O TIPO DE PROFESSOR QUE EU NÃO SOU

(Publicado em 14/10/2014)



Neste 15 de outubro comemoramos O DIA DO PROFESSOR. Em 2012 eu publiquei AQUI um artigo contando por que me tornei professor e sobre ser professor em cursos de pós graduação.

Neste ano eu gostaria de falar do tipo de professor que eu quero e procuro ser. E, principalmente, do tipo de professor que eu não sou nem quero ser.

Eu NÃO QUERO SER um professor no qual o aluno NÃO POSSA confiar plenamente.
Professor precisa ter credibilidade absoluta. Não é tão difícil. A receita é simples: estudar muito antes de produzir uma aula. Não adianta estudar o bastante para conhecer o conteúdo. Tem de ir além. Precisa identificar o senso comum sobre o que ele ensina porque esse é o ponto de partida da sua aula. O aluno sempre sabe alguma coisa sobre o assunto. Esse conhecimento, muitas vezes, pode ser equivocado. Então, antes de ensinar o seu conteúdo, o professor precisa desconstruir a convicção equivocada que o aluno tem. E está tarefa nem sempre é fácil. O professor precisa ter credibilidade intelectual. Precisa mostrar que conhece bem a literatura e todas as vertentes da discussão. Precisa mostrar que entende de onde vem a noção (eventualmente errada) que o aluno tem.

Eu não sou um professor engraçado. Não tenho esse dom. E admiro, de verdade, os professores que possuem uma veia humorística, que são naturalmente engraçados, que constroem bordões, que produzem gags e que utilizam isso como recurso didático. Acho o máximo.
Mas morro de pena dos professores que são "sem graça" e que forçam a barra tentando ser engraçadinhos. É patético. Eu fujo disso como o Diabo foge da cruz! Sou "sem graça" mas não sou "sem noção".
Procuro compensar a minha falta de graça com alguns recursos de oratória. Um vocabulário rico, uma gesticulação agradável, um discurso ilustrado, exemplos bem construídos...
Não pensem que é fácil. Seria muito mais tranquilo se eu fosse engraçado.

Não sou o tipo de professor que faz colagem (sem citar as fontes) de conteúdos de cursos ou palestras que tenha assistido. E vende o produto resultante como se fosse criação sua. Isso é muito triste.
Nem sempre é preciso reinventar a roda. Se uma determinada questão já foi muito bem explicada por alguém, o que é que custa usar a mesma abordagem, a mesma explicação, e dar o crédito ao autor, professor ou palestrante? Eu faço isso o tempo todo. Nas minhas aulas sempre tem um flip chart que fica num canto da sala. Cada vez que eu utilizo uma explicação tirada de algum autor ou de um outro colega professor ou palestrante o nome dele vai para o quadro. Assim, no final da aula, os alunos sabem que o conhecimento que receberam não veio só de mim (da minha cabeça) mas também de todos aqueles quer estão naquela lista.

Não sou o tipo de professor preguiçoso, que usa imagens capturadas da internet, piadinhas tiradas de blogs humorísticos ou de autoajuda e vídeos do YouTube (geralmente filmes de propaganda de alguma organização ou produto).
Tento produzir as minhas próprias imagens, meus próprios diagramas e infográficos. E os vídeos que eu utilizo nas minhas aulas são todos produzidos por mim.
Podem não ser grande coisa (os meus vídeos e os meus infográficos). Mas aí faço minhas as palavras do poeta francês Edmond Rostand que, na pele do personagem Cyrano de Bergerac diz, a certa altura, "seja do teu pomar, teu próprio, o que tu colhas. Embora fruto, flor ou, simplesmente, folhas"

Os professores que utilizam está prática preguiçosa de copiar tudo da internet apostam na ignorância dos alunos. Eles sabem que mais de metade da turma nunca viu aquilo antes. Nivelam por baixo a qualidade de suas aulas. Eu, pelo contrário, procuro dar aula no nível do aluno mais culto e preparado da sala. Se eu utilizasse uma dessas coisas e um único aluno reconhecesse que aquilo não era original, eu não me sentiria confortável como professor.

Não sou o tipo de professor que divide o conteúdo em trabalhos de grupos e depois os grupos apresentam os conteúdos em seminários. Acho que essa prática até pode funcionar em cursos de graduação, onde o número de horas aula é maior para cada disciplina. Em cursos de pós graduação, com conteúdos enormes espremidos em cargas horárias reduzidas, esse artifício geralmente penaliza os alunos, que pagam para ter aula com um professor e acabam fazendo todo o trabalho e recebendo aula dos seus colegas. Na maioria das vezes essas "aulas" (dadas pelos próprios alunos) são muito ruins. E seria muito estranho se não fossem.

