ARQUITETURA, ENGENHARIA E A
EDUCAÇÃO DE BASE NO BRASIL



Você é candidato à presidência do Confea? de algum dos Creas? do CAU no seu estado? do CAU-BR?

Então você deve saber que terá muitas questões importantes que precisa conhecer e para as quais deve ter propostas inteligentes, criativas, eficientes e, acima de tudo, exequíveis: a Engenharia e a Arquitetura públicas, as questões ambientais, as políticas públicas nacionais, as instituições de ensino, as entidades de classe, as relações internacionais... enfim, muitas coisas importantes.

Mas há uma questão que sempre me pareceu central e que nunca foi abraçada devidamente pela nossas categorias: A EDUCAÇÃO DE BASE.




TRÊS MINUTOS - Ano 18 - Número 405 (Ênio Padilha, 09/06/2017)


(Este artigo foi publicado no site eniopadilha.com.br em 23/01/2011)



Tanto engenheiros quanto arquitetos vivem num mundo profissional onde impera um paradoxo absurdo: eles são responsáveis pelo planejamento e projeto de obras, instalações e outros produtos que utilizam altos conhecimentos da ciência e da tecnologia. Esses projetos, que exigem tanto conhecimento técnico e científico são, depois, executados (na maioria das vezes) por pessoas funcionalmente analfabetas! Gente sem conhecimentos (rudimentares que sejam) de Matemática, Física, Química, Biologia, Inglês, Informática, Economia, Administração... Como pode? Como faz?

Em nenhuma outra atividade de nível superior, no Brasil, existe uma disparidade dessa natureza. Na área da saúde, por exemplo, os médicos e dentistas comandam equipes de trabalho nas quais os menos qualificados geralmente têm ensino médio completo, no mínimo.

A Construção Civil, por outro lado, abriga ainda um contingente assustador de pessoas sem formação nenhuma. Gente que não sabe extrair uma raiz quadrada, calcular a área de um triângulo, ler um manual de instruções, descrever corretamente um problema...

A essas pessoas são entregues os projetos elaborados pelos Engenheiros e pelos Arquitetos. É nesse tipo de executor que engenheiros e arquitetos depositam (são obrigados a depositar) suas esperanças de ver seus conhecimentos realizados. Não tem perigo de dar certo!

Nós precisamos enfrentar este problema de frente. Se a falta de conhecimento científico da nossa população nos afeta tão profundamente, se o despreparo das pessoas que vão parar na Construção Civil compromete a qualidade dos nossos trabalhos, se muito das nossas soluções de projeto, obtidas como resultado de anos e anos de estudos e pesquisa se perdem na obra porque o executor não sabe ler direito... a solução é arregaçar as mangas e parar de ficar acreditando em Papai Noel. Parar de acreditar que um dia, do nada, o problema vai se resolver como num passe de mágica. Não vai!

O Confea, os Creas, o CAU em cada estado e o CAU-BR precisam abraçar essa causa e tê-la como importante e urgente.

O nosso presente precisa ser influenciado pelo nosso futuro. A engenheira Elaine Marcial nos ensina que "o futuro deixa pegadas no presente". Isso significa que o futuro não é tão incerto, como dizem muitos. E os engenheiros e arquitetos sabem disso, pois vivem de antever e forjar o futuro. O futuro é uma de nossas matérias primas. Nosso objeto de estudo e trabalho. Afinal, o que é um projeto técnico senão uma maneira que o homem inventou para criar as condições para o futuro desejado?

Esse senso e essa habilidade de lidar com o futuro (próprios de arquitetos e de engenheiros) precisam ser utilizados também para abraçar e promover ações efetivas de estímulo e de motivação para a educação de base no país.

O que podemos fazer? Não é pouco! Podemos, por exemplo, criar, em cada município, programas especiais de ensino científico nas escolas, estimulando e promovendo Feiras de Ciências, palestras nas escolas e passeios culturais de caráter científicos.

Podemos patrocinar e promover de forma efetiva as Olimpíada de Matemática, Jogos Científicos e outras atividades que promovam entre os pequenos o gosto pela Matemática, pela Física, pela Quimica... pelas ciências, enfim.

Podemos agir, de forma insistente e determinada, sobre os governos municipais, estaduais e federal, no sentido de investir e valorizar as escolas e professores do ensino fundamental. Não apenas nos discursos. Mas nas práticas e nos aportes de recursos.

Nosso jovem, na faixa de 15, 17 anos, pode até se sentir um pouco constrangido se não conhece os artistas da hora; pode até não se sentir confortável por não entender ou falar Inglês... mas, quando o assunto é Física, Matemática, Química... parece que sente até um certo orgulho de dizer que não entende nada!
Nossa sociedade vê com a maior naturalidade (e indulgência) a ignorância científica e tecnológica. Isso é um absurdo!

Penso que Engenheiros e Arquitetos (e suas instituições representativas) precisam agir EFETIVAMENTE no sentido de acabar com esse estado de coisa. É bom para essa geração de crianças e jovens. É bom para o país. É muito bom para os próprios Engenheiros e Arquitetos que estarão ajudando a construir, de forma indireta, melhores condições para o seu próprio trabalho e maiores possibilidades de verem seus projetos efetivamente realizados no campo, com obras, instalações e outros produtos com toda a qualidade que a ciência e a tecnologia permitiu planejar e projetar.

Quanto a você, colega engenheiro ou arquiteto: antes de escolher seu candidato, veja o que ele tem a dizer sobre Educação de Base no Brasil.





PADILHA, Ênio. 2011




A imagem que ilustra este artigo (no topo) foi retirada da capa do livro Os desafios de ensino da matemática na educação básica








Comentário #1 — 23/02/2011 09:18

jorge frias — professor — Rio de janeiro

Confesso que entrei na sua página por acaso, e concordo inteiramente com você. Os nossos governantes estão interessados naquilo que se traduz em votos imediatos e não em um trabalho que demande tempo (e muito) e dinheiro. Não se resolve a educação acreditando que o vestibular e o enem são soluções de todos os problemas da sociedade, sejam em relação às vagas, sejam em relação ao preparo que o jovem tem que ter para enfrentar o mundo adulto.
Por isso se levarmos em conta que um aluno leva 11 anos para terminar seus estudos básicos, se começarmos agora a fazer alguma coisa concreta(desculpe o trocadilho) estaremos colhendo seus frutos no ano de 2026, se até lá não estiverem exigindo graduação ou pós para atuarem em cargos básicos. Ou seja, dar dignidade, custa pouco, tornar o jovem um cidadão consciente leva tempo que nem sempre ele tem, por isso temos que atuar de forma eficaz, para termos resultados o mais rápido possível.
Jorge Frias

RÉPLICA DE ÊNIO PADILHA

Perfeitamente, Jorge.
Diagnóstico corretíssimo

Comentário #2 — 13/07/2013 23:27

Érika Montalvão — Arquiteta e Urbanista — Anápolis

Concordo plenamente.
Infelizmente as pessoas que estão no poder ainda não se deram conta que com a educação de qualidade atingindo todas as crianças e jovens de nosso pais resolveríamos em alguns anos tantos problemas de ordem nacional, que hoje muito nos afeta.
É estranho pensar que, como arquitetos, temos grande responsabilidade com a sociedade; porém na pratica nossa profissão esta distorcida em meia dúzia de funções as vezes ate medíocres.
Espero ter me expressado bem.
Finalizando, expresso aqui minha culpa de cidadã e arquiteta que nada faz para promover o ensino em nosso pais

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