NO FIM, A CULPA É DO ENGENHEIRO!

(Publicado em 18/01/2018)



Acidentes em obras de Engenharia, como este que ocorreu no dia 15/01/2018 (Ponte em construção desaba e dez pessoas morrem na Colômbia), sempre me deixam com o coração apertado. Essas notícias causam certa angústia. Impossível não pensar, imediatamente, nos profissionais de Engenharia envolvidos na tragédia.

Vai ter gente me enchendo o saco e dizendo que eu deveria, sim, era pensar nas vítimas. Nos operários, nas pessoas que morreram no acidente. Desculpem. Estou sendo sincero. Pensei mesmo (e penso sempre, em casos assim) no drama dos profissionais envolvidos no episódio.





Ninguém sonha com um erro profissional. E os engenheiros sabem que os seus erros profissionais produzem consequências para suas próprias carreiras.

Os médicos raramente são responsabilizados pela morte de seus pacientes que não receberam o melhor tratamento possível. Os advogados não vão presos com seus clientes que não receberam uma boa defesa. Um arquiteto não é condenado porque o prédio que ele projetou ficou feio, ou pega sol de mais ou vento de menos... Mas os engenheiros têm de viver com essa responsabilidade pela consequência. Seus erros são avaliados e medidos de forma OBJETIVA. O prédio ficou de pé, firme, forte? Ótimo! Polegar pra cima!

O Prédio teve rachaduras? inclinou para o lado? A umidade tomou conta? teve vazamento na caixa d'água? Caiu?!? Perdeu!!! Polegar para baixo, como Cesar, no coliseu.

A Engenharia raramente é tema central de um filme, de uma novela ou de uma série de TV. É uma atividade profissional sem glamour, sem sex appeal. Por isto recebi com boa vontade a notícia de que uma série da Rede Globo teria a Engenharia como protagonista.

TREZE DIAS LONGE DO SOL é um trabalho primoroso da O2 Filmes em parceria com os Estúdios Globo. Tem 10 episódios e foi escrita por Elena Soarez e Luciano Moura, com colaboração de Sofia Maldonado. A direção é de Luciano Moura e Isabel Valiente. Os protagonistas são Selton Mello, Carolina Dieckmann, Paulo Vilhena, Lima Duarte, Débora Bloch, Fabrício Boliveira e Enrique Diaz. O primeiro e o último fazem os papéis dos engenheiros Saulo Garcez (executor da obra) e Newton da Nóbrega (calculista estrutural).

A tragédia ocorre já no primeiro capítulo: a estrutura de um edifício em fase final de execução sofre um colapso e desaba produzindo muitas vítimas e alguns sobreviventes soterrados.

A partir daí o drama e o desespero tomam conta de todos os personagens, tanto as vítimas soterradas quanto os que não estavam no prédio, mas que têm alguma relação com o ocorrido.

Existem os dramas pessoais dos familiares das vítimas, as dúvidas dos bombeiros e socorristas e também a angústia dos executivos da construtora, responsáveis pela tragédia e que tentam se livrar da responsabilidade fazendo o que geralmente é feito nesses casos: culpar os engenheiros.

Isso é sempre um bom caminho, porque, por mais que eu me solidarize emocionalmente com o engenheiro de qualquer desastre dessa natureza, não podemos tentar enganar ninguém. Nesse tipo de ocasião (quando uma obra cai) a culpa é, sim, do engenheiro.

A construção de edifícios com estrutura de Aço, Concreto Armado ou Alvenaria Estrutural é tecnologia dominada. Em muitos lugares se projeta e constrói edifícios de 50, 80, 100 andares em regiões sujeitas a terremotos... e os prédios resistem. Portanto, quando um prédio (com menos de 30 andares) cai é porque alguma coisa (básica) não foi feita como deveria ter sido.

O problema pode ter sido na sondagem do solo. O estudo e análise do terreno pode ter sido negligenciado. Erro do Engenheiro ou do Geólogo responsável;

Se a sondagem do terreno foi bem feita e a análise do entorno foi correta, pode ter havido erro no projeto das fundações ou da estrutura do edifício. Erro do Engenheiro responsável!

Se o projeto das fundações foi bem feito e os cálculos estão corretos, pode ter havido erro de execução. As fundações ou as estruturas podem ter sido construídas de forma diferente do que estava no projeto. Erro do Engenheiro responsável pela execução da obra!

A execução da obra pode ter sido feita de acordo com o projeto, porém, utilizando-se materiais diferentes dos que foram especificados. Ou materiais de fornecedores duvidosos, que não estejam certificados por instituições confiáveis. Erro do Engenheiro Responsável!

Pedreiros, carpinteiros, armadores, encanadores, eletricistas, carregadores, ninguém, absolutamente ninguém, além do engenheiro tem responsabilidade sobre o que acontece numa obra. É tudo responsabilidade do Engenheiro. É tudo Culpa do Engenheiro!

No caso do Centro Médico (o edifício que desabou em Treze dias longe do Sol) existem muitos culpados. Mas não é preciso ser gênio pra saber quem, no fim das contas, vai se dar mal.





PADILHA, Ênio. 2018





LEIA:



Tudo o que o profissional precisa saber para construir uma carreira bem sucedida.

autor: Ênio Padilha
ilustrações: Sérgio dos Santos
prefácio: Carlos Alberto Kita Xavier
ISBN: 978 85 67657 01 1
Editora: OitoNoveTrês Editora
preço de capa: R$ 45,00

Clique AQUI para ler o primeiro capítulo do livro.

citar:
PADILHA, Ênio. Manual do engenheiro recém-formado. Balneário Camboriú: OitoNoveTrês Editora. 2015. 162p.






Comentário #1 — 18/01/2018 08:36

Jean Tosetto — Arquiteto — Paulínia

Ao responsável técnico pela execução de uma obra, o ônus se recai facilmente. Está difícil o bônus seguir o mesmo caminho, pois quando tudo dá certo, não era mais do que obrigação do profissional, por vezes mal remunerado.

RÉPLICA DE ÊNIO PADILHA

Verdade, Tosetto. Tanto arquitetos quanto engenheiros, quando assumem a responsabilidade pela execução de uma obra, assumem antecipadamente a culpa por praticamente qualquer problema que ocorra (inclusive por erros do projeto -- que o executor tem a obrigação de identificar e corrigir).
Não é fácil. E não deveria ser tão barato.

Comentário #2 — 18/01/2018 23:10

Gustavo José Elias Batista Oliveira — Engenheiro Civil — Teixeira

Mesmo o mercado estando ou não saturado, deveríamos nos unir junto ao Conselho para a conscientização da população e do preço de projetos. O começo de tudo dever ser pressionar as prefeituras para ocuparem esse cargo tão importante e munidos de ferramentas adequadas punir obras sem projetos de forma eficiente e perante a lei. Isso já seria o começo. Carregamos 50 anos de responsabilidade por cada obra que fazemos!

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