ENGENHEIROS E ARQUITETOS LEVARÃO A CULPA

(Publicado em 26/07/2010)



Não basta, para um engenheiro ou arquiteto, projetar o maior, melhor e mais bonito estádio de futebol. É preciso ter a capacidade de construí-lo.
E não basta construir o estádio. É preciso que ele seja construído no prazo previsto.
E, cumprir o prazo não é o bastante. É preciso que o orçamento original seja cumprido.

Estes são os quatro desafios da Arquitetura e da Engenharia brasileira nos próximos seis anos (Copa do Mundo e Jogos Olímpicos): projetar, construir, construir no prazo e construir respeitando o orçamento original.

Engenheiros e Arquitetos aprendem, na faculdade, a lidar com um mundo ideal. O mundo da técnica, da ciência e da tecnologia. Nesse mundo ideal não existem clientes e suas demandas, muitas vezes urgentes e absurdas. Não existem políticos e suas intenções nem sempre límpidas e transparentes; não existem empresários gananciosos (construtores, empreiteiros, fornecedores de material, locadores de equipamentos…) querendo levar vantagem em cada etapa da obra. No mundo ideal das escolas de Engenharia e de Arquitetura essas dificuldades não são incluídas no planejamento da obra.

Por isso os engenheiros e arquitetos, quando apresentados ao mundo real, não têm instrumentos intelectuais para lidar com ele e acabam sendo engolidos, virando massa de manobra de luxo. Virando os caras que vão levar a culpa lá no fim da história.

Tenho minhas sinceras dúvidas sobre se a Engenharia e a Arquitetura brasileiras (aí representadas pelo Confea, pelos Creas, pelas entidades de classe e pelos sindicatos) já se deram conta do momento crítico (da oportunidade e do risco) que significam esses dois grandes eventos para o desenvolvimento das nossas profissões. Podemos chegar em 2016 fortalecidos e respeitados (no Brasil e no Mundo) como profissionais de nível internacionais ou podemos ser responsabilizados pelos problemas resultantes. Nunca é demais lembrar que os políticos e os empresários gananciosos já estão treinados nisso de se livrar da culpa, jogando-a no colo de quem estiver mais próximo. E, nesse caso, nem precisa ser gênio pra adivinhar quem é que estará bem próximo, para ser responsabilizado.

Não são apenas os estádios, os aeroportos, portos, estradas, hotéis, centros administrativos e outras obras de utilização direta na Copa e nos Jogos Olímpicos. Serão centenas, milhares, talvez milhões de obras (e reformas) em todo o Brasil que envolverão muitos engenheiros e arquitetos, que precisam ficar atentos ao fato de que, dessa vez estamos falando de eventos. E que, quando tratamos com eventos temos de vencer os três desafios propostos no início deste artigo: Fazer a obra. Fazê-la no prazo correto, e concluir a obra sem comprometer o orçamento original.

Portanto, engenheiros e arquitetos precisam incluir nas suas análises o processo decisório e agir para que ele não comprometa a qualidade do seu trabalho. É atentar para o que eu chamo de A EQUAÇÃO DO EVENTO, já explicada no post COPA 2014: UMA TRAGÉDIA (FINANCEIRA) ANUNCIADA

Geralmente o que acontece é que existe um esforço de última hora para que a coisa fique pronta e haja uma sensação de que tudo deu certo. O caso do Engenhão, no Rio de Janeiro é um exemplo típico. O que aconteceu com a Cidade do Cabo, na África do Sul é outro. A novela do Morumbi, em São Paulo é mais uma… e assim, seguimos, desperdiçando engenharia e arquitetura. E fazendo por 900 milhões o que poderia ser feito por 200 milhões.

Todo mundo ganha. Menos a Engenharia e a Arquitetura.





PADILHA, Ênio. 2010

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