em ser estudantes de engenharia... Concordo que os estudante de medicina, direito, e odontologia são vistos perante a sociedade com outros olhos. Porém o teu texto arranca um sonho de muitos alunos que sonham em ser engenheiro de uma maneira muito ardua. Conheço engenheiros muito bem sucessidos e que amam o que faz.

RÉPLICA DE ÊNIO PADILHA

Prezada Érika

Talvez você tenha razão. O texto pode desfazer alguns sonhos.

Mas é importante dizer que, se o texto arranca algum sonho, isso não é feito com mentiras ou exageros. São verdades.
O texto não contém toda a verdade e muito menos a única verdade. Mas não contém mentiras

Então, mais do que "arrancar sonhos de estudantes" eu estou dando a eles uma visão menos fantasiosa do que há pela frente.

Tenho duas filhas. Uma está na universidade (segundo ano de Odontologia na UFSC) a outra está no terceiro ano do ensino médio, à caminho da universidade. Nos dois casos dei a elas a seguinte orientação: antes de decidir pela faculdade a fazer, verifique todas as vantagens e benefícios do curso e da profissão. Mas não deixe de verificar as dificuldades e problemas típicos do curso e do exercício da profissão.
As universidades (na sua comunicação com o "mercado") tendem a glamourisar o curso e a profissão. Cabe aos pais apontar os obstáculos e armadilhas. Porque é o futuro da pessoa que está em jogo.

Outra coisa importante: eu me orgulho de nunca ter dito a nenhum jovem que não faça engenharia. Pelo contrário. Eu me orgulho muito de ser engenheiro e desejo isso para todo jovem que tenha essa pretensão. Nunca disse em nenhuma circunstância, que fazer engenharia não vale a pena ou que ser engenheiro não é uma coisa fascinante.
Pelo contrário. Concordo com você. Eu mesmo me considero um engenheiro bem sucedido e amo a engenharia.

Mas uma coisa não se pode deixar de dizer: se a pessoa achar que fazer engenharia é uma coisa fácil ela precisa ser alertada para o fato de que está enganada. Existem cursos fáceis e divertidos. Engenharia, definitivamente, não é um deles.

De qualquer forma, acho que você não teve a intenção de desqualificar o artigo. Embora eu entendo que você como estudante é, sim, uma pessoa "indicada para discorrer sobre o assunto", pois é uma potencial interessada no tema.

Por isso, gostaria que você refletisse sobre o tema e pode fazer seus comentários à vontade. Inclusive discordando do artigo e dos meus comentários, se for o caso.

Abraço

Comentário #21 — 29/03/2009 21:41

Evandro — Estudante - Técnico Integrado em Eletrônica/UTFPR — Curitiba

Concordo totalmente com o texto.

E agora pergunto: Como ficam os estudantes do médio-técnico em eletrônica, por exemplo, que é um curso muito próximo da engenharia, e com os professores do estilo do ensino superior?

Comentário #22 — 31/03/2009 22:49

Érika — Estudante — Vitória da Conquista

Muito obrigada pela atenção dada ao meu comentário... Eu estive pensando no tema proposto por você por vários dias, inclusive a preocupação me permeou em todos os pensamentos, pois existem uma pessoa muito próxima a mim que passou em engenharia na UFS este ano, e ao ler o teu texto obteve um desanimo enorme, pensando até em fazer outros vestibulares no fim deste ano... Por isso que por ele decidir lhe escrever. Mas como você mesmo referiu,o curso de engenharia apesar de necessitar de modificações, integra uma boa parte de alunos que por mais que saibam do descaso que tem no curso, continuam dando o melhor de si, e se esforçando para se tornar um profissional renomado. Quem sabe então, a solução venha dai, o mundo precisa de pessoas que lutam pelo que quer, e não de pessoas que desviam o caminho tão sonhado por não quererem enfrentar os obstáculos encontrados a sua frente. Espero que com os seus argumentos, a conscientização das pessoas ocorra, para que milhares de sonhos vão por água a baixo. Obrigado pela atenção. Abraços

Comentário #23 — 31/03/2009 22:57

Érika — Estudante — Vitória da Conquista

CORREÇÃO: Espero que com os seus argumentos, a conscientização das pessoas ocorra, para que milhares de sonhos NÃO vão por água a baixo.

Comentário #24 — 08/04/2009 13:51

Leonardo — Estudante Eng. Elétrica — Aracaju/SE

Caro Ênio,

Não poderia deixar de enviar um comentário para parabenizá-lo por não mostrar a realidade dos cursos de engenharia, pois isso qualquer estudante cursando o segundo período já sabe, mas por fazê-lo com extrema clareza e precisão.

