2016 PODE SER UM ANO BEM RUIM! (OU NÃO.)

(Publicado em 30/12/2015)



Até que ponto a crise é uma boa desculpa
para suas perdas e fracassos neste ano novo?



Existe, de fato, uma crise econômica no Brasil? Ou, como insistem alguns, isso é só \"uma invenção da mídia golpista\"?
Pra começar, esclareço que não faço parte da tropa de choque do governo. Não votei neles. Não defendo o partido nem a presidentA nem o grande Guru.

Até entendo que a percepção de crise econômica beneficia politicamente uma parcela da oposição que pensa hoje como os atuais governantes pensavam há 15 anos: \"quanto pior melhor!\"
Mas vejo FATOS que não podem ser ignorados: empresas demitindo, projetos sendo interrompidos, empregados que ainda não receberam os salários de dezembro nem o décimo terceiro, governos estaduais e municipais desesperados pela falta de recursos para manter serviços mínimos... isso é grave! E é real.

No entanto acredito que arquitetos e engenheiros (e seus escritórios) devem ter uma visão menos desesperada da nossa atual situação.

Há 30 anos lido com o mercado de Engenharia e Arquitetura. Me formei em 1986. Atravessei um oceano de crises políticas (Sarney, Collor, Itamar) e planos econômicos fracassados (Plano Cruzado, Bresser, Cruzado II, Collor I, Collor II), até chegarmos à URV que desembocou no REAL e estabilizou a economia, em 1993.

Mesmo assim (depois de estabilizada a moeda e a economia), seguimos nos confrontando com questões comerciais, na busca pela nossa sobrevivência. Todos os dias, arquitetos e engenheiros, nos seus escritórios, estão lidando com seus clientes, avaliando investimentos, decidindo sobre contas a pagar, credores, concorrentes, fornecedores, as relações com os funcionários e outros compromissos.

A sensação de CRISE parece ser uma companhia permanente. Essa malvada senhora está sempre por perto, como um monstro que nos espreita permanentemente. E a crise sempre nos remete a uma sensação de impotência e desmotivação. Nos leva a acreditar na degeneração dos valores e no apocalipse.

A Crise e os problemas do dia-a-dia, muitas vezes nos “empurram” para decisões que reduzem a zero a dimensão social do nosso trabalho. Pior, roubam-nos o tempo que precisa ser dedicado para as necessárias reflexões sobre a ética e o comportamento social e profissional.



\"O Brasil vive, neste momento, a mais grave crise moral, política e econômica de toda a sua história.\"
Se você pensa que a frase acima foi dita na semana passada, por algum personagem contemporâneo da nossa política ou por um intelectual de direita/esquerda, surpreenda-se: o autor da frase é Joaquim Gonçalves Ledo e a frase foi dita da tribuna, quando ele era Deputado Constituinte, em 1823. Isso mesmo: o Brasil tinha apenas um ano de vida como nação independente. Mas o discurso da crise já estava inaugurado.

Esse discurso corrente (e dominante) que supervaloriza a crise e faz apologia ao fim dos tempos acontece em todos os níveis (pessoal, profissional, social e político). Ele acaba criando nas pessoas um estado de desesperança que leva o profissional a considerar irrelevantes os valores éticos e as responsabilidades sociais.

As relações profissionais e comerciais são transformadas em um VALE-TUDO sem compromisso com o futuro. Nas relações comerciais o que conta é sobreviver. Levar vantagem, crescer financeiramente. Vencer na vida passou a ser sinônimo de vencer aos outros. Chegar na frente, custe o que custar.

Em defesa da sustentabilidade das nossas profissões (e dos nossos negócios) não podemos aceitar o discurso da crise. Não podemos considerar razoáveis as desculpas da falta de dinheiro, da falta de tempo nem da falta de oportunidades.

