A CULPA NÃO É DA FIFA
(Publicado em 26/06/2013)
Quem me lê com frequência sabe da minha posição sobre a Copa do Mundo no Brasil: eu nunca fui contra!
Desde 2007, quando o Brasil foi escolhido, sempre insisti que a Copa do Mundo seria uma grande oportunidade para o paÃs se transformar.
Eu acreditava que os estádios não seriam construÃdos com dinheiro público. Acreditei que o governo faria investimentos em obras de mobilidade urbana. E acreditei que o governo fosse regular o investimento em turismo e telecomunicações.
Não retiro o que eu escrevi em diversos artigos. Mas reconheço que fui excessivamente otimista.
[IMG2;logo_fifa.jpg;E]Não mudei de idéia. continuo acreditando que realizar a Copa do Mundo no Brasil é uma grande ideia. Trata-se de um bom negócio, no sentido de que é um investimento que pode produzir muitos benefÃcios. A questão do Legado entra aÃ: melhorias permanentes no transporte público, construção de hospitais, treinamento de pessoas para a indústria do turismo, ampliação e qualificação da rede hoteleira, ampliação e melhorias significativas nos aeroportos, etc, etc, etc... (se você nunca viu a questão por este ângulo, sugiro ler o Relatório da Ernst & Young Brasil sustentável – Impactos Socioeconômicos da Copa do Mundo 2014 publicado na minha coluna no portal2014.org.br em 2010.)
Ou seja: contrafraseando Ronaldo Lispector eu diria que não se faz uma (boa) Copa do Mundo só com belos estádios!
Os estádios deveriam ser apenas a ponta do iceberg. E deveriam ser privados. Não com essa montanha de dinheiro público como estamos vendo.
Eu não sou contra a Copa do Mundo no Brasil. Sou contra a maneira como a coisa foi feita. Sou contra a maneira como essa grande oportunidade foi desperdiçada. Sou contra o fato de que um bom negócio (que exigia investimentos mas que acenava com uma boa contrapartida) acabou virando um saco sem fundo para o dinheiro público, sem nenhuma contrapartida no horizonte.
Portanto, repito: o problema não é a FIFA.
Obviamente, não tenho a FIFA em boa conta. Na minha modesta opinião, trata-se de uma organização corrupta que contamina de forma decisiva as suas afiliadas pelo mundo inteiro (inclua-se aÃ, evidentemente, a nossa CBF).
Mas, neste caso temos que observar o seguinte: a Copa do Mundo é um "produto FIFA". E a Fifa vende este produto para quem se apresentar como cliente interessado.
Como o dono de qualquer franquia, a Fifa faz exigências para manter a qualidade (ou os canais de desvio de recursos) que deseja para o seu produto. Isso é normal. Cabe aos potenciais clientes aceitarem ou não essas exigências.
Como o presidente da Fifa tem dito reiteradas vezes nesses dias, "o Brasil pediu a Copa do Mundo". A Fifa não pediu nem insistiu para que o Brasil aceitasse sediar a Copa do Mundo. Pelo Contrário: foi o governo do Brasil que pediu e aceitou todas as exigências feitas pelo detentor dos direitos sobre o evento. Ponto final. Agora querem que a FIFA dê um jeitinho e aceite menos do que foi prometido.
A FIFA tem seus pecados. Mas não é a culpada pelo fato de a Copa do Mundo no Brasil não ser um bom negócio para os brasileiros.
A culpa é do nosso governo, que olhou para a Copa do Mundo não como uma grande oportunidade de transformar o paÃs e sim como uma grande oportunidade de se capitalizar politicamente, de acomodar aliados e financiadores de campanha e, o que é mais grave: como uma grande oportunidade de desviar milhões de reais.
PADILHA, Ênio. 2013
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