Estou no quinto período do curso de eng. elétrica na Federal de Sergipe e me senti o exemplo do texto. Sempre fui aluno exemplar e nunca tive problemas com matemática, normalmente gabaritava as provas. Hoje passei a ter ódio de estudar matemática.
Além disso, alguns professores pseudo-engenheiros querem apenas ser respeitados, e para isso fazem seu trabalho com extremo rigor e com caprichos desnecessários.
Confesso que por vezes pensei em desistir do curso, e o principal motivo não é nem os professores, pois desses eu irei rir ao término do curso, mas sim porque aqui na UFS, além dos "professores", as matérias de engenharia elétrica são ofertadas anualmente, ou seja, perdendo alguma você necessariamente atrasa o curso em um ano.

É uma realidade triste, até. Talvez se as pessoas soubessem da realidade do estudante de engenharia, respeitassem mais o profissional.

Abraço

Comentário #25 — 02/08/2009 11:57

Luciana Duarte — Arquiteta — Palmas

Dr. Ênio,
Parabéns por mais este artigo.
Realmente podemos ver o resultado deste processo de auto-estima desfacelada e falta de habilidade com o mercado de trabalho, refletido no retorno financeiro conquistado pelo arquiteto/engenheiro.

Comentário #26 — 08/08/2009 11:16

Valdinei Batista — Engenheiro Civil — GOIANIA

Enio, gosto muito de seus artigos, eles me ajudam muito ao lidar com pessoas e com situações complicadas encontradas todos os dias nas obras. Por mais seguras e capazes que as pessoas são, um texto bem escrito com palavras sábias sempre será bem vindo para provocar a reflexão. Obrigado e continue escrevendo esses textos com suas palavras sábias.

Comentário #27 — 13/08/2009 18:51

felipe — eletrica — Bochum - Alemanha

Esse artigo tem muito valor, estou na alemanha e sinto isso. So vemos teoria. Sem contar a baixa auto-estima (assim q escreve? facam um desconto ai, tem quase 3 anos que estou fora do brasil :) )

RÉPLICA DE ÊNIO PADILHA

Tá feito o desconto, Felipe.
Mas é sem hífen, ok?
(Segundo a nova reforma ortográfica, não se usa o hífen quando o prefixo termina em vogal diferente da vogal com que se inicia o segundo elemento.
Exemplos: aeroespacial, agroindustrial, anteontem, antiaéreo, antieducativo, autoaprendizagem, autoescola, autoestrada, autoinstrução, coautor, coedição, extraescolar, infraestrutura, plurianual)

Quanto ao seu comentário, não esmoreça. O fato de haver muita teoria no curso é normal. Afinal, engenheiros precisam saber PENSAR. Por isso a carga de teoria é tão intensa.

Volte sempre.

Comentário #28 — 29/10/2009 01:30

André — Estudante - Eng. Elétrica — São Paulo

Caro Ênio,

Parabéns pelo seu artigo. Reflete o que eu penso e sinto. Sou estudante da escola politécnica da USP e infelizmente tudo que você ecreveu se aplica aqui.
Seria interessante você procurar no google pelos textos "A Poli como ela é" e "A escola dos homens tristes", que retratam a degradante vida na politécnica. Vale a pena.

Abs

Comentário de Ênio Padilha
Prezado André

Obrigado pelas dicas. O trabalho do Júlio borges eu já conhecia mas por outros textos. Este da Poli eu não conhecia. Li todo o Dossiê. Muito bom.

Quanto ao artigo do Paulo Bilkstein, anterior ao do Júlio, achei fantástico. Ele fez uma analogia simples porém certeira.

Acredito que tivemos alguns avanços nos últimos anos, mas ainda estamos à passos de tartaruga, infelizmente

Abraços

Comentário #29 — 06/11/2009 22:16

Ronilza Santos — engenheira de Produção — montes claros -mg

Caro Ênio...
Hoje tive o conhecimento do seu texto através de meu professor de Engenharia Auxiliada´por Computador.Nossa, como a leitura feita em sala de aula nos faz refletir sobre o Porque somos assim?
Nós Engenheiros não temos como nos destacar na sociedade, pois quando nos deparamos com uma pessoa toda de branco possivelmente é um medico, se está de terno e gravata, um advogado... e assim por diante.. e nós?
Só nos que estudamos todos aqueles cálculos,sabemos como penamos pra conseguir superar todos os obstaculos que o curso nos impoe...
Mas digo uma coisa, aos colegas que desejam cursar engenharia, nao desistam, porque mesmo com tantas dificuldades e limitações nao existe um curso que te leva a raciocinar e agir de uma maneira que vc nunca pensou antes, como eu agora,pois se nao fosse a Engenharia , eu nao estaria aqui enviando esta mensagem em resposta ao caro colega Enio..rsrrsrsr...
Tudo tem uma recompensa...
Nao e mesmo Ênio?

