PROFESSOR DE GENTE GRANDE

(Publicado em 15/10/2019)



Em inglês (tanto o americano quanto o britânico) existem duas palavras para professor: teacher, que é utilizado para identificar o professor das fases iniciais da formação (da infância até a adolescência) e professor, para identificar os professores a partir da graduação.





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No Brasil, infelizmente, usamos a mesma palavra (professor) para identificar tanto a tia da pré-escola quanto o orientador do doutorado. Esse erro leva, infelizmente, a prejuízos sérios no entendimento.

Eu já escrevi, num artigo chamado “PROFESSOR. É O QUE EU SOU” o quanto eu valorizo os professores das primeiras séries e o quanto eu entendo que não tenho a necessária formação ou competência para ser como eles. Eles estão, como eu já disse, um degrau (ou mais) acima do que eu sou. Eu sou professor de gente grande.

Não sou Educador. Quem tem de ser educador é o pai e a mãe e não o professor. Meu compromisso como professor é o de ensinar. Não posso me afastar dessa responsabilidade. Fui educador, quando minhas filhas eram pequenas. Felizmente deu certo. Elas são muito bem educadas. Quanto aos meus alunos, eu espero que eles já tenham recebido uma boa educação. E, se não receberam, não há mais nada que eu possa fazer.

Também não sou facilitador de nada. Não sou mediador de coisa alguma. E nem sou animador de platéias. Sou professor.

Sou professor. Adoro ser professor. Não tenho medo de ensinar e assumo como minha a responsabilidade de transmitir (e estimular o desejo de obter mais) conhecimento. Não me sinto obrigado a ensinar quem não quer aprender.

Não assumo como minha a responsabilidade de fazer com que o indivíduo queira aprender. Isso é problema dele.

Mas se ele quiser aprender, aí sim, o problema é meu: tenho a obrigação de ensinar. E de encontrar meios para que ele aprenda.

Tenho a obrigação de dar uma aula agradável, mas não tenho a obrigação de manter os alunos intelectualmente confortáveis. Não tenho medo de dizer as coisas com as quais os alunos não concordam. Não posso chover no molhado. Tenho a obrigação de tirar o aluno do conforto psicológico. Fazê-lo questionar suas crenças estabelecidas. Duvidar do que eu digo, duvidar do que ele próprio pensa, duvidar de tudo.

Quando, em sala de aula, um aluno discorda do que eu estou dizendo, não me sinto desconfortável. Pelo contrário. Isso me desafia. Me dá a oportunidade de mostrar se, afinal, eu sou ou não um bom professor.

Melhor ainda se eu percebo interesse verdadeiro do aluno pelo tema. Isso é terreno fértil para o ensino. Cabe a mim ter a habilidade de conduzir os argumentos para transformar o conhecimento do aluno e permitir nele a mudança de paradigmas.

Acredito que um bom professor não é, necessariamente, aquele que sabe muito mais do que o aluno. Mas aquele que consegue entender perfeitamente o que está dificultando o acesso do aluno ao argumento correto. Ou seja, o que é que está cegando o aluno para aquele conhecimento.

Não faço dinâmicas de grupo. Não faço dancinhas, não faço joguinhos, não conto piadas... Não estou na sala de aula para distrair nem para divertir ninguém. Quem quer se divertir deve ir a um teatro, um circo, um show ou a um estádio. Sala de aula é o lugar de outra coisa. Essas atividades, aliás, na minha opinião, são muito importantes para crianças, adolescentes e adultos sem amadurecimento intelectual. E, para isso, existe outro tipo de professor (em inglês, teacher).

Não quero perder meu tempo desenvolvendo habilidades de entretenimento enquanto poderia estar desenvolvendo capacidade de argumentação e persuasão. Como professor não posso ter medo das minhas convicções. Devo surpreender o aluno com conhecimentos novos, aprofundados e com quebra constante de modelos mentais.

Acredito que o aluno espera aprender alguma coisa com o professor. E fico feliz em fazer isso.

Se você for professor, como eu, parabéns pelo seu dia.

Se você, além de professor é o que os americanos e britânicos identificam como teacher, meus parabéns em dobro.

É isso. A gente se encontra em uma sala de aula por aí.





PADILHA, Ênio. 2019





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