Por fim, não sou o tipo de professor que faz Dinâmicas de Grupo. Considero esse recurso didático desnecessário para públicos intelectualmente maduros. Dinâmicas de grupo são essenciais no ensino fundamental. São interessantes no ensino médio. Aceitáveis na graduação... Mas em cursos de pós graduação (especialmente em turmas de arquitetos, engenheiros e designers) é o fim da picada! Geralmente é um desperdício de tempo, pois serve apenas para fixar algum conceito.
Pessoas intelectualmente maduras (gente que já consegue ler livros sem figurinhas) conseguem entender um conceito se ele for bem explicado e tiver um bom exemplo ou ilustração. Eu não faço dinâmicas de grupo principalmente porque respeito a inteligência dos meus alunos.

Conclusão:
Acredito no magistério. Acredito em ser professor. Acredito que isto me torna útil para as pessoas em particular e para a sociedade em geral. Tenho orgulho de ser professor. Não preciso de títulos mais "politicamente corretos" ou "marketeiramente estimulantes". Portanto, não sou Educador, não sou Facilitador de coisa alguma e nem sou animador de plateia. Sou, simplesmente, professor.

E tenho orgulho de ser professor. De poder ensinar o que aprendi. E de aprender mais enquanto ensino.
Só isso.





PADILHA, Ênio. 2014





Leia também: PROFESSOR. É O QUE EU SOU





Comentário #1 — 14/10/2014 16:55

Clotilde Fascioni — Do lar e Escritora — Florianópolis

Parabéns, é de professores sérios como você que o Brasil e o mundo precisam e precisarão sempre.

Comentário #2 — 15/10/2022 11:34

Farlley — Músico — Brasília

Conheço seu trabalho, os alunos são teus fãs!

RÉPLICA DE ÊNIO PADILHA

Ainda quero ter a quantidade de fãs que você tem, meu querido Farlley. Só como professor. Nem falo como artista, porque aí já seria muita pretensão.

Comentário #3 — 15/10/2022 11:37

Sabrina Justa — Engenheira Civil — Rio Branco - AC

Quando aceitei o desafio de dar aula ao Ensino Médio, me apoiei em duas coisas:
a primeira foi a metodologia senai de educação, que, quando eu fui aluna deles, era o principal motivo de gostar tanto do instituto.
A segunda, era que eu precisava preparar MUITO BEM a minha base.
Eu sabia que haveriam perguntas, várias perguntas e em um segundo de hesitação minha, eles dariam um Google, teriam sua resposta e eu perderia o primeiro ponto que foi citado aqui: a confiança dos meus alunos.

Vem sendo uma experiência engrandecedora! Poder replicar o que aprendi com os melhores professores que tive, plantar sementes na vida desses jovens através da educação e crescer como pessoa ouvindo as histórias dos meus alunos.

Um feliz dia, Professor! Vem sendo um prazer ser sua aluna!

(Não há problema não ser o professor engraçado quando se tem tanto conteúdo de qualidade transmitido aos seus alunos!)

RÉPLICA DE ÊNIO PADILHA

Querida Sabrina. Você é ótima! Sua carreira como professora está apenas começando. Mas será, com certeza, longa e produtiva. Você vai muito longe!

Comentário #4 — 15/10/2022 12:02

Sebastião Nau — Engenheiro e professor — Jaraguá do Sul - SC

Parabéns pelo texto. Isso me representa. 110% de acordo!!

RÉPLICA DE ÊNIO PADILHA

Pronto. Ganhei meu dia. Representar o Sebah (seja onde for) será, sempre, uma grande honra.

Comentário #5 — 15/10/2022 13:12

MARCOS BANHETI RABELLO VALLIM — Professor — CORNELIO PROCÓPIO

Parabéns pelo excelente artigo, Enio! Vc é na minha opinião um dos melhores que conheço. Gosto do conceito de professor do Clóvis Barros: professor é um explicador. Um bom explicador faz o interlocutor entender. Logo, um bom professor é um bom explicador. Essa é a tua fortaleza. Parabéns, professor Enio Padilha!

RÉPLICA DE ÊNIO PADILHA

Obrigado, meu querido amigo/irmão. Parabéns pra você também.

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