Comentário de Ênio Padilha
Você tem toda razão. E você está fazendo uma coisa que eu chamo de "regra número um da valorização profissional": nunca recomendar a um jovem estudante que não escolha Engenharia como faculdade ou que desista do curso em função das dificuldades.
Estou desenvolvendo uma pesquisa desde 2002 (ano em que eu escrevi o artigo "POR QUE É QUE A GENTE É ASSIM?) sobre as Características Distintivas de Engenheiros, Arquitetos e Agrônomos (causas e consequencias) e tenho descoberto coisas interessantes. A principal delas é que isso que foi dito aí no artigo pode até ser verdadeiro, mas não é tudo. Tem muita coisa que não depende apenas da escola. São coisas que são características naturais dos engenheiros (é anterior à faculdade) ou produzidas pelas características do exercício profissional (são posteriores à faculdade).
A pesquisa fica pronta em meados do ano que vem. Pretendo publicá-la em agosto de 2010.

Comentário #30 — 10/11/2009 16:36

Ronilza Santos — engenheira de Produção — Montes Claros - MG

caro Enio...
sou eu de novo, Ronilza.
Estou cursando o sétimo periodo de Eng. de Produção e preciso de uma ajuda.
Estou começando a pesquisar um tema para o meu artigo de conclusao de curso. Estou ainda meio que perdida, sem saber o que posso abordar. Voçê poderia me ajudar me dando uma direção?
Aguardo resposta...
Grata...
ATT..
:)

Comentário de Ênio Padilha
Oi, Ronilza.
Posso ajudar, sim.
Mande um e-mail para ep@eniopadilha.com.br dando as características do trabalho que você precisa fazer (artigo? quantas páginas? O artigo é de pesquisa bibliográfica? ou de pesquisa de campo?)
Mande o máximo de informações que puder sobre a natureza do trabalho. Aí eu mandarei algumas dicas que eu puder.
Boa sorte.

Comentário #31 — 05/02/2010 19:39

Doidão — Engenheiro — Ilha Solteira

Pois é, esse texto é perfeito, saimos da faculdade e ai...fudeu, o que vou fazer, esta tudo nas minhas mãos, os professores...sumiram, nem dicas de emprego, nem dicas de estudo, nem dicas de como bater uma punheta....te vira malandro, vai cassar quem ti quer, ser engenheiro é loucura ...e ainda há matérias que precisamos de um pscólogo do lado do professor pra nos sentirmos apenas deseperados, e as coisas que eles falam, nimguém entende nada...é mano, trampar até as 10 da noite de segunda a sabado !!!! e nem podemos furar o zói no custo do serviço como os dentistas ou mentir como um advogado...prepare as costas que vão descer o chicote, mais quando calejar fica tudo mais sussa !!!

Comentário do Ênio Padilha
Jesus!!!

Comentário #32 — 09/02/2010 15:03

Roberto Feriotti Neto — Estudante de engenharia mecânica — São Paulo

Sou estudante do 6° e último ano de engenharia mecânica automobilística em uma das melhores faculdades do Brasil no segmento (FEI - São Bernardo do Campo) ..... E digo que este seu texto, apesar de ter sido escrito em 2002, está mais atual do que nunca....

Infelizmente, todos os projetos extra-aula que ocorrem na faculdade (Mini-Baja, Millage, Fórmula FEI) competições estas que são mundialmente reconhecidas, não passam de marketing para a faculdade atrair alunos...apenas meia dúzia de estudantes que não trabalham, nem pagam suas mensalidades podem participar..PÉSSIMO!

Iniciações científicas???? Que palhaçada é esta????????? Quem estuda em uma faculdade no nível de FEI / MAUA / POLI / ITA, e consegue tempo (e paciência..) para uma boa tese, é o estudante que provavelmente irá se formar sem experiência profissional, sem noção do que é mercado de trabalho e a loucura que é trabalhar em uma industria / canteiro de obras, etc.....

Mais uma vez: Ênio Padilha, parabéns pelo texto....ainda existem pessoas com (no mínimo) bom senso.....

