NÃO SOU UM IDEALISTA!
(Publicado em 16/07/2007)
"Quanto mais consciência você tem do valor das palavras, mais fica exigente no emprego delas." (Carlos Drummond de Andrade)
"Eu já defendi, no passado, a estatização do sistema financeiro e dos transportes coletivos, por exemplo. Mas, quando você começa a governar, vê que essas coisas não funcionam na prática." (Ex-Ministro da Fazenda, Antônio Palocci)
Recebi um e-mail de um colega de Minas Gerais com comentários generosos sobre os meus livros e artigos. No último parágrafo ele pede que eu continue com este trabalho de idealista em favor da Engenharia, da Arquitetura e da Agronomia.
Respondi agradecendo a gentileza e os elogios. Mas fiz uma ressalva: "entendi perfeitamente a sua intenção, não estou aqui fazendo qualquer censura. Faço esta correção apenas pelo natural (em escritores, principalmente) apreço pelas palavras e seus significados: Eu não sou um idealista !"
Evidentemente eu não me ofendo se alguém me chama de idealista pois avalio a intenção da pessoa, que, nesse caso, geralmente, é das melhores.
Mas, não, eu não sou um idealista ! Na verdade, nem considero "ser idealista" uma virtude. Afinal, o idealista é uma pessoa que "tem propensão a idealizar a realidade ou a deixar-se guiar mais por ideais do que por considerações práticas. Busca soluções perfeitas, a despeito de uma possÃvel ausência de exeqüibilidade integral".
Isso não é bom, na minha opinião.
Gosto de propor soluções que podem, efetivamente, acontecer integralmente. Que podem ser realizadas. Gosto do possÃvel. Sou um sujeito pragmático.
Antes de escrever sobre um determinado problema, faço a mim mesmo três perguntas que eu considero importantes:
Primeira: tenho suficiente informação sobre o tema?
Quando alguém fala ou escreve sobre um assunto desconhecido corre o grande risco de falar bobagens. É preciso ter um mÃnimo de base real para aquilo que se quer dizer. Não custa nada pesquisar um pouco antes de abordar o assunto.
Por falar em abordagem, a segunda pergunta é: tenho condições de fazer uma abordagem original?
Se você conhece o assunto, certamente já sabe o que os outros estão dizendo e sob quais pontos de vista o assunto tem sido analisado. Quais os pontos de referência freqüentemente utilizados. Não se pode "chover no molhado". Dizer o que já foi dito.
Se a abordagem não for original, já se percorreu metade do caminho para que o texto seja inútil.
Finalmente, a terceira pergunta: se o resultado é uma proposição... essa proposição é exeqüÃvel?
Esta é a pergunta mais importante. Não adianta terminar um artigo dizendo: "vamos à Casa Branca exigir que Bush desista da guerra contra o Iraque" ou "é preciso impedir que a Rede Globo apresente cenas eróticas na novela das 8".
Por melhores que sejam as intenções, não passam disso: intenções.
Há algum tempo escrevi um artigo chamado "É só uma idéia..." com uma sugestão para agregar valorização profissional para os colegas agrônomos, arquitetos e engenheiros. Se você se der ao trabalho de ler esse artigo verá que não há ali nenhum idealismo. É pura possibilidade real e imediata. Uma ação com um custo muito baixo e um reduzidÃssimo potencial de rejeição. Enfim. uma idéia perfeitamente exeqüÃvel e que poderia nos trazer excelentes resultados em curto prazo.
Até hoje não obtive uma única resposta. E nós continuamos na mesma, evidentemente.
Enquanto isto, vamos aos Fóruns Mundiais, marchar e fazer discursos pela paz mundial.
PADILHA, Ênio. 2007
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