SER OU NÃO SER? EIS A QUESTÃO.

(Publicado em 03/04/2013)



Prezado Enio...

Perdoe-me pelo texto prolongado. Como não conseguir comunicar-me com você e-mail,gostaria de solicitar sua opinião sobre algo que prezo muito em minha vida, e acredito ser uma constância na vida de muitos, se não a maioria dos jovens iniciantes em suas carreiras profissionais neste mundo cheio de oportunidades e rotas diferentes: "A decisão em seguir uma habilidade ou um dom."

Tenho 25 anos e sou formado como técnico em Eletromecânica, curso que abriu boas portas para meu primeiro emprego e especialmente o atual. Embora nunca fui fã da área mecânica, a curiosidade pelo funcionamento dos equipamentos e raciocínio lógico somado á necessidade desse profissional em meu estado (Bahia-Salvador), cursei e terminei. Tenho facilidade com Cálculos e sou muito curioso no que se refere a entender como as coisas funcionam e qual o propósito delas em nosso dia a dia. Tive a oportunidade de trabalhar num serviço voluntário por 2 anos entre os estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo (entre meus 19 e 20 anos de idade), coordenando projetos de serviços sociais e projetos de reestruturação familiar. Isso me fez aprender a ouvir, conversar, entender e trabalhar com diversos tipos de pessoas. Com o convívio de grandes empreendedores, aprendi na prática bons princípios de liderança, quando recebi responsabilidades de coordenar equipes e atingir metas específicas. Atualmente Curso Engenharia Elétrica com Ênfase em Telecomunicações no 5º Semestre. Meu desafio é que não vejo meu futuro como Engenheiro envolvido com meu dom, e sim sustentado por “algumas boas habilidades” nesta área. Convivo com muitas pessoas em diferentes situações profissionais: Pessoas que nunca se descobriram, então seguiram a rota (Curso superior) que parecia mais rentável , outras conheceram seus dons, porém sem coragem, decidiram seguir uma outra área que demonstrara ser mais promissora financeiramente, justificando tal escolha pelo fato de ter “algumas boas habilidades” para a referida área.
O fato é que estou confuso. Tenho reconhecido com o tempo algumas habilidades que possuo, e a pouco entendi realmente qual meu maior dom. Entendo como dom, aquilo que tenho de mais forte, literalmente o que mais desejo fazer, trabalhar, estudar, me aprofundar e compartilhar com o próximo. Habilidade, a meu ver, é algo que aprendemos ou temos a facilidade de tratar, como por exemplo: Calcular, operar determinados equipamentos, desenhar ou fazer qualquer outra coisa que embora você ache interessante e saiba fazer com razoável prestígio, não é seu maior desejo. Em meu caso, eu amo a Educação, administrar recursos e pessoas. Amo o ramo educacional, especialmente a análise dos desafios de aprendizagem tanto em crianças quanto em adultos, bem como os princípios e técnicas de ensino e suas aplicações. Pretendo sinceramente me aprofundar nesse conhecimento. Gostaria que fosse como profissional na área ou como conhecimento relevante para minha vida e família, especialmente no apoio às muitas pessoas que convivem com dificuldades, desde identificarem seus talentos para decidir sua carreira, até a falta de habilidade em comunicar-se com seus filhos e cônjuge, fato que é a raiz de muuuuitos problemas em nossos dias.

Além do mais, entendo que nos próximos anos, devido à infeliz desestruturação que os alicerces familiares vem sofrendo e atingindo especialmente a maturidade da juventude, orientações educacionais em campo infantil e adulto, vocacionais e sociais, ganharão uma atenção e valorização ainda maior que nos dias de hoje. O fato é que o homem tem demonstrado se importar com tudo, menos com a educação de seus filhos e a manutenção de seus relacionamentos familiares. É óbvio que isso culminará em uma sociedade frágil espiritualmente, com pouca e as vezes quase nenhuma capacidade de lhe dar com desafios inesperados ou decisões de grande importância mas que precisam se tomadas. A importância desse tipo de profissional ao meu ver, é a ponte para a saída dessa prisão que as “tendências do mundo” tem conduzido cuidadosamente a mentalidade da juventude nesses últimos tempos.