Comentário #33 — 27/04/2010 15:10

fernando magalhães — estudante de engenharia elétrica UTFPR — CORNELIO PROCOPIO

Caro Ênio
Li seu artigo e como bateu com o que estamos enfrentando , eu ja tinha ate comentado com meus pais a pressão que alguns professores fazem..
Como vc diz , nós precisamos é de incentivo,e motivação pois o curso por si só ja eige muito de nós ...

Comentário #34 — 19/10/2010 03:54

Cássio Pantoja — Estudante — Porto Velho

Ênio, parabéns pelo texto.

Estou cursando o terceiro ano do ensino médio, futuro engenheiro, andei pesquisando em vários sites e referencias (incluindo orkut, twitter, etc.) informações sobre o curso, atuação profissional e sobre a engenharia como um todo.

Foi realmente um choque descobrir o \"respeito\" que um engenheiro tem na sociedade. O engenheiro possui capacidades e habilidades únicas, assim como um médico, advogado, dentista e várias outras profissões tão respeitadas atualmente.

Não me desanimei da área da engenharia, mas hoje estou ciente que o curso não é aquilo tudo que eu tinha em mente há poucos mêses. Nada melhor que perguntar à alguém que já caminhou nesta estrada para saber o que o espera.

Muito bom texto, Ênio, iluminou minha mente e assim fará com vários outros que o ler.

Comentário #35 — 22/10/2010 14:12

Caio — Estudante de engenharia — São Paulo

Caro Ênio, estou cursando o 3º ano de engenharia e tenho que concordar com algumas afirmações que o sr. faz em seu texto, principalmente com a qual o sr. diz que não somos lecionados por engenheiros que atuam no mercado, como acontece nas faculdades de medicina e direito. Porém, devo discordar em alguns pontos cruciais, assim diria. O sr. exemplifica que na faculdade de direito, por exemplo, os alunos são chamardos de doutor. Acho isso uma extrema arrogância da parte deles. Para mim, quem tem o mérito de ser chamado de Doutor é apenas aquele que fez um doutorado em alguma instituição regularizada pelo MEC. Da mesma forma o médico, que é conhecido como doutor, sendo que muitas vezes nem um mestrado este fez. Também não somos acostumados a um linguajar específico e estilo de vestimenta porque a engenharia é realmente muito ampla, tendo pessoas que irão trabalhar em bancos, outras em indústrias, outras abrirão seus próprios empreendimentos, ou seja, a classe \"engenheira\" não tem e não pode ter um estereótipo bem definido como no caso dos médicos e advogados, porque isso (aí sim) limitaria nossa mente e nossas expectativas. Conheço muitos engenheiros formados já a alguns anos (tenho parentes e amigos engenheiros), e somente 1 ou 2 que não são felizes com a carreira ou tem auto-estima baixa (mas vale a pena detalhar que estes também nunca forão tão esforçados e determinados como nós, engenheiros ou futuros engenheiros costumamos ser). Ou seja, acho que não se pode generalizar que todos os engenheiros tem auto-estima baixa ou afirmações que sigam esta linha. Como disse, estou no 3º ano de faculdade, e apesar de somente ter sido \"martelado\" por matérias que sei que nunca usarei em minha vida, acho isso extremamente necessário para a formação do engenheiro técnico e seu perfil de ser que \"sabe que pode\". Nunca me senti rebaixado, e continuo sendo admirados pelas pessoas ao meu redor que sabem que faço engenharia. Na faculdade tenho algumas notas baixas e algumas dependências, mas mesmo assim me sinto (agora serei eu o arrogante) superior, assim como o sr. defende que devemos ser.

Comentário #36 — 11/12/2010 23:44

Gustavo Franke — Engeheiro em Sistemas — Denver, CO

Caro Ênio, acho seu artigo muito alinhado com meus pensamentos, e eu me sentí muito identificado com a maioria das coisas.
Eu me considero afortunado porque pelo menos eu tirei esses pensamentos da minha cabeça uma vez, e eu sempre achei justo comparar as profissões, porque ao fim de contas a gente ta falando de muito sacrifício.
Estudei coisas que nunca apliquei, y preciso (e vou precisar) de estudar muitas mais coisas que o mercado exige que eu conheça pra exercer a profissão.
No principio, antes das universidades, um engenheiro era alguem que tinha ingênio, agora... também, mas antes tem que ser formado na universidade, que não é garantia de nada. Eu acho que eu decidi ser engenheiro, y por isso faço tudo o que eu faço, igual que muitas pessoas que eu conheço.

