UMA CONVERSA COM QUEM É CONTRA
A COPA DO MUNDO NO BRASIL

(Este artigo foi publicado em 07/05/2014 - Dia em que o técnico Felipe Scolari convocou a seleção que disputará a Copa do mundo pelo Brasil.)





Não vou deixar de ser amigo de alguém só porque ele é contra a Copa do Mundo no Brasil. Também não quero que ninguém deixe de gostar de mim só por causa disso. Todo mundo tem direito a uma opinião sobre esse assunto. E ninguém é perfeito. Talvez eu esteja errado, não é?

Mas, se você é da turma dos CONTRA A COPA DO MUNDO NO BRASIL, só peço uma coisa: não se deixe levar por modismos ou por paixões ideológicas. Pense. Use a inteligência. Tenha um bom argumento.

Antes de simplesmente ser contra, veja algumas coisas que eu tenho dito aqui no site. É sobre a Copa do Mundo, sobre a Fifa e sobre o Governo do Brasil (porque é disso que a gente está falando. Ou não é?).

1) Realizar a Copa do Mundo no Brasil é uma grande ideia. Trata-se de um bom negócio, no sentido de que é um investimento que poderia facilmente produzir muitos benefícios. A questão do Legado entra aí: melhorias permanentes no transporte público, construção de hospitais, treinamento de pessoas para a indústria do turismo, ampliação e qualificação da rede hoteleira, ampliação e melhorias significativas nos aeroportos, etc, etc, etc... (se você nunca viu a questão por este ângulo, sugiro ler o Relatório da Ernst & Young Brasil sustentável – Impactos Socioeconômicos da Copa do Mundo 2014 publicado na minha coluna no portal2014.org.br em 2010.)

A maioria dos que são contra a Copa do Mundo só pensa nos Estádios. Mas estádios deveriam ser apenas a ponta do iceberg. E deveriam ser privados. Não com essa montanha de dinheiro público como estamos vendo. Portanto, colocar dinheiro público nos estádios é um desvio da ideia original. Que era, sim, muito boa.

2) Eu não sou contra a Copa do Mundo no Brasil. Sou contra a maneira como a coisa foi feita. Sou contra a maneira como essa grande oportunidade foi desperdiçada. Sou contra o fato de que um bom negócio (que exigia investimentos mas que acenava com uma boa contrapartida) acabou virando um saco sem fundo para o dinheiro público, sem nenhuma contrapartida no horizonte.

Dizer, simplesmente que fazer a Copa do Mundo no país é um mal negócio não é inteligente. Me desculpe. E as pessoas que simplesmente são contra a Copa do Mundo estão questionando a escolha que o país fez. Deveriam estar questionando a maneira como o país se comportou depois que fez a escolha. São duas coisas completamente diferentes.

3) Eu não defendo a Fifa. Obviamente, não tenho a FIFA em boa conta. Na minha modesta opinião, trata-se de uma organização corrupta que contamina de forma decisiva as suas afiliadas pelo mundo inteiro (inclua-se aí, evidentemente, a nossa CBF).

Mas temos que observar o seguinte: a Copa do Mundo é um "produto FIFA". A Fifa vende este produto para quem se apresentar como cliente interessado. Como o dono de qualquer franquia, a Fifa faz exigências para manter a qualidade (ou os canais de desvio de recursos) que deseja para o seu produto. Isso é normal. Cabe aos potenciais clientes aceitarem ou não essas exigências.

Como o presidente da Fifa tem dito reiteradas vezes (e nós sabemos que é verdade) "A Fifa não pediu nem insistiu para que o Brasil aceitasse sediar a Copa do Mundo". Pelo Contrário: foi o governo do Brasil que pediu e aceitou todas as exigências feitas pelo detentor dos direitos sobre o evento. Ponto final. Agora querem que a FIFA dê um jeitinho e aceite menos do que foi prometido.

A FIFA tem seus pecados. Mas não é a culpada pelo fato de a Copa do Mundo no Brasil não ser um bom negócio para os brasileiros. A culpa é do nosso governo, que NÃO OLHOU para a Copa do Mundo como uma grande oportunidade de transformar o país e sim como uma grande oportunidade de se capitalizar politicamente, de acomodar aliados e financiadores de campanha e, o que é mais grave: como uma grande oportunidade de desviar milhões de reais.

4) Eu não sou contra a construção dos estádios em Manaus, Cuiabá e Brasília. Veja bem: não existe a Copa do Mundo de Manaus. Não existe a Copa do Mundo de Cuiabá. O que existe é a Copa do Mundo do Brasil. Ponto.

A Amazônia e o Pantanal são duas coisas importantes do Brasil. Se haverá copa do Mundo no Brasil, tem de ter jogo na Amazônia e na região do Pantanal. É assim que o mundo vê. Essa parte do negócio pode não ser a mais lucrativa, mas, certamente, poderia ser compensada pelos lucros obtidos por outras partes do negócio. O negócio é do Brasil. O ganho tem de ser global. Não precisa ser pontual.

Acontece que, quem tem a mente pequena, não consegue ver o negócio "Copa do Mundo" de maneira global. Quer que os lucros sejam iguais em todas as operações. Isso não existe em nenhum grande negócio.

Nem falei do estádio de Brasília. Porque era só o que faltava, fazer uma Copa do mundo no Brasil e não ter jogo na capital do país.

Mas, se esses argumentos não forem suficientes pra você (ou se você é daqueles que vive comparando escolas e hospitais com os estádios) recomendo a leitura do meu artigo Pense melhor antes de atirar pedras nos estádios da Copa do Mundo escrito em janeiro deste ano.

5) É preciso apontar o verdadeiro erro. Imagine que você é contratado por uma grande empresa multinacional para desenvolver um grande trabalho que envolve cinco ou seis anos de atividade, incluindo viagens internacionais e contatos com outras empresas de muitas áreas industriais. Se você, por negligência, preguiça ou incompetência não conclui essa tarefa de maneira satisfatória ou se, ao final da empreitada não desenvolveu novas habilidades e conhecimentos, não entabulou novos contatos nem cresceu profissionalmente... de quem é a culpa? Onde está o erro? Será que o erro foi ter aceito o trabalho?

Devemos combater o que o governo fez de errado no processo de organização e realização da Copa do Mundo. Cobrar as obras de infraestrutura e de mobilidade urbana que não ficaram prontas. Exigir que elas não sejam esquecidas depois da copa. Ampliar o evento e cobrar resultados nos próximos quatro ou cinco anos. Isso sim, me parece uma atitude patriótica.

Questionar a decisão de fazer a Copa do Mundo ou torcer para que a seleção perca me parece muito infantil e improdutivo.





PADILHA, Ênio. 2014




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