CARTÃO DE VISITAS

(Publicado em 04/04/2012)



A figura abaixo é a fotografia do cartão de visitas da arquiteta Zaha Hadid.
Ele é exatamente o oposto do que eu recomendo aos arquitetos e engenheiros nos meus cursos de Marketing para Engenharia e Arquitetura.

Então, antes de continuarmos essa conversa, saiba prezado leitor que não há nenhum problema em apresentar aos seus interlocutores um cartão como este aí. Basta que você seja um starchitect (termo usado nos EUA para se referir aos arquitetos cuja celebridade e aclamação da crítica os transformam em idolos da arquitetura mundial e dão a eles um degrau de fama no nível de artistas do cinema ou TV)





magem: Zaha Hadid Card



Claro que ajuda, como no caso de Zaha Hadid, ganhar um Premio Pritzker (Oscar da Arquitetura Mundial), como ela ganhou, em 2004.

Se este não é o seu caso... recomendo prestar atenção em algumas coisas importantes quando o assunto é CARTÃO DE VISITAS.

A primeira coisa é a seguinte: os engenheiros e arquitetos (pequenas empresas prestadoras de serviços em geral) precisam se dar conta da função estratégica que o cartão de visitas desempenha nas suas relações com o mercado. Existe uma grande diferença de função do cartão de visitas em uma grande corporação (uma grande empresa, com investimento de milhões em propaganda e publicidade) e em uma pequena empresa com limitados recursos de promoção.

Para uma empresa do porte de uma Volkswagen, uma Panasonic, uma Nike ou coisa parecida, o cartão de visitas não tem função de propaganda. Ele não precisa ser concebido para ser um veículo de divulgação da empresa ou de seus produtos. Serve apenas como um identificador da pessoa que o está portando. Toda a publicidade na mídia, além de outras peças de divulgação, como os folders, os catálogos, os encartes e tantos outros recursos fazem o trabalho da promoção da empresa e dos seus produtos.

Quando a empresa é pequena, porém, a configuração é outra. Não existem esses “milhões” despejados em tantos canais de comunicação. A empresa tem, geralmente, escassos recursos de publicidade e propaganda. É preciso racionalizá-los ao máximo. Cada centímetro quadrado disponível precisa ser utilizado da forma mais inteligente possível. O cartão de visitas transforma-se, assim, num dos importantes recursos de propaganda da sua atividade profissional.

É aí que temos o primeiro problema: por vaidade, muitas vezes alimentada por publicitários despreparados, muitos engenheiros e arquitetos concebem seus cartões de visitas de forma equivocada, sem se dar conta da sua FUNÇÃO no marketing do escritório. Concebem cartões com prioridades invertidas e perdem um grande aliado na luta pela conquista do mercado.

Os objetivos de um cartão de visitas, para um engenheiro ou arquiteto, devem ser, número um, dar ao cliente as seguintes informações importantes sobre o profissional: quem ele é; o que ele faz; onde ele está e, finalmente, como fazer contato, quando for necessário; número dois, instrumentalizar o cliente para a propaganda boca-a-boca, caso o cliente esteja motivado a fazê-la e, número três, apresentar informações que, de alguma forma, provoquem no cliente (ou em quem quer que tenha acesso ao cartão) uma percepção positiva e diferenciada do profissional e do produto (e não do cartão).

Ocorre que, para atingir esses objetivos é preciso aceitar uma condição fundamental: um cartão de visitas não precisa ser BONITO nem DIFERENTE.

Isto não quer dizer que o cartão de visitas pode ser feio, carregado ou ter informações mal distribuídas.
Quer dizer que tentar fazer do cartão de visitas uma obra de arte (sacrificando, muitas vezes a sua função de propaganda) é um erro! (freqüentemente cometido).

Antes de ser bonito ou diferente o cartão de visitas precisa ser eficaz. Precisa cumprir a sua missão de divulgar a empresa e seus produtos.

O FORMATO DO CARTÃO DE VISITAS
O tamanho tradicional de um cartão de visitas é 90x50mm (85x50 até 92x55mm).
Alguns designers, no entanto, sugerem as medidas 85x53mm, que é o tamanho dos cartões de crédito.
Não vejo problemas em adotar qualquer uma das três medidas. Mas recomendo fortemente que os colegas arquitetos e engenheiros não inventem formatos alternativos (como o caso da figura no início deste artigo). À menos, claro, que aquelas condições mencionadas estejam atendidas.

O tamanho do cartão de visitas não é território para manifestação de criatividade. Cartões de visitas quadrados, redondos, elipsoidais, hexagonais ou... não sei qual é o formado do cartão da arquiteta Zaha Hadid... costumam encurtar o caminho entre a mão de quem recebe e o cesto de lixo mais próximo. É verdade!