Comentário #37 — 23/02/2011 15:35

Fabiano — Comércio Internacional — Ribeirão Preto SP

Olá, parabéns pelo texto.
É curioso o mundo da net! Minha pesquisa no google foi "Há chances para quem se forma em engenharia civil com 40 anos?" Daí após vários tópicos lidos, aparece esse teu. Li e adorei. Sou formado em desenho industrial e lic. matemática, tenho 39 anos e apesar de trabalhar com comércio exterior, atualmente decidi que quero fazer engenharia civil.
Ao ler o texto, de primeira me senti um pouco desmotivado, porém, no curso de matemática não era diferente!!! Todo mundo acha que quem faz exatas é doido ou alienado!! Matemático não faz conta de cabeça e engenheiro não sabe tudo, mas...!
Bom, mediante o texto e a minha dúvida em obter sucesso aos 43 anos (após formado), você teria algum conselho ou sugestão para essa minha empreitada? Vale o sacrifício?
Parabéns pelo www.eniopadilha.com.br. Espetacular

RÉPLICA DE ÊNIO PADILHA

Fabiano

Esta é uma espécie de resposta padrão, pois vários colegas, estudantes de Arquitetura ou de Engenharia, já me fizeram esta mesma pergunta. (e a minha resposta é sempre a mesma):

1) O mercado de trabalho está cada vez menos restritivo a pessoas de mais idade, especialmente quando a atividade envolve conhecimentos técnicos.
Portanto, siga em frente que as chances são muito boas.

2) Se você estivesse com 40 ou 50 anos a minha resposta seria a mesma: não existe essa história de "muito tarde". A profissão de engenheiro não exige juventude para ser exercida. Não precisa de força fisica ou resistência aeróbica. Precisa de energia mental, inteligência, criatividade e muita, muita vontade. Iniciar uma carreira de engenheiro aos 40 ou 50 anos não será problema nenhum, acredite.
Estarei aqui na torcida. E na certeza de que a sua vida terá uma mudança muito grande.
E para muito melhor!

Abraço!
PS. Obrigado pelos elogios ao nosso site. Valeu!

Comentário #38 — 09/01/2012 23:39

Wilson Cavalcante Guedes — vendedor — Guarulhos

Mais uma vez, e claro merecidamente, parabéns.Estou na metade do curso de Eng civil e a cada semestre os remanescentes são cada vez menores.Sou cristão e tenho buscado motivação em DEUS,os comentários que se houvem é:Isso não é pra mim,esse professor é louco eu não aguento mais.....etc.Eu já passei por tantas coisas que é como se estivesse vacinado, a pressaõ psicologica tem sido para mim uma oportunidade de investir nos ralacionamentos,tenho literalmente puxado pelas mãos alguns para não desistir e particulamente acredito que se nós estudantes não nos ajudarmos mutuamente chegar ao final será muito mais dolorido.Sou brasileiro e não desisto nunca
Todos que eu puder ajudar a imprimir uma identidade de vitorioso vou faze-ló ,como o senhor mesmo disse: Se não puder ser útil para que sirvo.

RÉPLICA DE ÊNIO PADILHA

COMENTÁRIOS

Prezado Wilson
Só o que posso dizer é que estou (sinceramente) na torcida para que você vença esta batalha, pois, pelo que senti deste comentário e do outro que você deixou na CARTA AO CALOURO... você é o tipo de Engenheiro que o Brasil precisa. Somos, nós dois, soldados desta luta pela valorização da nossa profissão. Se você conseguir trazer o seu filho e mais alguns para essa trincheira, já ficaremos mais perto da vitória.
Grande abraço

Comentário #39 — 12/01/2012 08:23

Felipe Perez — Engenheirando — Bremen, Alemanha

Padilha, creio que seu texto se aplica aos alunos que abaixam a cabeça a professores rudes ou a situações desafiadoras no curso. Os engenheiros devem ser profissionais mais empreendedores e líderes, que tem que saber lidar com os desafios do ambiente. Auto-confiança e conduta se aprende em casa e a gente deve colocar isso em prática nos estágios, laboratórios e aulas. Acredito que certa tensão faz as pessoas se "mexerem" pra conseguir o melhor, assim como na vida profissional. O bônus vem para aqueles que tem coragem e competência para enfrentar as provas mais difíceis do curso (ou um problema típico de engenharia). Na vida profissional não vai ter ninguém pra passar a mão na cabeça e o engenheiro deve estar apto a resolver problema sob quais quer circunstancias.. o respeito de um profissional deve vir de acordo com a capacidade de gerar resultados, não com um título universitário...

Comentário #40 — 10/08/2012 07:10

Jéssica Albizu — Estudante — São Carlos

Ênio,
estudo na EESC-USP e adorei seu texto! Posso reproduzí-lo nos manuais do calouro dos próximos anos?

