PROFESSOR. É O QUE EU SOU.

(Publicado em 14/10/2012)



Eu decidi que seria professor quando tinha 14 anos. Minha inspiração foi uma professora de matemática, Dona Valburga (Escola Estadual Roberto Machado, Rio do Sul - SC, 1974). Ela dava aula de um jeito tão especial e tinha uma didática tão perfeita que eu decidi que queria ser assim, capaz de ensinar coisas para quem não sabe. Ela não era uma professora boazinha. Não era uma professora super querida. Mas era honesta com os alunos. E sabia ensinar. Isso, para mim, era muito importante.





Imagem: Pixabay



Doze anos depois (em 1986) me formei engenheiro. Trabalhei no campo, fazendo projetos, acompanhando obras... e, eventualmente, dava palestras e cursos. Não era a minha atividade principal. Mas era, com certeza, o que eu mais gostava de fazer.

Em 1998, por conta de um conjunto de circunstâncias muito positivas, pude passar a me dedicar exclusivamente às palestras e cursos. Mas ainda faltava alguma coisa pra eu ser um "professor de verdade". Quando terminei o mestrado, em 2007 realizei, finalmente, o meu sonho. Ser professor em cursos regulares. Em sala de aula.
Hoje posso dizer que atuo profissionalmente na atividade que me dá o maior prazer: dar aulas.

Quando estou numa sala de aula, diante da turma, sinto-me plenamente realizado. Uma aula boa é, sem dúvida, uma das sensações mais agradáveis da vida. Eu adoro ser professor!

Mas sou professor de adultos. É importante dizer isso, pois eu ainda acho que existe uma categoria de professores num degrau acima (nunca chegarei a tanto): os professores de crianças e adolescentes. Esses sim, são especiais e precisam ter qualidades e habilidades superiores, pois eles, além de saber ensinar, precisam criar nos alunos a vontade de aprender.

Como professor de gente crescida, não tenho essa dificuldade. Quem entra na minha sala de aula (cursos promovidos por entidades de classe ou aulas em cursos de pós-graduação) está ali por vontade própria. Já tem (ou deveria ter) a vontade de aprender. Posso então me dar a certos direitos. Posso me dar ao luxo de apenas ensinar. E sustentar meu trabalho naquelas qualidades que eu admirava na professora Valburga: ser honesto com os meus alunos e saber ensinar.

Acredito no magistério. Acredito em ser professor. Acredito que isto me torna útil para as pessoas em particular e para a sociedade em geral. Tenho orgulho de ser professor. Não preciso de títulos mais "politicamente corretos" ou "marketeiramente estimulantes"

Não sou Educador. Quem tem de ser educador é o pai e a mãe e não o professor. Professor tem de ensinar. Não pode se afastar dessa responsabilidade. Quando minhas filhas eram pequenas eu fui educador. Felizmente deu certo. Elas são muito bem educadas. Quanto aos meus alunos, eu espero que eles já tenham recebido uma boa educação. E, se não receberam, não há mais nada que eu possa fazer.

Também não sou facilitador de nada. Não sou mediador de coisa alguma. E nem sou animador de platéias.

Sou professor. Adoro ser professor. Não tenho medo de ensinar e assumo como minha a responsabilidade de transmitir (e estimular o desejo de obter mais) conhecimento. Não me sinto obrigado a ensinar quem não quer aprender. Não assumo como minha a responsabilidade de fazer com que o indivíduo queira aprender. Isso é problema dele. Mas se ele quiser aprender, aí sim, o problema é meu: tenho a obrigação de ensinar. E de encontrar meios para que ele aprenda.

Tenho a obrigação de dar uma aula agradável, mas não tenho a obrigação de manter os alunos intelectualmente confortáveis. Não tenho medo de dizer as coisas com as quais os alunos não concordam. Não posso chover no molhado. Tenho a obrigação de tirar o aluno do conforto psicológico. Fazê-lo questionar suas crenças estabelecidas. Duvidar do que eu digo, duvidar do que ele próprio pensa, duvidar de tudo.

Quando, em sala de aula, um aluno discorda do que eu estou dizendo, não me sinto desconfortável. Pelo contrário. Isso me desafia. Me dá a oportunidade de mostrar se, afinal, eu sou ou não um bom professor. Melhor ainda se eu percebo interesse verdadeiro do aluno pelo tema. Isso é terreno fértil para o ensino. Cabe a mim ter a habilidade de conduzir os argumentos para transformar o conhecimento do aluno e permitir nele a mudança de paradigmas.

Acredito que um bom professor não é, necessariamente, aquele que sabe muito mais do que o aluno. Mas aquele que consegue entender perfeitamente o que está dificultando o acesso do aluno ao argumento correto. Ou seja, o que é que está cegando o aluno para aquele conhecimento.

Não faço dinâmicas de grupo. Não faço dancinhas, não faço joguinhos, não conto piadas... Não estou na sala de aula para distrair nem para divertir ninguém. Quem quer se divertir deve ir a um teatro, um circo, um show ou a um Estádio. Sala de aula é o lugar de outra coisa. Essas atividades, aliás, na minha opinião, são muito importantes para crianças, adolescentes e adultos sem amadurecimento intelectual.

Não quero perder meu tempo desenvolvendo habilidades de entretenimento enquanto poderia estar desenvolvendo capacidade de argumentação e persuasão. Como Professor não posso ter medo das minhas convicções. Devo surpreender o aluno com conhecimentos novos, aprofundados e com quebra constante de modelos mentais.

Acredito que o aluno espera aprender alguma coisa com o professor. E fico feliz em fazer isso.





PADILHA, Ênio. 2012





Leia também: O TIPO DE PROFESSOR QUE EU NÃO SOU





Comentário #1 — 16/10/2016 16:06

Neilton Sousa Pedrosa — Engenheiro Civil — Santarém, PA

Muito Bom!

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