A PALAVRA É: URBANIDADE
(Jean Tosetto)

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Existe uma diferença fundamental entre ser urbano
e ter urbanidade.




JEAN TOSETTO
www.jeantosetto.com





Quando o CAU – Conselho de Arquitetura e Urbanismo – foi criado mediante lei federal, no apagar das luzes do mandato do presidente Lula, todos os arquitetos brasileiros passaram a ser denominados oficialmente como “arquitetos e urbanistas”. Desde então, somente os arquitetos – e urbanistas – poderiam ser responsáveis pelo planejamento das cidades, como se especuladores imobiliários e agentes políticos não tivessem nada com isso.

A realidade é bem diferente, e não pode ser consertada com uma simples canetada. No mundo das leis o Brasil deveria ser um país maravilhoso, e nós sabemos que não é por uma razão muito simples: não falta ao povo brasileiro arquitetos e urbanistas, falta ao povo brasileiro gente com urbanidade.

O que é urbanidade?

Lendo os dicionários vamos saber que urbanidade é sinônimo de afabilidade, cordialidade – condições típicas de pessoas que agem com delicadeza, atenção, polidez.

Temos a tendência de atribuir a falta de urbanidade às pessoas que não moram nas regiões urbanas. Relacionamos preconceituosamente aos sertanejos, caipiras e matutos um jeito bruto de se comportar, com a falta de modos à mesa, por exemplo. Mas hoje em dia é mais fácil encontrar gente com urbanidade na roça do que nas cidades.

Pode apostar sua lapiseira laranja ponta 0.9 mm de que a origem do azedume e da malcriação de muita gente que você conhece pode ser parcialmente debitada ao advento do automóvel. Que máquinas podem ser mais intrinsecamente relacionadas com as grandes cidades do que os carros? As metrópoles estão coalhadas deles.

Não se culpe por gostar de carros, pois eles também são conhecidos como uma expressão de liberdade, que aparentemente conferem aos seus condutores e passageiros, pretensa mobilidade entre cidades e regiões.

Sobre o comportamento ao volante de um carro, o saudoso jornalista Expedito Marazzi já escrevia em 1965, no “Guia Prático do Motorista”, sobre a súbita mudança de humor das pessoas, assim que engatavam a primeira marcha.

Nesta interessante publicação distribuída por uma rede de postos de combustíveis, o autor retratava que verdadeiros cavalheiros – distintos gentlemen – poderiam se tornar bestas humanas dentro de seus possantes, agindo de modo agressivo e desrespeitoso com pedestres e demais veículos, devido à autossuficiência e o sentimento de superioridade transmitido pelos carros.

Cinco décadas depois, podemos afirmar que muita gente continua agindo com deseducação mesmo depois de desligar a chave de contato. Talvez a explicação disso esteja no fato de que as pessoas passem cada vez mais tempo dentro de automóveis, a caminho do trabalho ou do estudo.

Aquele imbecil de quatro costados que trafega pelo acostamento de uma via congestionada, fechando você lá na frente, é o mesmo sujeito que apoia os pés perto da sua nuca, na poltrona do cinema. Já o sujeito que buzina na sua traseira, antes mesmo do sinal de trânsito ficar verde, é o mesmo cara que não presta atenção quando você lhe explica um procedimento burocrático, pelo qual você será cobrado pela morosidade de terceiros lá na frente.

Para a falta de urbanidade não existem projetos de urbanismo milagrosos. A grande ilusão que os arquitetos – agora também urbanistas – podem nutrir, é que das suas pranchetas sairão obras capazes de mudar o comportamento das pessoas. Um arquiteto não deve projetar nada pensando no homem ideal, mas deve projetar tudo que seja ideal para o homem.

Urbanidade é uma questão de educação, não de urbanismo.






JEAN TOSETTO é arquiteto e urbanista formado pela PUC de Campinas. Desde 1999 realiza projetos residenciais, comerciais, industriais e institucionais. Em 2006 foi professor da efêmera Faculdade de Administração Pública de Paulínia. Publicou o livro “MP Lafer: a recriação de um ícone” em 2012 e o livro ARQUITETO 1.0 em parceria com o Eng. Ênio Padilha em 2015.

Visite o website: www.JeanTosetto.com
Faça um contato com o autor: jean@tosetto.net




a imagem que ilustra este artigo (no topo) foi retirada do famoso desenho animado da Disney (Motor Mania, 1950) que tem tudo a ver com este tema. Veja AQUI

Comentário #1 — 27/06/2016 10:24

PAULO CESAR BASTOS — Engenheiro Civil — Salvador-BA

Valeu, Jean Tosetto. É isso aí.

Sem educação, não tem solução, mas junto com a instrução é preciso o saber do direito e do dever do cidadão.

Elementar, mas precisam acreditar para o país avançar.

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