O IMPACTO DO ALTAMENTE IMPROVÁVEL

(Publicado em 06/04/2020)





Imagem: OitoNoveTrês



Hoje estava assistindo a uma Live no perfil @fabio.ordones com a participação do querido amigo Ricardo Botelho — @rjbotelho.

Ricardo falou uma coisa muito importante: "nos meus 45 anos de carreira profissional, o que eu mais vi foi a necessidade de lidar com o novo. Sairá melhor desta crise quem tiver mais e melhores capacidades para lidar com o inesperado".
E citou o livro do Nassim Nicolas Taleb.

Eu li este livro em 2010 e escrevi uma resenha. Dá uma olhada:



(Publicado em 14/03/2010)



Pense num sujeito rebugento.
Multiplique por dois... e você terá alguém parecido com Nassim Nicholas Taleb.
Mas tem um detalhe: para ser parecido com esse rabugento, em particular, é preciso ser fluente em inglês, francês, árabe clássico, Italiano e Espanhol e ler textos clássicos em grego, latim e aramaico.



Nassim Taleb é professor de Ciências da Incerteza da Universidade de Massachusetts (Amherst) e também é presidente de uma empresa de investimentos situada em Nova Iorque chamada Empirica. Possui MBA pela Wharton e Ph.D. pela Universidade de Paris.

É autor de pelo menos dois livros muito conhecidos: "Iludidos pelo Acaso" e "A Lógica do Cisne Negro - o impacto do altamente improvável" (editora Best Seller). É deste último livro que falaremos.

Ao contrário de outros autores que tratam desse tipo de assunto (teoria do caos, ciência da incerteza, matemática...) Taleb escreve em primeira pessoa. E inclui no seu livro diversos episódios autobiográficos, nos quais ele aproveita para colocar sua opinião (normalmente crítica e ácida) sobre diversos aspectos da natureza humana.
Interessante!



O paradoxo do cisne negro é bastante conhecido nas ciências sociais e descreve um outlier (em bom português, um "ponto fora da curva"). É um acontecimento que reúne três características: é altamente improvável; produz um enorme impacto; e, após a sua ocorrência, geralmente é elaborada uma explicação que faz com que o acontecido pareça menos aleatório e mais previsível do que aquilo que é na realidade.

Estão nessa categoria os atentados de 11 de Setembro, a ascensão do Google, ou mesmo a criação da internet.

Os cisnes negros não podem ser previstos, e grande parte de seu impacto reside nisso. No entanto, passado algum tempo, naturalmente, construímos explicações que, reconstruindo a história, nos conduzem inevitavelmente a eles, como se fossem coisas óbvias que todos deveriam ter percebido. Essas análises, muitas vezes, alimentam as teorias de conspirações.

Nassim Taleb sustenta que a natureza humana não foi preparada para assimilar os Cisnes Negros. Para que um acontecimento faça sentido, tende-se a "forçar uma ligação lógica", para amarrar fatos, através de "flechas de relacionamento" — pois é mais fácil lembrar de uma sequência de eventos, logicamente encadeados, do que armazenar ocorrências aparentemente sem sentido. Assim são construídos os mitos — que nada mais são que "histórias" que ordenam, e trazem sentido, ao "caos da experiência humana".

No livro ele faz um pequeno tratado sobre dois países imaginários: o Extremistão e o Mediocristão. Esses dois "territórios" foram criados para explicar as diferenças entre as atividades (profissões) escaláveis e não-escaláveis.

No Extremistão as coisas são singulares, acidentais, inéditas, imprevisíveis. Já no Mediocristão vive-se a rotina, o óbvio, o previsível.

A maioria das pessoas prefere viver no Mediocristão. Uma minoria escolhe viver no Extremistão. Acontece que viver no Extremistão requer uma resistência pessoal e intelectual, evidentemente, fora do comum. É a "terra" dos grandes artistas, dos grandes descobridores e dos grandes empreendedores.

Por isto Nassim Taleb parece detestar escolas, em todos os níveis. Para ele as escolas foram criadas para estimular o esforço intelectual e a resposta mais lógica, porém mais lenta, sequencial, e progressiva. E, para viver no Extremistão (e consequentemente tirar proveito de cisnes negros) é preciso estimular a experiência, o ato reflexo, mais rápido, o "raciocínio que corre em paralelo", sem que possamos muitas vezes concebê-lo, e mesmo os erros. E, sobretudo, a intuição.

Engenheiros, principalmente, moram no Mediocristão, cujo Santo Padroeiro é São René Descartes. Mas é preciso, de vez em quando, tirar férias e visitar o Extremistão, para entender melhor o mundo em que se vive. E o livro de Nassim Taleb é, sem dúvida, um excelente guia de viagem.





PADILHA, Ênio. 2010




TALEB, Nassim Nicolas. A lógica do cisne negro: o impacto do altamente improvável. Rio de Janeiro: Best Seller, 2009





Comentário #1 — 19/03/2010 15:29

Gilvan Tessari — Engenheiro Eletricista — Florianópolis

Não apenas os engenheiros vivem no Mediocristão como deles se exige que o façam. O que é uma pena: nos desenvolveríamos de forma mais rápida e divertida se nos permitíssemos seguir a lógica evolutiva que rege a Natureza, sempre prototipando coisas bizarras que podem, ou não, \"dar certo\".

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