RÉPLICA DE ÊNIO PADILHA

Pode, sim, Jéssica
Apenas dá uma olhada antes aqui, nas nossas REGRAS PARA PUBLICAÇÃO

Comentário #41 — 07/09/2012 02:37

Nathália — Estudante de Engenharia — Belo Horizonte

Estamos ao final de 2012 e aqui no CEFET-MG as coisas não são diferentes. Quando entrei na faculdade eu era cheia de auto estima, esperanças e felicidade de poder estudar para exercer uma profissão que sempre quis desde criança. Tinha estudado na melhor escola da cidade e desde pequena, e até hoje, mesmo sofrendo pelos desafios, gostava muito de matemática. Hoje no nono período de Engenharia de Materiais, posso dizer que muito do sentimento que eu possuía ao entrar na faculdade foi amargurado, eu tive muitos professores bons, por outro lado alguns que gostaria de nunca mais ver. A humilhação, o descaso e principalmente o terrorismo são atributos frequentes em alguns professores. Eu vejo os professores reclamando que os calouros entram na faculdade com muita imaturidade, feito crianças mas quando se acaba de completar os 18 anos de idade, não poderia ser muito diferente disto. Concordo que muita parte da formação como profissional vem dentro da faculdade.



Por outro lado, o ambiente para Engenharia é muito hostil, os lugares são sujos, feios, escuros, barulhentos, cheios de graxa, e por mais que a indústria se preocupe com a aparência, não dá para mudar esta realidade, senão acabaria com o propósito da organização. Talvez isto ajude muito na visão que os Engenheiros tem dentro das próprias empresas, do lado de fora e da visão do próprio engenheiro.



Outro ponto que observei é o fato de eu estar no fim do meu curso e alguns professores ainda nos tratarem como moleques e crianças, mesmo sabendo que dali a poucos meses transformar-nos-emos em engenheiros. Eu tenho nenhum professor que exerça a profissão, mas muitos já exerceram (inclusive, por anos) e alguns nunca a exerceram.



Em suma, é muito simples culpar apenas uma das partes, apenas às faculdades ou apenas às indústrias sem olhar pra dentro de si, até porque estaria desfazendo dos professores que realmente se importam com os estudantes. Eu aconselharia à pessoa a não ficar presa apenas no mundo da faculdade, ler bastante, não só jornal revista, livros, literatura, conhecerem mais sobre arte, estudarem sociologia, comportamento das pessoas que isto levará os alunos a uma reflexão que talvez poderão compreender como melhor se relacionar pessoalmente. Acredito que pelo menos este problema não temos em minha faculdade (ou pelo menos é menos agravado), uma vez que tentamos compensar este lado humilhante com os colegas uns ajudando os outros e é claro, marcando de sair e fofocando também, não no sentido pejorativo da palavra (claro, porque isto faz parte e não é apenas "coisa de mulher"). Portanto, não abrimos mão de nossas vidas sociais porque sabemos que sem ela não poderíamos ter uma vida tranquila. E como o Enio disse, quem realmente quer estudar engenharia, nunca desista!

Comentário #42 — 23/12/2012 13:47

Artur Balthazar — Estudante de Eng. Mecânica — Criciúma

Sou estudante de engenharia mecânica da UFSC e estou passando para o segundo semestre agora. Não vou levar em consideração o pensamento de que o 1º semestre é o mais fácil de se passar, porém, me enquadrei muito pouco no perfil do estudante de engenharia que você citou e gostaria de fazer algumas críticas (construtivas, claro).

Sim, no ensino médio tirava boas notas, ouvia colegas falando "seu gênio!" e elevando minha auto-estima o tempo todo nesse sentido. Agora que entrei na universidade, fiz boas amizades com pessoas que também valorizam o estudo, e acredito que dessa forma conseguimos administrar bem o nosso preparo para as provas, compartilhando tensão, dúvidas, etc, (ir para a biblioteca no intervalo ou fim das aulas ao invés de ir pro bar, por exemplo). Então, notas não estão sendo problemas no momento, por isso acredito que foi generalizado demais, demais mesmo, ao dizer que o estudante chega nessa nova vida e vai se destruindo POR CAUSA da faculdade.

Quando você fala que não há acompanhamento psicológico na formação do engenheiro, acredito que estais esquecendo de alguns detalhes importantíssimos. O meu curso, por exemplo, possui na grade curricular a matéria de "Introdução à Engenharia", onde temos professores extremamente preocupados com nossa formação profissional. Toda boa universidade oferece programas de capacitação ou empresas júnior (você que também se formou na UFSC deve saber que lá existem diversas opções dessas, como a NEO, TOP, PET, EJEP, i9 e etc, que trabalham somente com questões da engenharia no mercado atual), e são divulgadas o tempo inteiro, só depende do estudante de ir atrás de algo assim para sua formação pessoal e desenvolvimento da sua comunicação.