Veja bem: existem inúmeros dispositivos vendidos em papelarias (ou fornecidos como brindes por empresas) cujo objetivo é armazenar e arquivar cartões de visitas. Esses dispositivos (todos eles) pressupõem que o cartão de visitas seja retangular, com medidas entre (50 a 55) x (85 x 95) mm; qualquer tamanho que seja diferente disso vai ficar sem ser arquivado. Seu destino será, na melhor das hipóteses, a reciclagem de papel.

Por falar em papel, esta é uma outra questão. Algumas pessoas acham uma boa idéia fazer cartões de visitas de PVC, plástico, vinil, películas, e até em material adesivo, com imã de geladeira. Péssima idéia!
De novo, vou repetir: não inventa!
Cartão de visitas deve ser feito em papel cartão. De preferência que permita escrever alguma coisa nele com caneta esferográfica comum (muitas pessoas, ao receberem um cartão de visitas, costumam fazer anotações para recuperar memórias, no futuro).

Outra coisa importante: as informações, no cartão de visitas devem estar NA HORIZONTAL. Todos os profissionais que me apresentaram (nos cursos) seus cartões de visitas na vertical, quando foram perguntados sobre o porquê de terem adotado esta orientação responderam que (1) É porque fica mais bonito; (2) É porque fica diferente! é uma manifestação de criatividade!

Respondo primeiro à questão 2. E respondo com uma pergunta: diferente de quem? criatividade em relação ao quê?
Se mais de metade dos arquitetos têm cartão de visitas na vertical, ao escolher essa forma o profissional que está tentando ser diferente acaba apenas sendo igual a todos os demais arquitetos. Onde é que está a criatividade nisso?

Quanto à primeira questão (a de que o cartão fica mais bonito), vou repetir e repetir enquanto for necessário: não há nada contra você ter o cuidado para que o seu cartão de visitas seja bonito. Porém, ser bonito não deve ser a PRIORIDADE para um cartão de visitas. Para atingir seus objetivos de marketing um cartão de visitas não precisa ser bonito nem diferente. Ele precisa ser eficiente e eficaz. E, para isto, ele precisa atender as importantes questões de forma e conteúdo.

OS CONTEÚDOS DO CARTÃO DE VISITAS
Como já foi dito acima, o cartão de visitas deve dar ao cliente potencial as seguintes informações importantes sobre o profissional: quem ele é; o que ele faz; onde ele está e, finalmente, como fazer contato, quando for necessário;

(a) Quem ele é inclui três informações simples: nome, título profissional e registro no seu conselho profissional (no caso, Crea ou Cau). Alguns profissionais questionam se o número do registro no Conselho Profissional é mesmo necessário. É, sim. Por uma razão muito simples: respeito aos clientes. O número do seu registro profissional é o que permite ao cliente (ou a qualquer pessoa) obter informação sobre real condição legal do profissional. Uma consulta ao Conselho Profissional é o que permite confirmar se ele tem, de fato, o título profissional que apresenta no cartão e se está habilitado para o exercício profissional. Um profissional não pode exigir que as pessoas acreditem nele, só porque ele está dizendo;

O que ele faz é uma indicação clara do produto que ele representa no mercado. Apenas o título profissional não resolve este problema. O título profissional indica a habilitação. O cliente quer saber a qualificação e a especialização, ou seja: o que, efetivamente, o profissional está oferecendo ao mercado.
Não é necessário transformar o cartão de visitas em um folder ou um portifólio, mas é necessário dar algum esclarecimento sobre o que, afinal, está sendo oferecido.

(na ilustração abaixo apresentamos um "modelo" de cartão de visitas - frente e verso. É importante observar que, propositalmente, não estamos dando a este cartão nenhum tratamento de design. Evidentemente este cuidado deve ser tomado, depois de atendidas as necessidades técnicas do cartão)



Onde ele está é, basicamente, o endereço físico do profissional, onde ele pode ser encontrado pelos clientes potenciais e (isso é importante) pelos correios. Por isso é importante o número do Código de Endereçamento Postal - CEP;

Como ele pode ser encontrado é o conjunto de todos os canais de comunicação que o profissional escolhe utilizar para se relacionar com o mercado (telefone fixo, telefone celular, e-mail, web site, Twitter, Facebook, etc). Observe que ninguém é obrigado a disponibilizar esses canais. O profissional pode, por exemplo, ter uma conta no Facebook mas não utilizá-la para atividades comerciais. Nesse caso, basta não incluir essa informação no cartão. Porém, se a conta em uma rede social é utilizada para divulgação do seu produto ou relacionamento com o mercado, essa informação deverá constar do cartão.

Pela ilustração mostrada acima, percebe-se que são muitas informações. Se o cartão não receber um tratamento de Design Gráfico, a coisa vai ficar muito feia. Portanto...

O VISUAL DO CARTÃO DE VISITAS
Uma vez que todas as questões técnicas do Cartão de visitas tenham sido atendidas, tratar visualmente o cartão é necessário e aconselhável.

A maioria dos arquitetos e designers já tem uma boa formação em expressão gráfica e saberá lidar com essa situação. Aos engenheiros (e profissionais de outras áreas) apenas uma sugestão: não perca tempo com isto. Contrate um profissional que seja do ramo (um designer gráfico profissional).

