
ATENÇÃO ESTUDANTES DO ENSINO MÉDIO!
(Publicado em 13/09/2008)
O berreiro está grande. Reitorias estão sendo invadidas, abaixo assinados estão sendo feitos, DCEs estão se mobilizando, enfim: a caça às bruxas e a distribuição de culpas está em curso.
Tudo isso porque o Ministério da Educação publicou nesta semana o IGC - Índice Geral de Cursos da Instituição que é um indicador da qualidade das Universidades Brasileiras.
Naturalmente alguns ficaram bem felizes, mas muita gente ficou injuriada, indignada e revoltada. Porque os números estão mostrando o que muita gente nunca quis ver: ensino superior não é fast food que pode ser vendido em qualquer esquina. É preciso muito cuidado com esse produto.
Gestores de Instituições de Ensino Superior merecem ser muito respeitados, mas devem ser também cobrados e responsabilizados, pois suas ações (ou omissões) resultam em investimentos pessoais de grande monta para muita gente (sem contar o valor estratégico que isto tem para o país).
Neste momento em que as escolas de engenharia voltaram a ser destino interessante e objeto de desejo para estudantes de ensino médio é importante que essas questões e esses indicadores de qualidade e desempenho sejam avaliados com cuidado.
Antes de decidir sobre a universidade em que irá tentar o vestibular o estudante (e seus pais também, por que não?) devem fazer algumas perguntas e observar alguns "detalhes" sobre a escola e principalmente sobre o tipo de estudante que ela acolhe.
1) Ao ingressar na faculdade os alunos têm qualidades intelectuais compatíveis com a atividade universitária? Sabem ler? sabem escrever? dominam os fundamentos da matemática? sabem inglês? têm cultura geral?
2) Os alunos ingressantes lêem pelo menos 10 livros por ano?
3) Os alunos têm tempo pra estudar? dão prioridade aos estudos? aceitam tarefas que exigem disponibilidade para leituras em profundidade e pesquisas que vão além do Google? Ou estão sempre se protegendo atrás da desculpa de que trabalham e não têm tempo pra nada mais?
4) A biblioteca da escola é completa? tem as obras clássicas de cada área? tem espaços para estudos individuais? salas para estudos em grupo?
5) Os murais da escola anunciam cursos, seminários, congressos, concursos científicos e culturais... ou apenas as festas, bailes e baladas? Os murais da escola apontam para o futuro ou para o próximo fim de semana?
6) As aulas começam no horário regulamentar? E, mais importante: terminam no horário regulamentar? ou sempre terminam 20, 30 e até 40 minutos antes, porque
os alunos têm outros compromissos?
7) Quando um professor cobra com maior rigor, exige leitura ou aplica provas rigorosas que resultam em reprovação de um maior número de alunos o que acontece? Existe movimentação dos alunos para que ele seja substituído? Como a coordenação do curso lida com esse tipo de situação? Qual é a posição da direção da escola?
8) A escola tem uma livraria/revistaria? Se tiver, que tipo de livros são vendidos? best selers da lista de mais vendidos da Revista Veja? livros de auto-ajuda? livros populares de autores idem? revistas populares, dessas que se encontra em gôndolas de supermercados?
9) Que tipo de discussão acadêmica a escola estimula? Que nível de discussão é promovida? qual seria o público para um seminário sobre, por exemplo, "O Acelerador de Partículas LHC" programado para um sábado pela manhã?
10) No final do curso o formando se destaca do calouro pelo vocabulário, pela habilidade intelectual ou pela cultura geral demonstrada na abordagem das questões do dia-a-dia? O formando tem um porte intelectual que o permite ler os livros, revistas, artigos acadêmicos/científicos que a maioria das pessoas não consegue ler (entender)? Os trabalhos acadêmicos dos formandos são, de fato, mais consistentes, criativos e relevantes que os elaborados pelos alunos das fases iniciais?
Quem refletir sobre essas questões talvez chegue à mesma conclusão que eu: a qualidade de uma universidade depende fortemente do nível dos seus alunos. Alunos com alto nível forçam um rendimento superior dos professores e da direção. A recíproca, infelizmente, não é verdadeira.
Os números do IGC apenas acenderam luzes sobre esta realidade.
Estudantes do ensino médio que pretendem fazer Engenharia, Arquitetura ou Agronomia devem ficar atentos ao tipo de colegas de faculdade que encontrarão. Eles são os principais indicadores da qualidade de uma universidade.

PADILHA, Ênio. 2008

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