CRIATIVIDADE

(Publicado em 06/11/1995)



Vamos partir de duas definições simples:
Criatividade: capacidade que uma pessoa tem de abordar um problema ou parte dele de maneira diferente da usual.
Inteligência: capacidade de conceituar e explorar abstrações. Facilidade para resolver problemas combinando conhecimentos e experiências.

Muita gente acredita que as pessoas criativas são assim porque nasceram assim. Que a criatividade é um dom, uma dávida divina, uma herança genética.
Mas não é verdade.

Como também não é verdade que as pessoas criativas são assim porque receberam treinamento especial ou foram aperfeiçoadas por adição de técnicas ou conhecimentos.

Uma pessoa criativa não é alguém a quem foi acrescentado alguma coisa. Ao contrário: uma pessoa criativa é alguém de quem a criatividade original não foi retirada, eliminada.

O potencial criativo de uma pessoa, quando ela nasce, é igual ao de todo mundo. Nem mais nem menos. Existe uma parte do corpo humano que é responsável pelas manifestações de criatividade do indivíduo: é o hemisfério direito do cérebro. Se esse hemisfério não for impedido de funcionar, a pessoa desenvolverá habilidades criativas da mesma forma como desenvolve raciocínios lógicos e abstratos.

Toda criança é criativa. Surpreendentemente criativa. As crianças possuem a simplicidade da percepção, a lógica das soluções inesperadas, as explicações mais fantásticas para tudo o que as cerca.

E ninguém vê problema nenhum. Por algum tempo.
Depois de uma certa idade (que varia de família para família, de região para região, enfim, varia conforme os valores da sociedade) a criança começa a ser “educada” para viver em sociedade. Começa a receber noções de certo e errado, de pode ou não pode, de aprovado ou reprovado.

Então ela aprende que não se deve alterar o estado natural das coisas. Que não se deve querer mudar o mundo. Que certas palavras ou atitudes podem incomodar “A”, “B” ou “C”. Aprende, enfim, que manifestações de criatividade podem atrapalhar a vida.

A criança passa a ser elogiada e recompensada por suas ações racionais (esperadas). Da mesma forma, passa a ser recriminada e punida por ações ou interpretações não convencionais.

A conseqüência natural é que essa pessoa vai, aos poucos, embotando as reações criativas. Vai minimizando todo o seu lado “diferente” de ser no mundo. E será, aos 20, 25 anos uma pessoa “normal”: totalmente desprovida da menor capacidade de imaginar, de sonhar, de inventar... de criar, enfim.

Não ser criativo, não inventar nada, não fazer uma leitura diferente do mundo que nos rodeia. Esse é o preço que se paga para não incomodar ninguém. É o preço que se paga para escapar da reprovação das pessoas e das represálias.

Ser criativo não é apenas inventar coisas. Ser criativo é ver as coisas de uma forma diferente. É enxergar aquilo que as outras pessoas não estão enxergando. É perceber a existência de caminhos alternativos.

A criatividade é uma capacidade que pode ser readquirida, com treinamento e com exercícios. A criatividade não é uma manifestação irracional. Não há nada de errado em ser criativo. Todas as pessoas precisam procurar, dentro de si, a sua porção artista. O seu lado criança.

Para ajudar nesta busca, procure (dentro de si mesmo) por correntes, cordas, grades, cercas, carimbos de “é proibido” ou “não pode” ou de “Fulano não vai gostar”. É lá, junto a esses instrumentos de repressão que você vai encontrar a pessoa criativa que existe dentro de você.

Encontrou? Então relaxe, acalme-se. Não liberte o prisioneiro assim, “de sopetão”, de uma só vez. Vá soltando aos poucos, desamarrando um pouco a cada dia. Destravando alguma grade de tempos em tempos, até atingir a completa liberdade de ser criativo novamente.

A sua vida vai ser muito diferente. Você vai viver melhor. Você vai gostar muito mais da sua vida.
Não esqueça: ser feliz talvez seja, simplesmente, gostar da vida.





PADILHA, Ênio. 1995





Comentário #1 — 06/11/2007 19:58

Ricardo Fernandes — Empresário — Mossoró-RN

Caro Ênio,Confesso que durante toda a leitura de seu texto sobre criatividade eu fiquei com uma estranha cena na mente: O pai sentado no chão brincando com seus filhos. Você tem tempo para isso? Eu desejo ter esse tempo quando meus filhos chegarem....Porque este tipo de vivência é a mais valiosa para plantar bem fundo dentro do ser de cada um de nossos filhos a importância de ser criativo e, principalmente, de ensinar desde cedo que o simples ato de brincar ou de ser criativo é algo que consciente ou inconscientemente nos liga àquela pessoa que teve tempo de brincar conosco. Meus pais não tiveram este tempo por causa das brutais exigências que o trabalho fazia deles. Mas houve uma tia que era mágica...Maria tinha raro talento para artes, pinturas e artesanatos-sem falar das brincadeiras mágicas. A mais mágica delas era o cineminha de sombras que fazia com uma lanterna e silhuetas de pessoas e animais feitas no papelão que gerava a sombra na parede enquanto ela contava uma história.

RÉPLICA DE ÊNIO PADILHA

Prezado Ricardo
Tive a felicidade de ter (ou de inventar) esse tempo para brincar com as minhas filhas

Hoje elas estão crescidinhas e eu posso ver como aquilo (além de prazeirozo) foi uma plantação. A colheita é agora. E será pelo resto das nossas vidas!

Comentário #2 — 07/11/2007 08:47

Maristela Macedo Poleza — arquiteta — rio do sul

É isso aí ...lá na infãncia damos asas, cortamos ou reconduzimos o processo natural da expansão da capacidade criadora.

Brinco até hoje com a criatividade das minhas meninas de 17 e 22 anos.

È preciso instrumentar pais para que eles se recoloquem frente aos filhos.

Comentário #3 — 07/11/2007 16:52

Ligia Fascioni — Consultora de empresas — Florianópolis

Caro Ênio, concordo apenas em parte que as crianças, no processo civilizatório, acabam virando adultos sem criatividade. Em meio a uma sociedade onde os pais não dão mais limites às suas crianças, o que vejo não é mais criatividade; é menos respeito, menos educação, menos gentilezas, menos tolerância. Criatividade não se extingue com regras - o que extingue a criatividade é a falta de brincadeiras e o excesso de televisão. Escrevi uma coluna justamente sobre esse assunto há algumas semanas: www.ligiafascioni.com.br

Abraços e parabéns!

RÉPLICA DE ÊNIO PADILHA

Lígia:
Li o artigo que você recomenda...
Genial, como sempre!

Comentário #4 — 21/11/2007 17:16

vanderlei mello de liz — administrador — balneário camboriú - sc

Parabéns! Depois de muitos anos lhe encontro no seu site com este ótimo artigo. Um grande abraço de alguém que lhes quer muito bem! É por demais prazeiroso ver seu sucesso. Que sejas feliz, feliz...
Vanderlei - que foi de Rio do Sul, que é de Balneário Camboriú e que sempre será amigo do Carlos Alberto e do Ênio... f e l i z

RÉPLICA DE ÊNIO PADILHA

Grande Vanderley
(e põe muitos anos nisso!)
É um grande prazer tê-lo por aqui. Grande abraço.

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