OS PROFISSIONAIS

(Publicado em 01/08/2001)



Responda, amigo leitor: quem são os indivíduos mais perigosos, imprudentes e agressivos no trânsito?

Não é necessário fazer uma pesquisa científica para chegar à resposta: os taxistas, os caminhoneiros e os motoboys (não os motociclistas. Os motoboys!).

O que eles têm em comum (além, é claro, das barbaridades que cometem contra as regras, as leis e o bom senso)?

Resposta: eles são profissionais. Vivem disso. Dirigir no trânsito é o que eles sabem fazer de melhor. Ou, pelo menos, deveria ser.





Imagem: Pixabay de Ulrike Leone



Não parece absurdo, leitor, que exatamente aqueles que deveriam ser o melhor exemplo de perícia, educação, serenidade e competência sejam precisamente os que mais transgridem as mais simples regras e que mais contribuem para tumultuar e tornar desagradável o seu próprio ambiente de trabalho?

Pode parecer, mas não é tão absurdo assim.

Este artigo pretende discutir essa palavra que muita gente estufa o peito pra falar, mas que nem sempre entende o seu real significado: profissional.

Profissional é aquele que exerce, por profissão, uma determinada atividade. Não é um amador. Alguém que é sério, competente, responsável e aplicado no cumprimento dos seus deveres de ofício. Alguém que respeita o seu trabalho, respeita o seu ambiente de trabalho, respeita seus colegas de profissão e age sempre no sentido de dar dignidade ao seu ofício.

É, acima de tudo, alguém que não quer apenas explorar um mercado, mas fazer parte dele, conferindo-lhe importância e valor, realizando um trabalho com excelência.

Eu nunca aceitei a displicência ou a improvisação no trato das coisas da profissão.

Logo que me formei engenheiro eletricista, fui trabalhar para uma empresa onde havia um eletricista "profissional" com seus 16 anos de profissão e, como ele mesmo dizia, cheio de orgulho, "muitos choques elétricos no peito".

Nunca entendi aquele orgulho besta. E ele, por sua vez, nunca gostou das preleções que eu fazia para os novos eletricistas em fase de aprendizado. Eu dizia: "Pra mim, eletricista profissional é um sujeito que entende de eletricidade. Domina a eletricidade. E não é dominado por ela. Um eletricista profissional, com "P" maiúsculo, é aquele que se aposenta sem nunca ter levado um único choque elétrico. É aquele que venceu a eletricidade."

Durante todos os anos em que eu trabalhei em obras, nunca aceitei subir pelo elevador de cargas, circular sem capacete ou sem um calçado adequado. Em obras sob minha responsabilidade, não permitia (sob nenhuma hipótese) que as ferramentas ou equipamentos utilizados pelos eletricistas fossem ligadas por cabos ou conexões elétricas que não estivessem de acordo com as normas e em bom estado.

Alguns chamam a isso de "frescura", eu prefiro chamar de "profissionalismo".

Um profissional não aceita atalhos. Não se arrisca nem arrisca o patrimônio do seu cliente.

Recentemente me inscrevi como participante em um curso de uma renomada fonoaudióloga. Era um curso sobre "O Uso Profissional da Voz", de qualidade absolutamente inquestionável e de uma importância fundamental para quem usa a voz como instrumento de trabalho.

Entre os inscritos (surpresa!) nenhum advogado, nenhum professor, nenhum palestrante ou instrutor, nenhum locutor de rádio, nenhum cantor... Os "profissionais da voz" não apareceram. Já sabem tudo.

No curso aprendemos muitas coisas interessantes sobre o funcionamento dos órgãos que dão origem à voz. Aprendemos exercícios para corrigir problemas, melhorar o desempenho e proteger a saúde. Mas a coisa mais importante que aprendemos é que cuidar da voz (para quem faz uso profissional da voz) é, antes de tudo, uma questão de respeito para com o público. É a busca da excelência profissional, saindo do discurso vazio e alcançando a prática.

Muitos "profissionais da voz", no entanto, preferem continuar acreditando que já sabem tudo. E continuam "aquecendo a voz" com conhaque. Limpando a garganta com um pigarrear muito "elegante" e "profissional". E acreditando que uma "voz de trovão" agrada a todos.





PADILHA, Ênio. 2001





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