COPA 2014: UMA TRAGÉDIA (FINANCEIRA) ANUNCIADA

(Publicado em 29/03/2012)



[IMG;copa2014_estadios.jpg;250;E]Desde que o Brasil foi escolhido como sede da Copa do Mundo eu tenho batido insistentemente nesta tecla e tentado convencer os colegas engenheiros e arquitetos de que esse discurso precisa ser sustentado.
Você sabe por que a escolha do país sede da Copa do Mundo é feita com sete anos de antecedência?
Simples: é porque a experiência já demonstrou à FIFA (que é a dona do evento) que as providências necessárias para a realização de uma Copa do Mundo precisam de SETE ANOS para serem executadas (inclusive em países ricos e bem estruturados, como foi o caso da Alemanha para a copa de 2006).

No Brasil essa idéia nunca ficou muito clara. Os Jogos Pan Americanos foi um claro exemplo disso. E a consequência principal foi justamente o estouro espetacular do orçamento, pois não levaram em conta aquilo que eu chamo de A EQUAÇÃO DO EVENTO que está ligada ao processo decisório.

É o seguinte: uma das características fundamentais dos eventos é a sua “hora marcada”. Uma vez determinado, o evento não espera. Ele irá acontecer no momento previsto. Isto é dado como variável incontrolável. As outras coisas é que vão variar de acordo com as decisões dos organizadores.

A qualidade de um evento bem como seus custos são resultados diretamente vinculados à antecedência das decisões tomadas. Em linguagem de engenheiro podemos dizer que “a qualidade do evento (Qe) é diretamente proporcional ao tempo decorrido entre a Tomada de Decisão (TDe) e a realização do evento; por outro lado, os custos do evento (Ce) são inversamente proporcionais ao tempo decorrido entre a Tomada de Decisão (TDe) e a realização do evento".

Assim, (1) Qe = k * TDe
e (2) Ce = k * 1 / TDe

A combinação das equações (1) e (2) pode ser enunciada da seguinte forma: “quanto mais demorada é a decisão sobre o evento, menor será a sua qualidade e maior será o seu custo”.

Esta conclusão, por mais óbvia que possa parecer, nem sempre é observada pelos decisores de eventos, podendo gerar enormes desgastes e prejuízos para o evento e para a instituição organizadora. No caso da Copa do Mundo, a instituição organizadora é o povo brasileiro (não se iludam: para um Dinamarquês, Francês ou Japonês não existe Paulista, Mineiro, Carioca ou Gaúcho. Só existe Brasileiro!)

Assim, meus amigos, tínhamos sete anos para realizarmos uma tarefa que demanda sete anos para a sua realização eficiente. E tudo foi atrasando por motivos diversos (alguns excusos). Deixamos tudo para a última hora. Automaticamente está acionada a EQUAÇÃO DO EVENTO: a qualidade diminuirá ou os custos aumentarão.

Notícias de hoje (29/03/2012) publicadas na Folha de São Paulo fazem uma estimativa de aumento nos custos (em relação aos previstos originalmente) na ordem de 30%.
Sinceramente. Se isso fosse uma aposta na bolsa de valores e fosse possível ganhar algum dinheiro com o aumento acima desses 30% previstos, isto seria uma barbada. Ganho garantido. Pois, de acordo com a equação do evento, os custos tendem a continuar aumentando enquanto os atrasos continuarem a ser registrados.

Perde o Brasil. Perde o povo brasileiro. Perde o futebol... Mas, com certeza, alguém está ganhando alguma coisa com isso. Quem será?





PADILHA, Ênio. 2012

Comentário #1 — 30/03/2012 07:36

Enio Padilha — Engenheiro — Balneário camboriú - SC

"A Copa até vai sair do papel, mas vão erguer uns puxadinhos aqui, fazer umas maquiagens ali. Tudo mais caro do que deveria por causa da pressa. Muita gente se beneficiará disso. Pode escrever. Vai chover obra emergencial sem licitação e a corrupção vai correr solta."

A frase é do Deputado Federal Romário, em entrevista à jornalista Renata Betti, da revista Veja

Comentário #2 — 31/03/2012 10:09

Reticlyve Oliveira Filho — Engenheiro Civil — Parauapebas

Bom, o que observo é que mais uma vez o povo brasileiro confirma aquela história de que deixamos tudo para a última hora. Infelizmente isso é uma questão cultural. Devemos atentar para a conclusão de tarefas com mais eficiência, deixando de lado esse dogma pravo e sustentando a ideia de que nós, brasileiros somos muito capazes e responsáveis.

Comentário #3 — 02/04/2012 23:01

João Bosco Queiroz Castro — Engº Civil — Boa Vista/Roraima

Concordo que o Povo Brasileiro está começando a assimilar esse entendimento que pra nós Engenheiros é muito símples, quanto > o tempo x tomada de decisões > os custos, e não é só no futebol não a Grécia quebrou depois das olimpiadas de Atenas, a Africa do Sul quebrou depois da Copa do Mundo de 2010 com estádios carissimos sem tradição no futebol não conseguem manter os custos que tiveram, o pobre do México já levou duas pauladas 1970 e 1986 e por aí vai ........, sou Nortista com muito orgulho acho que ainda temos o pulmão do mundo e nem faço questão de trocar pelos Royaltys do petróleo, pois sei que o pessoal do Sul e Sudeste não querem perder esta boquinha, mais ainda vão ter que aguentar as manchas de oleo nos seus litorais, gente foi um absurdo demolirem o Vivaldão em Manaus sem tradição no futebol um estádio lindo, tendo o Mangueirão em Belém sem nenhum barrismo, e a política sempre decidindo pras futuras gerações quiz dizer eleições claro, vou parar por aqui é melhor, grande Ênio parabéns pelas suas colocações, já tive oportunidade de assistir uma Palestra sua aqui em Boa Vista/RR excelente. Grande abraço.

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