INOVAÇÃO DISRUPTIVA É O NOSSO TREM BALA

(Publicado em 13/08/2018)



Uma das principais pragas do empreendedorismo e da gestão de negócios no Brasil (não sei se é assim no mundo inteiro) é a indústria dos modismos. Toda hora tem uma palavra nova encantando alguns iniciados e assombrando outros tantos que passam imediatamente a se sentir perdidos, atrasados e fora de moda.
A palavra da hora é DISRUPTIVO.



Comunicação disruptiva, marketing disruptivo, inovação disruptiva, educação disruptiva, design disruptivo, tecnologia disruptiva… tudo parece ter perdido completamente o valor se não for DISRUPTIVO.

Palestrantes, professores, consultores, autores e outros pretensos formadores de opinião (deveriam ser agentes do conhecimento) adotaram o termo e com isto tornaram seus trabalhos mais valorizados e atuais. E, como o termo é novo (novidade) contam com a vantagem de que pouca gente é capaz de avaliar os efeitos da aplicação prática do que está sendo ensinado e, mais importante: a diferença efetiva entre o que está sendo falado agora e coisas que já foram ditas e escritas há décadas.

Ao dicionário: Disruptivo refere-se a algo que causa disrupção, ou seja, separação e interrupção. Uma coisa é disruptiva se ela interrompe o ciclo normal de funcionamento de um processo. No mundo dos negócios, Disruptivo é um novo formato tecnológico que, se opondo aos modelos existentes, propõe uma nova estrutura de negócios que seja sustentável e que tenha escala.

É bonito? Sim. É interessante? Claro. Você precisa disso agora? Não sei. Você está preparado para isso? Provavelmente não.

Para a maioria dos escritórios de Engenharia e de Arquitetura no Brasil a inovação disruptiva corresponde ao Trem Bala brasileiro. Pra quem não lembra, a ideia do Trem Bala começou a ganhar corpo no final do segundo mandato do ex-presidente Lula, embora tenha ganhado força durante o primeiro mandato de Dilma Roussef, no embalo dos projetos da Copa do Mundo.

Parecia uma ideia interessante, mas ninguém se deu conta de uma coisa: em todos os países onde o Trem Bala é uma realidade ele é o ponto alto de uma indústria consolidada. É a cereja no topo do bolo de uma rede ferroviária muito grande e muito bem resolvida com dezenas de linhas e destinos, de tal maneira que essa inovação se encaixou sem solavancos na realidade existente.

O Brasil, como costuma fazer, quis dar um salto. Passando direto de uma mobilidade refém de caminhoneiros para o Trem Bala, sem escalas. Deu no que deu. Ou melhor, deu no que não deu!

Quando, em 2016, a Vale inaugurou o seu novo Trem de Passageiros da Estrada de Ferro Vitória Minas eu saudei o fato, no meu site com a afirmação de que O BRASIL NÃO PRECISA DE TREM BALA. PRECISA DE TREM, PONTO.

Agora eu digo o mesmo pra você que dirige um escritório de Arquitetura ou de Engenharia. Você precisa de um trem bala disruptivo? ou precisa de um trem bom, de uma boa malha ferroviária e de um sistema que funcione?

Em 2011 eu publiquei no nosso site o artigo BACK TO BASICS no qual eu já chamo atenção para um fato, em relação aos escritórios de Engenharia e de Arquitetura: ”Temos 120 anos de conhecimentos de gestão para recuperar. Nossos escritórios (a maioria deles) ainda é tocado com as mesmas técnicas de gestão utilizadas pelas empresas em 1890!
Estamos na Idade da Pedra da Administração. Precisamos fazer alguma coisa, claro!

Mas, atenção. Não devemos começar pelo fim, cedendo à tentação dos modismos da gestão.”


Portanto, antes de sair investindo em tecnologias de gestão disruptiva, avalie se você pelo menos já tem alguma coisa consistente para ser interrompida ou separada. Seu escritório não precisa de um trem bala se ainda não possui sequer uma rede ferroviária





PADILHA, Ênio. 2018






Comentário #1 — 13/08/2018 16:24

Farlley — Professor — Brasília

Excelente artigo, lúcido, profilático, necessário !

RÉPLICA DE ÊNIO PADILHA

Obrigado, querido amigo.
Só não sei se chega à tempo de ser "profilático"

Comentário #2 — 13/08/2018 17:54

Marco Tomasoni — Geógrafo — Salvador

Perfeito. Texto muito bem estruturado e altamente necessário. Vivemos em um eterno abandono de idéias e processos. Uma obsolescência sem fundamento que acaba por gerar a necessidade do abandono. O exemplo serve a uma profunda reflexão sobre nosso conhecimento efetivo sobre as coisas. Obrigado Ênio.

RÉPLICA DE ÊNIO PADILHA

Sábia reflexão, professor Marco.
Tê-lo entre os meus leitores é um privilégio.

Comentário #3 — 14/08/2018 09:47

Comentário no Facebook — —

Comentário #4 — 16/08/2018 16:26

Juarez Kissmann — Engenheiro Eletricista — San Francisco - Córdoba - Argentina

Amigo Enio,
Muito bom o seu comentário!
Que mania furreca essa de copiar palavras difíceis ou “disruptivas” – aqui cabe bem - para parecer ou querer passar-se por inteligente, culto ou interessante!
Muitas dessas palavras ou modismos não passam de traduções (pobres) que eu chamo “at the foot of the letter” dos textos de “marketeiros” americanos e que os “Zeguedés” brasileiros traduzem e aplicam sem nenhum critério.
Sabe que pra mim, falou difícil tipo “podemos estar mandando”, ferrou! Já perdeu 50% da credibilidade!
Você tem toda razão: Precisamos de ferrovias e não de trem bala.
Um forte abraço!
Juarez

RÉPLICA DE ÊNIO PADILHA

Boa, Juarez.
Também tenho preguiça de vocabulário rebuscado, tanto para temas de administração quanto para informática.
Toda hora inventa-se alguma coisa e no fim, quem não acompanha muito de perto tem sempre a sensação de que está completamente por fora, quando, na verdade. Trata-se da mesma coisa, só que com outros nomes.

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