INCONTINÊNCIA VERBAL

(Publicado em 26/02/2007)



"Em boca fechada não entra mosca", diz o ditado popular. "Mas também não entra comida", digo eu. Ou seja: entrar quieto e sair calado pode ser uma boa estratégia para não dizer bobagens, mas, com certeza, não é uma boa prática de Marketing Pessoal. É preciso falar.

É preciso se manifestar! É preciso dizer o que se pensa! Se você não fala, não se manifesta, não toma posição, ninguém nunca vai saber o que você representa. Você nunca vai representar alguma coisa na cabeça das pessoas.

Muito bem. Então o negócio é falar, falar, falar, falar...
Nada disto. Falar demais atrapalha mais do que ajuda. Palavras são instrumentos de transporte para intenções e sentimentos.

Valfrido Canavieira, o personagem criado e representado por Chico Anysio, prefeito de Chico City, era um político que fazia discursos cheios de promessas que nem ele mesmo pretendia cumprir. Sempre iniciava seus "pronunciamentos" com um bordão "profundo": "Palavras são palavras, nada mais que palavras".

Sabemos, no entanto, que palavras são muito mais do que palavras. É preciso muita atenção no tratamento dessa ferramenta. É preciso a consciência da importância que as palavras assumem quando mal utilizadas.

Existe uma frase (proferida pelo personagem Barry Champlain, no filme Talk Radio, do cineasta norte-americano Oliver Stone) que ilustra muito bem a importância de o que se diz e de como se diz, para o processo de comunicação entre as pessoas. A frase é a seguinte: "Paus e pedras podem causar ferimentos graves, mas as palavras podem causar danos irreversíveis".

O Marketing Pessoal é uma necessidade fundamental para quase todas as pessoas. As modernas tecnologias de comunicação e a relativa facilidade com que uma pessoa pode expor a si próprio ou as suas idéias gerou um paradoxo genial: todo mundo pode aparecer mais do que se podia aparecer no passado e isso faz com que todo mundo desapareça no meio de uma multidão de gente aparecendo. Criou-se uma coisificação insuportável que transforma cada um de nós em pequenos grãos de areia no meio de um enorme deserto.

É uma sensação meio estressante, mas não é o fim. Trata-se apenas do processo de ajustamento da humanidade para um novo momento, uma nova era: a era da comunicação eletrônica total, a comunicação com a velocidade da luz.

Mas, para quem pensa que tudo mudou, que tudo o que se sabia sobre relacionamento entre pessoas perdeu a validade e que estamos num irreversível processo de esvaziamento, eu tenho boas notícias: a natureza humana continua igual. As mesmas virtudes e os mesmos defeitos que construíram e destruíram mitos, heróis e bandidos continuam presentes naquilo que há de melhor na humanidade. A natureza humana.

Isto significa que os sentimentos e os processos internos de entendimento, compreensão, registro de mágoas, sofrimentos, amor, ódio, perdão... tudo continua do mesmo jeito que sempre foi. Nada disso foi afetado pela vertiginosidade dos nossos tempos. Nada disso entrou no turbilhão da velocidade da luz.

O Marketing Pessoal, em menor ou maior grau implica relação entre pessoas. E, na relação entre pessoas, as palavras ditas ainda têm uma força descomunal: a força da interação. As palavras são elos fundamentais para o processo de troca de sentimentos.

Muita gente acha que não precisa se preocupar tanto assim com o que diz ou como diz as coisas. Esquece que as pessoas não vêm com uma tecla "Del" ou "Back Space". Esquece que uma informação a mais pode ser recebida e absorvida por uma pessoa, mas não pode ser sobreposta a uma informação anterior (isto só é possível nos computadores). As pessoas, por terem uma memória praticamente ilimitada, não perdem nenhum registro, não esquecem nada. A menos que seja uma coisa sem importância.

Assim sendo, qualquer pessoa que deseja desenvolver uma estratégia eficiente de Marketing Pessoal, seja para fins políticos, profissionais ou pessoais, precisa se dar conta de que "cuidar da língua" continua a ser uma necessidade vital.

É preciso desenvolver técnicas de concentração e autocontrole para caminhar nesta floresta. Não se pode sair por aí, dizendo tudo o que se pensa, da maneira que nos vêm à "telha".

O nosso corpo talvez tenha cicatrizes físicas cujas causas já foram totalmente esquecidas. Mas as causas das cicatrizes que ficam no espírito, decorrentes de coisas desagradáveis que nos foram ditas, essas não são esquecidas nunca.