O que as pessoas chamam de CRISE, devemos chamar de CONJUNTURA, que precisa ser entendida e enfrentada. E não utilizada como desculpa ou justificativa. Isto não significa uma cegueira empreendedora e nem a desatenção aos perigos reais que a conjuntura apresenta. Existem problemas? Sim, os problemas realmente existem. Mas existem muitas saídas. Muitas soluções. Muitas alternativas. Muitas possibilidades de ação sobre a conjuntura. Soluções que muitos profissionais não estão sequer considerando, porque preferem ficar confortavelmente abrigados pelo discurso da crise.

É preciso, portanto, mais otimismo na nossa visão da profissão, do mercado, do nosso país e até mesmo do mundo. É fácil ser pessimista. Tem até um certo charme intelectual, uma vez que o pessimista, geralmente, costuma se auto-proclamar “realista”. Mas eu garanto, é mais eficiente e eficaz ser otimista.



ÊNIO PADILHA
www.eniopadilha.com.br | professor@eniopadilha.com.br



PS. Você deve estar se perguntando: O QUE FAZER?
Eu não conheço o seu caso especificamente, mas, no geral, para os pequenos escritórios de Arquitetura e Engenharia, recomendo o seguinte:

(1) Garanta que os efeitos da crise não sejam maiores do que o necessário: não cometa o erro de eliminar investimentos em recursos que comprometem o crescimento da empresa depois que a crise passar. Portanto, assinatura de revistas, participação em palestras e cursos, aquisição de livros, participação em congressos e outras atividades desse tipo devem ser os últimos a serem cortados;

(2) Não desmonte sua equipe de trabalho: bons empregados são recursos valiosos. Demora muito tempo para formar uma boa equipe. Algumas vezes com pesados investimentos pessoais e financeiros no processo de formação. Não jogue essa riqueza no lixo se não tiver certeza absoluta de que a coisa é irreversível;

(3) Não pare de planejar. Não pare de organizar o seu escritório: a crise não vai durar para sempre. Aproveite para investir nas coisas que têm pouco custo financeiro, como a organização interna do escritório, a implantação de novos modelos de processos produtivos e de gestão. Não deixe de estudar e de treinar os empregados para estar melhor preparados na hora que o sol voltar a brilhar;

(4) Não pare de divulgar o seu escritório. Invista em comunicação: Henry Ford já dizia, “se me restasse apenas um dólar eu investiria em propaganda”. Esta frase não se tornou popular por acaso. É porque, na prática ela tem se mostrado muito verdadeira. Encolher-se ou esconder-se em períodos de crises é muito perigoso. Porque sempre poderá acontecer de um concorrente seu aproveitar-se disso para apresentar-se ao mercado e conquistar espaços importantes e estratégicos.

E, finalmente,

(5) Prepare-se para a próxima CRISE: a única certeza desta crise é que ela não será a última. É certo, também, que alguns problemas que o seu escritório está enfrentando hoje, poderiam ter sido evitados se você tivesse feito alguns investimentos em planejamento e gestão. Em todas as crises, as empresas ou escritórios menos afetados são as mais antigas e as mais bem estruturadas, porque a crise demora mais para alcançar esse grupo de competidores. Seja uma dessas empresas na próxima crise.




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---Artigo2015 ---Administração




a imagem que ilustra este artigo foi retirada do website media.licdn.com

Comentário #1 — 02/01/2016 14:36

Sandro Alencar Fernandes — Analista de Sistemas — Rio do Sul

Parabéns Ênio,
Novamente um belo texto, atingindo a nós empresários, ou melhor, seres humanos na veia. Vamos em frente enfrentar a conjultura.
Abraços

RÉPLICA DE ÊNIO PADILHA

É isso aí, Sandro.
Que venha 2016. Com conjuntura e tudo!

Comentário #2 — 29/12/2016 10:50

Reginaldo Barreto — Engenheiro Civil — Luanda - Angola

Boas Eng. Enio,
Como seu fiel seguidor te acgradeço pelos constantates conselhos que nos deixas. Continue assim. Felicidades de festas felizes.
Abraços

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