O RAIO CAI, SIM.

(Publicado em 28/06/2004)



“O raio não cai duas vezes no mesmo lugar".

Quantas vezes você já ouviu essa afirmação. Em conversas com amigos, em cursos ou palestras, na televisão, no cinema, em livros, jornais, revistas...

Então, já que estamos falando de frases de efeito, que tal essa: “uma bobagem, dita por um milhão de pessoas, pode até ser reconhecida como verdade, mas não deixa de ser uma bobagem”. Gostou?

Pois essa história de que “o raio não cai duas vezes no mesmo lugar” se encaixa perfeitamente neste grupo: não passa de uma bobagem. Uma grande bobagem, recitada, diariamente, por milhões de pessoas.

A verdade é que, exatamente ao contrário, um raio cai, sim, muitas vezes, no mesmo lugar. É da natureza das descargas atmosféricas (os raios). É o princípio natural que permitiu ao homem inventar o pára-raios. Pergunte a qualquer físico. Ou a qualquer engenheiro eletricista... '

Comecei o artigo citando essa afirmação tola porque tenho certeza de que ela não está sozinha no mundo. Principalmente quando o assunto é marketing. Aí temos um terreno fértil para inúmeras frases de efeito e afirmações que, vistas com certa dose de desatenção ou ingenuidade podem parecer muito razoáveis (como a história do raio):

“O cliente sempre tem razão.”

“Oferecer um bom produto ao mercado é tudo o que um profissional precisa para ter sucesso profissional.”

“A propaganda é a alma do negócio.”

“O olho do dono é o que engorda a boiada.”

“Cliente que pergunta pelo preço antes de qualquer outra coisa é, por certo, um cliente ruim.”

“Quanto maior a qualidade do produto, melhores serão os resultados comerciais para o fornecedor”

Tolices. Tolices que não resistem a cinco minutos de argumentação séria. Frases que são repetidas sistematicamente por pessoas que, no mais das vezes, têm preguiça de desconfiar das verdades absolutas.

Acreditam no discurso hipócrita de que “a voz do povo é a voz de Deus”.

Eu sempre tive um pé atrás com as frases de efeito. E nunca fui de acreditar nas verdades absolutas. Não que eu tenha sido, na vida toda, um contestador inveterado. Um sujeito do contra. Não. Apenas não aceitava (e não aceito até hoje) uma coisa como “verdade” apenas porque “todo mundo diz”. Acho que, muitas vezes, o que temos aí é apenas a cristalização da preguiça coletiva de pensar e de reagir.

Muita gente, por exemplo, usa a palavra “marketing” quando, na verdade, está se referindo a atividades que são apenas de Propaganda ou Publicidade. E quando eu digo “muita gente” estou me referindo, inclusive, a autores de alto calibre, professores renomados e colunistas consagrados. Gente que, por dever de ofício deveria saber perfeitamente a diferença.

Mais de 90% de tudo o que se escreve em jornais e revistas sob o título “MARKETING” é, na verdade alguma coisa sobre propaganda, publicidade, vendas, comunicação, negociação...

Quase todos os gerentes, chefes ou diretores de marketing das empresas são, na verdade, gerentes, chefes ou diretores de vendas, publicidade, propaganda ou coisa assim.

É uma coisa irritante. E eu penso, sinceramente, que isto deveria ser assumido como um desafio para as escolas de Administração de Empresa e nos cursos de Pós-Graduação da área. Nenhum profissional deveria receber seu diploma ou certificado se não tivesse “no sangue” a clareza desse conceito básico.

Como é que alguém pode escrever sobre marketing, fazer palestra sobre marketing ou dar consultoria sobre o assunto se não domina o conceito fundamental: a definição do significado da palavra. Vale tanto quanto um engenheiro eletricista que acredita que “o raio não cai duas vezes no mesmo lugar”!





PADILHA, Ênio. 2004





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