TEMPOS DIFÍCEIS. NOSSO PRESIDENTE PRECISA DE AMIGOS MELHORES
(Publicado em 18/03/2020)
Imagem: OitoNoveTrês
Eu tenho uma dúzia de artigos prontos que eu nunca publiquei. Nem pretendo publicar. Eles estão ali, guardados, apenas para me lembrar que, em algum momento, eu tive alguma ideia estúpida. E cheguei a ser tolo o bastante para escrever a respeito.
Mas, como eu não sou um sujeito tolo 100% do tempo, muitas vezes, antes de publicar um artigo com potencial ofensivo eu costumo mostrar o conteúdo para uma, duas ou três pessoas. Peço que esses amigos avaliem se a mensagem ficou clara e se o artigo atende aos meus princípios como autor (ou se é apenas um desabafo desnecessário).
Quase sempre eu recebo carta branca para publicar, mas, às vezes a resposta vem franca e sincera ("isso é uma bobagem"; "Isso é desnecessário"; "Isso não contribui em nada com as suas causas" ou "Esse texto está muito confuso, vai causar mal entendidos"...
Eu tenho amigos. Amigos de muita qualidade. E os meus amigos têm a liberdade de falar coisas que podem me desagradar. Porque sabem que nunca irão me ofender por causa disso.
Será que o nosso presidente não tem amigos como os meus?
O que falta para alguém, próximo ao presidente, sugerir a ele que pare de tratar a crise provocada pelo novo coronavírus como uma "histeria criada pela grande mídia" e que comece a lidar com a questão (ou cuestão, como ele diz) sem tratá-la como uma conspiração internacional para atrapalhar o seu brilhante governo?
Todos os presidentes da república sempre estiveram cercados de acólitos (no pior sentido) e puxa-sacos (no sentido exato). Mas sempre existe espaço para um sensato, que sabe a hora de dizer "opa! Aí não, né?"
Parece que não é o caso, nos dias de hoje. O povo brasileiro está sozinho nessa. Os governadores e prefeitos estão tendo de enfrentar essa crise (a maior crise mundial de saúde pública desde a gripe espanhola, há cem anos) sem contar com o apoio moral do governo federal.
Tristes tempos.
PADILHA, Ênio. 2020
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