O que foi visto até aqui são as condicionantes do projeto. Não há como abrir mão de nada disto. Mas é possível, apesar disso, apresentar-se ao mercado com um cartão de visitas bonito, elegante e que, acima de tudo, seja um bom indicador da qualidade do serviço que você quer oferecer.





PADILHA, Ênio. 2012





Comentário #1 — 04/04/2012 10:35

Marco Antônio — Engenheiro Civil — *Cidade

Parabéns pelo texto professor! Concordo com praticamente tudo.
Particulamente não adoto colocar o endereço no cartão pois não possuo escritório fixo, viajo por diferentes cidades em visitas as obras.

RÉPLICA DE ÊNIO PADILHA

Valeu, Marco Antônio
Quanto ao endereço, no cartão, é importante colocar, sim. Mesmo no seu caso.
Serve para que as pessoas possam enviar cartas e encomendas pelo correio.
Existem muitos serviços nos quais a sede fixa não é importante, pois os clientes não costumam frequentar o local. O meu escritório, por exemplo, faz mais de dez anos (acredite) que não recebe um único cliente nosso. Mesmo assim, o endereço consta do nosso cartão.

Comentário #2 — 25/06/2012 09:10

Ricardo Meira — Arquiteto e urbanista — Brasília

Embora meus amigos designers fiquem bravos, tenho o hábito de fazer meus cartões de visita. Após algumas consultorias gratuitas de boteco,acabei por definir o modelo que uso há uns dois anos. Como bem disse o mestre Ênio, conteúdo é fundamental. Não basta ser "bonitinho mas ordinário". Precisa ser claro (quanto à informação, não quanto à cor). Hesitei por algum tempo em colocar o celular, temendo perder privacidade, mas a conveniência em ser facilmente encontrado, tão fundamental para um profissional liberal, acabou por prevalecer.

Comentário #3 — 10/02/2015 17:00

Lázaro — engenheiro — Oeiras

Professor Ênio, qual seria o "oscar da engenharia mundial"? (se é que ele existe!)
Aproveito o espaço para perguntar também se há algum prêmio de reconhecimento nacional?

RÉPLICA DE ÊNIO PADILHA

Lázaro.
Até onde eu sei (e olha que eu já procurei) não existe um Prêmio Mundial de Engenharia que seja tão expressivo quanto o Pritzker na Arquitetura.
No Brasil existe o Prêmio Talento Engenharia Estrutural conferido pela ABECE, anualmente, que é muito importante.
Existe o Prêmio Outstanding Structure geralmente citado como "Prêmio OStrA", concedido pela International Association for Bridge and Structural Engineering, mas, como se vê, também e um prêmio que contempla apenas a Engenharia Civil.

Comentário #4 — 24/02/2016 23:15

Marlle Silva — Engenheiro Agrônomo — Parauapebas

Primeiramente quero lhe parabenizar pelo texto, bastante esclarecedor, muito útil pra mim que sou recém formado e estou conquistando meus primeiros clientes.
No meu caso, trabalho com assistência técnica e extensão rural, dificilmente alguém virá até mim, meus cartões são para produtores rurais que na maioria das vezes só querem saber meu nome, o que faço e o telefone para me ligar quando precisam. Atualmente meu cartão é bem simples, não possui logo, nem desenho, é apenas de uma cor clara com o texto na fonte Arial preta, nas informações consta meu nome, profissão, registro no conselho, numero do celular, fixo, e-mail e no verso do cartão eu coloquei minhas especialidades.
Há algo que posso acrescentar para melhorar esse cartão? Desde já agradeço sua atenção.

Comentário #5 — 11/08/2017 15:42

William — Arquiteto / Designer — Maringá

Excelente texto, professor! Me fez (pouco antes de enviar para a gráfica) repensar o design do meu cartão. Por vaidade, agora confesso, o meu cartão era muito minimalista, "conceitual", e faltavam informações básicas sobre meus serviços. Agora consegui aliar a função (marketing) à forma (design), e deixá-lo muito bonito, porém com todas as informações que precisava ter. Obrigado mais uma vez por seu texto esclarecedor! E volte pra Maringá o quanto antes para uma palestra!

Comentário #6 — 16/11/2017 18:44

FRANCISCO FERRERIA — Eng. Civil — CUBATÃO

Muito bom professor. Eu algumas muitas dúvidas.

Comentário #7 — 18/07/2019 00:25

Maria Luiza Sutil — Estudante — Lages

Olá senhor Ênio Padilha!
Estou iniciando a 8a fase de Engenharia Civil.
Já posso distribuir cartão de visita com o intuito de divulgar meu nome?
Se sim, o senhor pode exemplificar alguns serviços que eu possa realizar para citar no cartão de visita também?
Muito obrigada desde já, e mais uma vez parabéns pelo seu trabalho.
Já fui nas suas palestras, e a minha admiração pelo seu trabalho só aumenta!

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