O DIREITO À IGNORÂNCIA

(Publicado em 05/08/2013)



"Todos nós temos pleno direito à própria ignorância: o problema surge quando a ignoramos como tal, considerando-a sabedoria" (Zuleika dos Reis)

Nas minhas aulas sobre Gestão de Carreira para Arquitetos e Engenheiros e também nas palestras que frequentemente realizo em escolas de Arquitetura e Engenharia eu sempre lembro aos participantes sobre a importância de explorar, na dose certa, um dos recursos que os estudantes e os jovens profissionais recém-formados possuem: o direito à ignorância

Eu explico. Mas, antes, deixa eu esclarecer o porquê dessa conversa: é que eu recebi (como recebo sempre) um e-mail de um estudante de arquitetura (terceiro ano) com seu curriculo e um pedido de estágio.

Evidentemente eu não poderia conceder estágio a um estudante de Arquitetura, já que não sou arquiteto nem tenho um escritório de Arquitetura. Mas entendo que ele tenha enviado o curriculo para o meu e-mail, provavelmente, esperando que eu reenviasse para algum amigo arquiteto. É justo. E poderia funcionar.

Mas acontece que ele enviou o curriculo para mais de cinquenta endereços. No mesmo e-mail. E todos os endereços apareciam no e-mail que eu recebi. Essa é uma prática reprovada por todos os "manuais de boas maneiras na internet" justamente por divulgar endereços eletrônicos de terceiros, expondo-os à ação de spammers. Este foi o primeiro erro detectado.

O segundo erro estava no curriculo propriamente dito: o arquivo com as informações sobre o remetente.
Apesar de eu ter deduzido que o rapaz fosse, provavelmente, um bom estudante e um potencial bom estagiário, seu currículo não conseguia me dizer isso. Tratava-se de um arquivo de texto mal concebido, mal diagramado e com informações desconexas e mal dispostas.

Minha primeira reação ao ver aquilo foi me perguntar "por que esse rapaz não pediu ajuda para alguém? Porque não buscou orientação de um profissional mais velho ou de um professor sobre como elaborar e encaminhar um curriculo?"

Daí lembrei da minha recomendação aos jovens: utilizem e explorem o seu Direito à Ignorância.

As atividades profissionais dos arquitetos e engenheiros são baseadas na capacidade intelectual e nos conhecimentos adquiridos. Um profissional sem conhecimentos (especialmente os conhecimentos técnicos) terá poucas chances nas disputas pelas melhores oportunidades. É natural, portanto, que as pessoas nessas atividades sintam um certo desconforto quando precisam admitir que nao sabem alguma coisa. Afinal, o profissional vale pelo que sabe, pelo que conhece. Admitir a ignorância significa reduzir seu próprio valor como profissional.
Nao deveria ser assim, mas é. E é até aceitável para um profissional veterano.
Se um arquiteto formado há dez anos diz que não sabe o que é a tecnologia BIM, ou que nunca ouviu falar de Zaha Hadid ou Norman Foster, por exemplo, isso não é bom para sua imagem profissional. Soa, no mínimo, como desatualização.

Mas se você for um estudante ou um profissional recém-formado eu tenho uma boa notícia: manifestar a sua ignorância (fazendo perguntas ou admitindo que não sabe) não queima seu filme e não reduz seu valor profissional. Muito pelo contrario: se um estudante faz perguntas, recorre aos professores ou a outros profissionais mais velhos, estes não olham para o estudante como um coitado, desatualizado, que não sabe das coisas e não tem futuro. Eles o vêem como alguém curioso e interessado, dedicado a aprender coisas novas e com um bom futuro pela frente.

Além disso, os veteranos geralmente gostam de poder ajudar com conselhos e recomendações a um jovem estudante ou profissional em inicio de carreira

Nosso colega estudante, antes de enviar seu currículo solicitando vaga como estagiário deveria ter pedido ajuda aos pais, aos tios, aos colegas formandos, aos professores ou a profissionais veteranos no mercado. Alguém haveria de ter dado a ele recomendações preciosas sobre como elaborar um currículo e quais as melhores estratégias para colocar o currículo nas mãos certas.

Ele não fez isso ou porque ficou com vergonha de perguntar para alguém (admitir que nao sabia fazer) ou... O que é pior: por achar que sabia.

Neste caso caiu na armadilha definida por Zuleika Reis, na frase colocada como epígrafe deste artigo: não admitiu a própria ignorância e foi ainda mais longe: considerou-a sabedoria.

Perdeu uma grande oportunidade.





PADILHA, Ênio. 2015





REFERÊNCIAS:
1) REIS, Zuleika. Frases. Disponível em http://www.recantodasletras.com.br/pensamentos/2309319 acesso em 03/08/2013





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