O VELHO REX
(Carlos Alberto Padilha)

(Publicado em 25/06/2022)



Mais uma pras minhas Notas Autobiográficas

Escrito há 20 anos pelo meu irmão mais velho, Carlos Alberto, que teve um sensacional surto de escritor e, durante vários meses, escreveu crônicas com as suas memórias que me enviava por e-mail.

(A figura abaixo eu montei com imagens de banco de dados gratuitos e mostra como eu me lembro do Velho Rex). Era assustador!

Divirtam-se! (e deixem seus comentários, no final)





Imagem: Pixabay



Olá, caro irmão!

Pois é.

Para relembrar, as coisas de minha infância,  às vezes me remeto ao passado e me vejo no velho Canta Galo de tantas histórias. A velha escolinha, a velha casa da volta do "Uba"  a velha venda e, naturalmente, o velho Rex.

O Rex, era um danado de um cão, que foi o nosso terror por muito tempo. Não sei quanto tempo exatamente, pois para crianças uma semana é uma eternidade. Mas a verdade é que foi um tormento que durou uma vida, e apesar de o cachorro já ser velho, continuava velho e não partia dessa para uma melhor. Melhor pra nós evidentemente.

Lembro que certa feita fui mandado à venda para comprar meio quilo de banha. Se não fosse verão, a gente poderia se comprar banha sem levar um vasilhame, um recipiente adequado.
No caso, não era verão.

De volta, já com a banha embrulhada num papel (papel de venda) e a passos largos, dei de cara com o cão. Um arrepio me desceu da cabeça aos pés. O cachorro jamais havia mordido alguém, mas o tamanho do bicho e as loucuras que fazia já fruto da caduquice (imagino) era o bastante para nos fazer morrer de medo.

E agora? Tinha que chegar em casa com a encomenda. Afinal dona Mathilde não era das mais pacientes quando nos mandava fazer alguma coisa.

Pensa nisso, pensa naquilo, pensa na dona Mathilde, não encontrei outra saída senão enfrentar o bichano. Ao lado da estrada que à época era puro capoeirão, fitei uma vara bem no jeito.

Fui até o arbusto e cadê forças para arrancá-la da árvore com uma só das mãos. Então resolvi largar a banha para ter as duas mãos livres, e o fiz deixando-a na beira da estrada e voltei para apanhar a vara. Estava eu arrancando a vara para atacar o velho cão, quando dei uma olhadela para o embrulho e, para meu desespero total, o Rex estava comendo a banha nada preocupado comigo. 

Oh meu Jesus!  Minha Santíssima Trindade e todos os santos.

Dona Mathilde vai me matar!
Com a vara tentei morto de medo recuperar o resto do produto, porém, todo cachorro quando está comendo ainda que seja velho e louco, não admite interferência. O cão me advertiu rosnando seriamente. Isso foi o bastante para eu entender que tudo estava perdido.

Restou-me passar ao largo do cão que ainda se deliciava e ir para casa de mãos vazias.

Ao chegar sem a compra, a óbvia pergunta:
- Cadê a banha ? 
- O Rex comeeu...

Indignada a dona Mathilde.
- O Rex comeeeeuu?!

É, explica agora! 





CARLOS ALBERTO PADILHA, JUN/2002

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