OS NÚMEROS DO JOGO
(ou, de como o futebol pode vir a ser um esporte de engenheiros)

(Publicado em 30/12/2013)



No início de 2009 escrevi um artigo com o título FÓRMULA UM. O ESPORTE DOS ENGENHEIROS no qual discorria sobre o fato de que, na Fórmula Um, a engenharia é considerada uma das estrelas do espetáculo. E, por isso exerce tanto fascinio sobre os engenheiros.

Raramente se pensa no Futebol como um esporte com algum elemento capaz de atrair a atenção de engenheiros em especial. O livro Os números do jogo: porque tudo o que você sabe sobre o futebol está errado de Cris Anderson e David Sally (professores em importantes Universidades americanas e consultores de importantes clubes de futebol no mundo inteiro) parece ter o potencial de alterar esse quadro. O livro mostra que o futebol está cruzando uma nova fronteira. Daqui para o futuro os clubes dependerão cada vez mais de profissionais capazes de saber o que fazer com os números que o esporte produz.

Cris Anderson é especialista em Economia política (e ex-goleiro - amador). David Sally é especialista em Economia comportamental (e ex-jogador de basebol). Aproximaram-se devido ao fato de (além de serem vizinhos) terem ocupações profissionais semelhantes e olharem para o esporte com menos paixão e mais matemática (estatística, para ser mais exato)

Escreveram um livro no qual esse olhar chega ao futebol. Tentam apresentar (e desmistificar) pelo prisma da matemática e da economia, algumas das verdades absolutas do esporte. Vale a pena ler.

O livro dedica o primeiro capítulo (nada menos de 30 páginas) para falar de SORTE e sua influência (e bota influência nisso!) nos resultados das partidas de futebol. Joga um balde de gelo no leitor, afirmando (e demonstrando matematicamente) que muitas partidas poderiam simplesmente ser resolvidas no cara-ou-coroa.

Uma vez estabelecido que uma partida de futebol, isoladamente, é quase uma loteria, resta aos dirigentes, aos treinadores e aos jogadores pensarem em termos de temporada. Ou melhor: temporadas. As estratégias de um time mostram seus resultados no final de uma temporada e não em partidas isoladas.

Algumas fórmulas e estratégias de jogo são analisadas do ponto de vista estatístico. Há uma bela explicação sobre a posse de bola (o futebol praticado pelo Barcelona, pela seleção da Espanha e agora pelo campeão mundial, Bayern de Munich), o jogo aéreo, os contra-ataques e o futebol de guerrilha.

Nós, os fãs de futebol, sempre acreditamos que existem jogadores que desequilibram uma partida ou um campeonato. Que o time que tiver o melhor jogador será o vencedor. Mas a verdade (demonstrada cristalinamente no livro) é que o futebol é um esporte definido pelo elo mais fraco. Isto é: o time que tiver o pior jogador dificilmente pode sonhar com uma classificação na parte superior da tabela. Não importa a excelência do seu melhor jogador.
Por isso o processo de composição do elenco deve ser baseado na qualidade do pior jogador contratado e não apenas da superestrela do ataque.

Nos últimos quatro capítulos os autores tratam da relação dos clubes com seus treinadores, sobre liderança e condução de equipes.
O capítulo 9 (Como você resolve um problema como Megrelishvili?) é um texto que deveria ser adotado em cursos de pós graduação em recursos humanos. Especialmente a análise do Efeito Kohler, que trata dos resultados obtidos com o sentimento de equipe sobre os membros mais fracos ou menos talentosos (tanto nos esportes quanto nas empresas).

Um detalhe importante: o leitor certamente não deixará de observar a quase total ausência de referências ao futebol brasileiro. Isso, claro, não diminue o valor do livro, uma vez que os conceitos apresentados se aplicam completamente ao Brasil e a eventual inclusão do futebol brasileiro na análise não mudaria nenhuma das conclusões do livro.

A ausência do Brasil no livro poderá parecer apenas uma manifestação de eurocentrismo. Um brasileiro diria que "um futebol que ganhou 5 das 19 copas do mundo disputadas até aqui (e ficou entre os quatro primeiros em outras 4 vezes) merece ser avaliado em qualquer estudo de futebol com a pretensão de ser global." No entanto, se observarmos mais atentamente veremos que o livro se sustenta em pesquisas acadêmicas publicadas em congressos e revistas internacionais. Então a ausência do Brasil no livro talvez se deva a ausência de pesquisas importantes sobre o futebol brasileiro nos congressos internacionais.

No início deste artigo eu falei que o futebol está à caminho de se tornar um esporte mais racionalizado. Baseado em números e vencido pelas equipes que tiveram o melhor time de estatísticos e economistas. Os autores vão mais longe. Na página 289, numa das previsões que fazem para o futuro do futebol eles afirmam que "o 4-4-2 será substituído pelo 150-4-4-2". Ou seja: para que o time vença dentro do campo, terá de haver um batalhão de umas 150 pessoas, entre treinadores, nutricionistas, fisiologistas, médicos, dentistas, olheiros, analistas de jogos, estatísticos, economistas... e, quem sabe, engenheiros.

Não sei quanto a vocês, mas eu acho isso muito bacana





PADILHA, Ênio. 2013




REFERÊNCIAS:
1) ANDERSON, Chris. SALLY, David Os números do jogo; por que tudo o que você sabe sobre futebol está errado. São Paulo: Paralela, 2013.




DEIXE AQUI O SEU COMENTÁRIO

(todos os campos abaixo são obrigatórios

Nome:
E-mail:
Profissão:
Cidade-UF:
Comentário:
Chave: -- Digite o número 1468 na caixa ao lado.

www.eniopadilha.com.br - website do engenheiro e professor Ênio Padilha - versão 7.00 [2020]

powered by OitoNoveTrês Produções

19/04/2024 15:51:15     6196863

7567