Não sou adepto da ideia de “dinheiro é o mais importante”, mas o fato é que o campo para Engenharia hoje me permite ganhar melhor para sustentar minha família (eu minha esposa e nosso filhinho de 1 ano). Imagine que como técnico e universitário no 5º período de Engenharia, recebo quase igual ou a mesma coisa que a média salarial de um psicólogo, pediatra ou educador formado (4 a 5 anos de estudo) em meu estado (R$1.700 a 2.500)! Isso é um absurdo! Achei isso um insulto ao trabalho que esse profissional desenvolve. Gosto de Engenharia...Mas sinto que preciso e posso ser mais do que um “bom profissional”, posso ser um “ótimo!”. Mas para isso sinto que precisaria trabalhar com as coisas que tenho o dom de fazer, ao invés das quais possuo apenas a habilidade de realizar. Gostaria de entrar na faculdade e ao sentar na sala de aula, trocar o sentimento do “Saber que o assunto é importante” para “sentir que é importante”. Gostaria de assistir as aulas feliz, por estar aprendendo algo que fará desenvolver o que gosto de fazer, ao invés de focar no diploma que receberei daqui a alguns anos. O desafio é que sinto que preciso garantir primeiro um futuro mais firme financeiramente, (com a Engenharia) e então engrenar em meus maiores sonhos voltados ao ensino e administração. Meu medo é formar-me como Engenheiro eletricista e tornar-me um profissional frustrado por não decidir dedicar-me ao máximo à área. Sempre tive a ideia, e tenho até hoje, que preciso dar o melhor de min, estudar, pesquisar aprender e conviver com tudo sobre a profissão que iria seguir. Ela deveria correr em minhas veias, e meus lábios deveriam sorrir a cada vez que discutisse sobre algo envolvido com a área. Minha meta hoje ao terminar a faculdade é aperfeiçoar meu inglês por mais 1 ano, e concorrer a uma bolsa de estudos internacional (MBA em Administração de Empresas na Universidade Brighan Young – em Salt Lake City/Utah) do qual tenho boas chances de conseguir pelo serviço voluntário que realizei a 5 anos atrás. Essa bolsa-empréstimo cobre meus gastos familiares como alimentação, residência e material educacional por 2 anos. Gosto de Engenharia Elétrica. Na verdade, é a que mais me identifico entre todas elas. Mas amo mesmo trabalhar com pessoas e como elas juntas podem fazer grandes projetos e tarefas importantes. Ajudá-las a alcançarem metas justas e desenvolverem-se me fascina. Embora goste de tecnologia não sou fascinado por ela. Embora amo pesquisar e entender como as coisas funcionam, não me vejo anos e anos projetando sistemas de automação ou de telecomunicações de maneira repetitiva, só para atender aos lucros de uma empresa. Espero que me entenda. Acho que se tivesse recebido uma boa orientação vocacional ainda na juventude, com oportunidades de entrevistar e estagiar com profissionais dessas diversas áreas, talvez hoje eu teria mais certeza da rota a seguir. Só tem algo que daria mais satisfação do que construir pontes inovadoras ou sistemas industriais: É construir pontes e sistemas que desenvolvam a educação.

Perdoe-me pela extensão do texto. Ficarei sinceramente feliz em saber sua concepção sobre esse assunto.

Obrigado pelo tempo!

At.,

Thiago | Salvador-BA
(Nesta seção, o nome e a cidade são trocados sempre que solicitado pelo leitor)




RESPOSTA: Meu caro Thiago
No seu caso talvez seja interessante consultar um profissional mais capacitado (e habilitado) do que eu: um psicólogo vocacional seria uma sugestão interessante, portanto.

Percebi, pelo seu texto que você realmente está (você diz isso) confuso, com as possibilidades que o futuro lhe apresenta. Essa profusão de ambiguidades está deixando você incomodado, o que é normal na sua idade (25 anos)

O que eu posso dizer do seu caso é que a formação tecnológica (curso técnico, tecnológico, engenharia) não é incompatível com a atividade social ou com a área da educação. Existe um grande trabalho a ser feito nas empresas e na sociedade em geral que demanda por engenheiros com habilidades e conhecimentos de educação e humanidades.

Eu entendo que existem pessoas com o domínio do social em todas as áreas. E existem engenheiros trabalhando em muitas coisas que, num primeiro olhar, parece não ter nada a ver com Engenharia: hospitais, escolas, bancos, clubes...

Então, o conselho que eu posso lhe dar agora (além de procurar um psicólogo vocacional) é terminar o curso de Engenharia. Há um oceano de oportunidades no outro lado desse muro.





PADILHA, Ênio. 2013




"Ser ou não ser, eis a questão. Qual é mais nobre ação da alma; sofrer as pedras e flechas da sorte ultrajante, ou pegar em armas contra este oceano de angústias e dar-lhe fim?"
Tradução livre do autor para "to be or not to be, - that is the question: - whether it's nobler in the mind to suffer the slings and arrows of outrageous fortune, or to take armas against a sea of troubles and by opposing end them"

SHAKESPEARE, William. The complete works of. London: Wordsworth, 2007.







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