Achei que houve certa COVARDIA ao colocar a culpa na engenharia porque a vida do estudante não está exatamente como ele esperava. Quanto a mim, posso dizer que minha auto-estima só aumentou desde que entrei aqui, estou com muitos sonhos no papel e com a certeza de que minha jornada será infalível, pois só assim combato os pensamentos destrutivos.

Os fatos só devem vir a mesa quando são realmente verdadeiros e recorrentes. Peço mais cuidado ao publicar tal texto, pois muita gente que ainda não entrou na engenharia e que lê algo assim, acaba levando como verdade absoluta por não ter conhecimento suficiente pra combater com argumentos, podendo ser bastante desmotivante. Se queres melhorar a qualidade da engenharia do lugar onde levasse em consideração para tal texto, procure focar nesse público, porém se for para dizer à todos, acho que deves ser mais positivo e principalmente checar com mais cuidado a veracidade do que falas:

"É na Escola de Engenharia que começa a ser destruída a nossa auto-estima. [...]" (desculpa, mas achei um absurdo essa frase).

att, Artur Balthazar

Comentário #43 — 05/01/2013 03:05

Ricardo Gutierrez — Engenheiro Eletrônico — São Paulo

Muito interessante seu artigo. Nunca havia visto alguém tratar desse assunto, que até então eu achava que era algo que só a mim incomodava. Veja só, trabalho em uma empresa estatal paulista onde há médicos, advogados (muitos) e engenheiros (muitos), estes das mais variadas formações: civis, mecânicos, elétricos etc. O tratamento dispensado na estrutura organizacional da empresa aos advogados e médicos é bem diferente do dispensado aos engenheiros, muito embora estes estão por toda estrutura da empresa, pelo fato de a engenharia estar mais ligada à atividade-fim da empresa. Ouvi dizer que em tempos remotos, na mesma empresa que trabalho, os engenheiros eram tratados de "Doutor", do mesmo modo que advogados e médicos. Não que eu queira ser chamado de "Doutor", como se isso fosse prova de respeito, mas só por esse fato, é fácil perceber-se a verdade do que você tão bem expôs. Fazendo uma auto-crítica a nossa categoria, acho que falta a nós, engenheiros, uma postura mais altiva e unida como classe, assim como são os advogados e médicos. E nisso incluo uma boa parcela de culpa do CREA e Sindicatos dos Engenheiros, que deveriam atuar desde os primeiros anos nas Faculdades de Engenharia espalhadas pelo Brasil, fazendo um trabalho de nesse sentido, por que hoje, o primeiro contato que o recém-formado de Engenharia tem com o CREA ou o Sindicato é a cobrança de anuidade. Aliás, isso eles sabem fazer muito bem.

Comentário #44 — 28/04/2013 16:41

Pedro A. — Estudante E. Civil - UFMG — Belo Horizonte

Felizmente acredito que essa realidade está mudando, pelo menos aqui na UFMG. A grade curricular ta ficando mais diversificada e nós alunos estamos cada vez menos dependentes de professores que querem por lá em baixo a auto-estima do aluno, que realmente existem. O contato com professores que atuam como engenheiros fora da universidade ajuda muito, ainda mais quando os mesmos são bem sucedidos e gostam do que fazem, isso torna o nosso esforço muito mais gratificante.

Comentário #45 — 21/05/2015 11:57

Djan Rosário — Engenheiro Eletricista — Palhoça

Prezado Eng. Ênio,

Se por um lado seu artigo, corroborado pela maioria dos comentários, reflete algo que realmente parece ser uma constatação acerca da formação do engenheiro, podemos ver tais questões de outra maneira:

1 - Embora não tenhamos uma identidade visual clara que nos permita "incorporar um personagem" para a sociedade, como médicos e advogados, por outro lado temos a flexibilidade e a liberdade de nos identificar como melhor aprouver, de acordo com as atribuições e responsabilidades assumidas.

2 - Embora as aulas pareçam baixar nossa estima, incute em nós engenheiros uma capacidade ímpar de resolver problemas, mesmos aqueles não relacionados à engenharia. Isto nos torna aptos a atuar nas mais diversas áreas, sobrepujando profissionais de outras áreas de formação.