Políticos em reta final de campanha, empresários em processo de concorrência importante, executivos em disputa por posições, atletas no calor de competições, amantes no vulcão das paixões... parem, respirem e pensem antes de dizer qualquer coisa. As palavras importantes, quando não são ditas, fazem falta para o resultado que se procura. Mas, quando são ditas na hora errada, para a pessoa errada ou da maneira errada, podem provocar desastres cujos resultados serão sentidos por muitos e muitos anos.

Palavras são armas poderosas que devem ser usadas com cuidado e atenção. Para atingir o alvo sem causar danos ao próprio usuário.





PADILHA, Ênio. 2007





(extraído do livro "MARKETING PESSOAL E IMAGEM PÚBLICA", página 117)






Comentário #1 — 26/02/2007 16:29

Francisco Carlos Gomes — Engenheiro e Professor — Lavras

Como vai Ênio. É um prazer ler seus textos. Na universidade sentimos uma grande necessidade de falar e ensinamos os alunos a se manifestarem, mas ultimamente tenho notado que estamos esquecendo de que ouvir também faz parte do aprendizado. Aos mais resignados cabe também uma velha piadinha de corredor..." é melhor ouvir isso do que ser surdo". Um abraço.
Francisco (UFLA).

Comentário #2 — 27/02/2007 07:40

Ênio Padilha — Engenheiro — Balneário Camboriú

Grande professor Francisco. Que prazer tê-lo entre nós. Seja bem-vindo.
O seu trabalho em Lavras é um projeto vitorioso. Parabéns.

Comentário #3 — 27/02/2007 10:36

Sergio Santos — Eng. Civil — Fortaleza-Ce

O texto do Enio sobre o poder das palavras me fez recordar de uma antigo texto cristao que hoje faz parte das Escrituras Sagradas. Quao praticas ainda sao estas palavras, mesmo tendo sido escritas ha 2000 anos! Como disse o Enio, o ser humano continua o mesmo de ha alguns milenios.

(Tiago 3:5-10) Assim também a língua é um membro pequeno, contudo, faz grandes fanfarrices. Vede quão pouco fogo é preciso para incendiar um bosque tão grande! Ora, a língua é um fogo... Porque toda espécie de fera, bem como de ave, e de bicho rastejante, e de animal marinho, há de ser domada e tem sido domada pelo gênero humano. Mas a língua, ninguém da humanidade a pode domar. É uma coisa indisciplinada [e] prejudicial, cheia de veneno mortífero. Com ela bendizemos a Jeová, sim, [o] Pai, e ainda assim amaldiçoamos com ela a homens que vieram a existir "na semelhança de Deus". Da mesma boca procedem bênção e maldição.


Comentário #4 — 27/02/2007 13:38

Ênio Padilha — Engenheiro — Balneário Camboriú

Sérgio Santos, nosso genial chargista.
Você já voltou do seu doutorado nos EUA? Já está nas graças do sol e do mar de Fortaleza?

Comentário #5 — 28/02/2007 17:31

Ana Cristina Cancherini Brandt — engenheira civil — Blumenau

Devo confessar que não é sempre que leio o "TRÊS MINUTOS". Recebo diariamente um grande número de mensagens e precisei estabelecer um critério para priorizar a leitura. Só que hoje me dei conta que esta leitura me faz muito bem! Todas as vezes que me propus a ler, não me arrependi e achei que valeu a pena gastar aqueles minutinhos. Os assuntos são muito bem abordados e sinto como se alguém estivesse sempre querendo chamar a atenção para questões importantes mas que são do cotidiano.
Preciso rever meu critério de seleção das mensagens!
Obrigada,
Ana Brandt

Comentário #6 — 28/02/2007 17:39

Ênio Padilha — Engenheiro — Balneário Camboriú

Ana, que elogio bonito.
Obrigado.
Comentários desses é que me "obrigam" a investir cada vez mais tempo e energia na qualidade do meu trabalho. Nem sempre a gente atinge os níveis que os leitores merecem. Mas, tenha certeza, esse é sempre o nosso objetivo.

Comentário #7 — 01/03/2007 14:36

José Rodrigo S. Pinho — Eng° Civil — Belém - Pará

Prezado Ênio,
continuo lendo, com muito prazer, os seus artigos da semana... de fato, até fico aguardando-os. Achei muito oportuno este último artigo, principalmente, no ato de negociação com o cliente (não dar a resposta para o cliente antes de ter sido contratado!). Porém, sou de opinião que o mundo virtual acaba por afastar as pessoas e deixá-las, de certo modo, insensíveis umas às outras. E como o ser humano é um retrato do ambiente no qual ele está inserido, cada um de nós vai se tornando indiferente com o seu semelhante devido a cada vez menor valorização da vida. Em suma, nós todos estamos "menos sensíveis", por asim dizer.
Abraços.

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