METÁFORA FUTEBOLÍSTICA (4) -
A PREPARAÇÃO FÍSICA

(Publicado em 21/06/2016)



Há alguns anos tive o privilégio de viajar sentado ao lado de um professor de Educação Física que trabalhava com futebol. Ele é preparador físico, com passagens por alguns bons clubes da série A do Brasileiro. Faz parte da comissão técnica de um dos bons técnicos do país (geralmente ele é contratado -- e demitido -- junto com o tal treinador).

Conversamos sobre diversos aspectos da profissão dele e, num determinado momento estávamos falando sobre o fato (natural) de que os jogadores geralmente não gostam do trabalho de preparação física.

Ele concordou comigo, mas aí fez uma ressalva. Ele disse: "isso não é assim em 100% dos casos. Na verdade, quanto maior o clube, menor é a rejeição dos jogadores à preparação física. Na seleção brasileira, o problema praticamente não existe. Na verdade, os grandes jogadores não aceitam bem os exercícios de preparação física porque são grandes jogadores. Eles se tornam grandes jogadores porque aceitam a preparação física como um dos ingredientes necessários para o sucesso profissional, assim como o talento, a concentração, a alimentação e os equipamentos esportivos. Tudo importa. Não se faz um grande atleta só com talento e vontade."

A essas alturas da conversas eu já estava viajando na metáfora. Como eu não tinha pensado naquilo antes? Nos escritórios de Arquitetura e de Engenharia acontece a mesma coisa.

Como você sabe, Engenheiros e Arquitetos gostam é de fazer projeto. Fazer projeto é o nosso "jogar bola". As outras coisas são os "ossos do ofício".

Alguns profissionais entendem logo que os tais ossos do ofício (análise de estratégias, administração dos processos produtivos, recursos humanos, controle financeiro, arquivos, registros, códigos...) são partes importantes do processo de crescimento profissional.

Geralmente esses profissionais procuram ajuda, fazem cursos, leem livros e desenvolvem soluções nessas áreas. E, por conta de terem essas questões bem resolvidas, podem ver seus talentos e suas competências técnicas frutificando com mais vigor.

Outros (infelizmente são muitos) ficam brigando com esta realidade. Ficam negando a importância dessas coisas todas. Só querem saber de atender clientes e fazer projetos. Conduzir a bola, driblar, chutar... (não é isso o que importa?)

Esse povo todo está, infelizmente, condenado à série Z. Disputam um campeonato de várzea. São jogadores de fim de semana.

Eles costumam dizer que não podem investir tempo, dinheiro e energia nessas coisas de administração porque isso só pode ser feito por escritórios grandes, que têm caixa pra isso.

Tolos. Não veem que os grandes escritórios são grandes porque, antes, investiram "nessas coisas de administração".

Assim como os jogadores dos grandes clubes e da seleção brasileira enfrentam os trabalhos de preparação física sem reclamações e malandragens, os profissionais que capitaneiam os grandes escritórios são justamente aqueles que sempre entenderam que um escritório de Arquitetura ou de Engenharia não se resume a fazer projetos e resolver problemas técnicos.

Administração é a chave.
Um jogador talentoso sem um excelente preparo físico pode não ter força ou resistência para suportar a intensidade de um jogo num campeonato de alto nível.
Um arquiteto ou engenheiro, por mais talentoso que seja, se não tiver ao seu dispor uma estrutura operacional minimamente capaz, vai amargar a obscuridade.

Se você duvida, não custa nada lembrar a história da empresa criada por Emílio Baumgart (o mais talentoso e genial calculista de estruturas de concreto armado que existiu no Brasil). A firma construtora que ele fundou em 1923, responsável pela construção do Cine Capitólio, foi um fracasso total: dois anos após a fundação foi levada à falência.

Emílio Henrique Baumgart era um gênio. Não há quem discuta isso. Se nem ele resistiu à falta de uma boa administração, imagina um de nós.





PADILHA, Ênio. 2016




A imagem que ilustra este artigo é de um treinamento físico do Figueirense Futebol Clube, de Florianópolis-SC (Série A do Brasileiro em 2016)





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