3 - Quanto à questão da valorização profissional após colação, vejo que isto está associado a uma questão mais ampla, que envolve desde uma dissonância entre a formação (excessivamente acadêmica) e a atuação (que em geral subestima a capacidade do recém formado) até a conjuntura atual. Vejo que a formação de engenheiros está muito associada a uma visão estratégica, atrelada a uma política de Estado. Não adianta formarmos engenheiros extremamente capazes se continuarmos com uma economia baseada em commodities. Engenheiros são agentes de uma economia mais diversificada e sofisticada, exigindo um ambiente propício e uma cultura que são proporcionadas por uma política de Estado visionária, a exemplo do que ocorreu nos EUA e países asiáticos em geral. Além disso, engenheiros deveriam ser empreendedores por natureza, agentes da transformação da sociedade, aplicar seus novos conhecimentos em iniciativas e não como empregados. Mas enquanto nosso contrato social nos sobrecarregar de impostos e encargos, valorizar mais a criação de dificuldades para se vender facilidades (a dita burocracia que tanto justifica a existência de "adevogados", contadores, etc.), dentre outros, não teremos dias melhores.

4 - É inapropriado querer comparar com outras classes, que embora, sejam todos prestados de serviços, possuem naturezas muito distintas. Corre-se o risco de se achar que "a grama do vizinho é sempre mais verde", ainda mais quando não se vivencia o ambiente destes outros profissionais. Trabalhei muito ao lado de advogados que, apesar de toda a pompa, não trocaria jamais pelo exercício da engenharia.

5 - Por fim, concordo que nos falta uma formação mais humanista durante a graduação, embora quando alunos, preterimos estas disciplinas em detrimento daquelas ditas técnicas. No fim, acabamos mais sendo preparados para interagir com máquinas do que com homens.

Comentário #46 — 15/11/2017 02:00

Severino Cordeiro — Engenheiro Eletricista — Natal

Quando li esse artigo me vi nesse texto , é muito triste ver que hoje em dia os médicos são deuses apoiados pelos milagres das máquinas projetadas e construidas por nós engenheiros e nós somos apenas os coadjuvantes nessa história.
Não tenho nada contra os estudantes de medicina ou médicos mas , como o Enio mencionou , a nossa jornada na faculdade ( Universidade ) é um calvário que só destrói os nossos sonhos , professores que não nos estimulam em nada e, que se possível até nos fazem desistir .
Hoje, acredite ou não , tenho quase trinta anos nessa área e ainda vibro e fico arrepiado quando tudo acontece do jeito que planejei , é uma sensação indescritível .
Ser engenheiro é amar a profissão que escolhemos independente de alguém valorizar ou não .

Comentário #47 — 19/08/2018 19:06

ALEXANDRE MANICOBA DE OLIVEIRA — Engenheiro / Professor — Praia Grande

Parabéns Ênio, texto incrível que mudou minha vida, ainda na graduação de engenharia, a mais de 10 anos atrás. Na época, em 2006, 2007, ao ler o texto, passei a entender o comportamento de alguns professores, que na verdade faziam apenas o que tinham vivido em seu período de formação. Texto incrivelmente motivacional, parabéns!

Comentário #48 — 10/06/2021 00:22

Carolina — Física — São Paulo- SP

Estou concluindo meu ensino superior em física agora nesse ano e estava me sentindo complemente desmotivada de pensar o que eu quero fazer de pós graduação. Fiquei muito intrigada e não conseguia responder para mim mesma "qual era o meu sonho e no que eu queria me especializar". Achei estranho porque eu sempre me encantei com física e sou apaixonada na aplicação clínica da física utilizando radiação ionizante. Mas por algum motivo,eu sei lá só sentia que eu não queria sonhar com nada. É muito triste me ver nessa situação hoje, porque eu lembro da admiração e o sonho que eu tinha de fazer o curso. Eu lembro dos dias e noites que eu passei, estudando e sonhando em estar onde eu estou hoje. Lendo o seu texto eu encontrei o motivo por eu simplesmente "desistir" de criar metas... O desgaste emocional e todas as humilhações que eu tive que aguentar de alguns professores do meio acadêmico que simplesmente faziam questão de dizer o quanto os alunos eram menos e o quanto a gnt deveria desistir do curso. Isso me afetou muito e eu me sinto muito burra e incapaz, mas o pior de tudo é sentir que eu mesma perdi a vontade de sonhar e levar essa ciência tão bonita que eu aprendi para o mercado de trabalho. Eu espero que por eu ter conseguido enxergar a raiz para eu simplesmente desistir de criar metas e sonhar me ajude a reverter essa situação e enxergar a profissional que eu posso me tornar. Parabéns pelo texto e obrigada pelo espaço nos comentários para o meu desabafo.

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