Na final da Copa do Mundo de 2014 declarei que torceria pela Seleção da Alemanha, porque me sentia representado pelo que eles incorporam em termos de crenças, valores e princípios.

A Federação Alemã de Futebol (DFB), pelo que faz desde 2002, representa a valorização do estudo, da pesquisa, do conhecimento; a valorização dos profissionais invisíveis (fisioterapêuta, estatístico, psicólogo, professor de português, gestor do marketing...); a valorização do ambiente social, o respeito a todos os que fazem parte do jogo (não apenas dentro do campo).

Acima de tudo, me identifico com a Seleção da Alemanha, e com a DFB, na valorização do preparo, da formação de base, do respeito ao tempo necessário para que os resultados apareçam.
Um mês antes da Copa do Mundo, enquanto Felipão e Parreira afirmavam que só o título interessava, o presidente da DFB dizia que o título poderia não vir mas que a vitória estava garantida se os alemães conseguissem valorizar o bom futebol e fazer uma grande campanha.

Assim, a seleção da Alemanha representa todas as coisas que eu valorizo, tento incorporar na minha vida e tento ensinar aos meus alunos e às minhas filhas.

A CBF e a Seleção Brasileira, representada pelo José Maria Marins, pelo Marco Polo Del Nero, pelo Gilmar Rinaldi... e agora pelo Dunga (que acabou de ter o seu nome confirmado como o novo técnico) representa tudo o que eu mais desprezo, no esporte e na vida: representa o despreparo, o improviso, o oportunismo, a pressa em obter resultados sem aceitar o caminho que precisa ser trilhado.

A Alemanha aceitou os 12 anos decorridos entre o início do projeto (2002) até a primeira conquista (2014). E estavam dispostos a esperar mais um pouco.

O Brasil da CBF tem pressa. Não faz planejamento de longo prazo. Não aposta no conhecimento técnico nem na educação formal. Acima de tudo, não aceita que um desafio tão grande quanto ser campeão mundial é algo que necessita de um projeto de longo prazo. Que quem quiser os benefícios da colheita precisa aceitar o preço (tempo e percalços) da preparação do terreno e da plantação.

O Brasil da CBF quer colheitas imediatas. E quer colher morangos na roça em que plantou abóboras. Isso pode representar muita gente no Brasil. Mas eu não me sinto representado.

A CBF representa todos os que estão em busca de atalhos para o sucesso. Representa os espertos, os improvisadores e os oportunistas. Representa todos os que medem o sucesso pelas vitórias, sem se preocupar como elas foram obtidas. Isto NÃO ME REPRESENTA.

A vitória (nas partidas e nos campeonatos) deveria ser mera consequência do trabalho de base, da estrutura construída e da valorização do esporte. Mas, no Brasil da CBF a vitória serve como prova de que nada disso é necessário. Serve como prova de que podemos vencer sem fazer a lição de casa. E, principalmente, sem "perder tempo" com o preparo.

PADILHA, Ênio. 2014

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Talvez seja o caso de ler o que eu escrevi, em 2006, sobre a primeira nomeação de Dunga para Técnico da Seleção Brasileira