SOB PRESSÃO

(Publicado em 09/05/1993)





Imagem: Pedro Águas



Se você faz parte do grupo de pessoas que costuma dizer “Eu não gosto que me pressionem. Eu não trabalho sob pressão!”, eu tenho duas notícias para você: uma boa e outra ruim.

A boa notícia é que você não está sozinho. Pelo contrário, está em numerosíssima companhia: noventa e cinco por cento das pessoas são como você. Não gostam de serem pressionados. Perdem rendimento quando são submetidos a pressão acima da normal.

A má notícia é que você está no time errado. Os outros cinco por cento é que são os VENCEDORES, os LÍDERES, os que conseguem fazer as coisas enquanto vocês (os 95%) estão batendo no peito, cheios de si, e dizendo: “Eu não trabalho sob pressão”.

É isso mesmo, amigo. É sob pressão que os melhores se destacam das pessoas comuns. Enquanto as condições de trabalho são normais, o rendimento excepcional não aparece. Quando a coisa aperta (quando “o bicho pega”) é que as diferenças começam a aparecer.

Fazer um gol da marca do pênalti, com o goleiro batido, sem zagueiros por perto e com o estádio vazio... é fácil. Qualquer cabeça-de-bagre faz. Agora, numa final de campeonato, com estádio lotado, um goleiro alerta, três ou quatro zagueiros chegando junto...

Você já viu um piloto de fórmula 1 dar uma entrevista e dizer que não gosta de ser pressionado, ou que perde rendimento sob pressão?

Já parou para pensar na pressão sobre um atleta no dia de uma final de olimpíada (estádio cheio, televisão para o mundo inteiro, família vendo tudo, amigos, namorada, patrocinadores, oportunidades... isto sem falar nos adversários).

E que tal a pressão sobre um ator de teatro no dia de uma estréia nacional? A pressão sobre um empresário, no dia de fechar um negócio importante? A pressão sobre um astronauta no dia da partida para uma missão espacial? A pressão sobre um médico fazendo um transplante de coração (mais ainda, se o paciente for uma pessoa famosa ou importante)? E a extrema pressão a que está submetido um policial numa operação de resgate em um sequestro?

As pressões a que uma pessoa pode ser submetida (pressão do tempo se esgotando, pressão da responsabilidade, pressão da ansiedade, da angústia ou da raiva) provocam, na maioria das pessoas uma perda do equilíbrio emocional que tem como consequência imediata a perda do rendimento e do desempenho.

Mas na maioria dos casos, essa perda do rendimento não tem razões físicas. É apenas uma resposta psicológica que começa pela própria pessoa acreditar que “se houver pressão, de qualquer natureza, eu não vou funcionar direito”.

E, para quem pensa que “nasceu assim, cresceu assim e vai ser sempre assim”, outra boa notícia: você pode, sim, aprender a suportar pressões e vencer desafios importantes. Mas, primeiro, você precisa QUERER. Segundo, você precisa aprender a identificar pequenas oportunidades de treinar essa qualidade, enfrentando com coragem as pequenas, porém históricas, fontes de pressão no seu dia-a-dia, como, por exemplo, falar em público, expor suas opiniões, assumir responsabilidades, ser criativo, terminar um trabalho no tempo determinado.

Você precisa perder o medo de errar e desenvolver a disposição para acertar. Isto não é fácil, mas não é impossível.

Procure ajuda profissional, leia livros, faça cursos, faça qualquer coisa, mas não desperdice sua vida acreditando que você não resiste a pressões. Que você não funciona sob pressão. Que você nasceu para ser um perdedor.

Isto não é verdade ! (e você sabe disso.)





PADILHA, Ênio. 1993



Comentário #1 — 23/09/2007 20:52

Sandro Alencar Fernandes — Analista de Sistemas — Rio do Sul

Ênio, primeiramente parabéns pelo texto. Muito bom. A Keidi, postou em nosso blog e transcrevo aqui meu comentário sobre o Tema.

O texto e a opinião dele está correto, as vezes queremos achar desculpas, para nós e para os outros da forma que reagimos as atividades que samos pressionados. Porém não há o que negar, o que fujir, a quem culpar ou se esconder. Precisamos tentar, errar, aprender como o erro e evoluir.

E na hora que o “bicho pega” se não conseguimos agir de maneira adequada, achamos mais fácil dizer que isso não é pra nós, que não somos obrigados a passar por isso, que aquilo e aquilo outro. Porém se sempre tomamos essa atitudo não somos diferente dos demais e não conseguimos ser vitoriosos, passamos a ser mais um na multidão. Porém o que precisamos é ser a pessoal que decide, que resolve que toma iniciativa e puxa a responsabilidade e que os outros podem confiar e se orgulhar.
Essas pessoas que fazem a diferença e serão vitoriosas, na vida pessoal, no trabalho em tudo.

Comentário #2 — 23/09/2007 22:38

Lino Alves de Almeida — Engº de Operação Edificações — Juzeiro do Norte

Discordo plenamente do amigo, pois a pressão até certo tempo pode funcionar, porém se um prfeito chega e diz que quer um projeto pra ontem, como é de costume, por falta de planejamento deles, não dá pra entregar um serviço de qualidade.
Agora se você deiz uma data x, daí eu concordo.

RÉPLICA DE ÊNIO PADILHA

Amigo Lino.
Você não discorda plenamente do meu texto. Apenas parcialmente.
Porque, se um prefeito quer um projeto "pra ontem" (traduzindo: para um prazo fora de propósito), não existe uma pressão e sim um absurdo! Cabe ao profissional dizer isso ao cliente ("olha, meu senhor, o prazo que o senhor me pede é absurdo. Não há como cumprir.).
Porém, o que ocorre, muitas vezes, é de o profissional recusar (refugar) um trabalho, por considerar o prazo absurdo. Mas outro profissional vem e faz o trabalho, com qualidade, no prazo solicitado...
Ou seja: o primeiro profissional apenas fugiu da pressão e perdeu espaço para outro que não tremeu e encarou o desafio

Comentário #3 — 24/09/2007 11:58

jane — coordenadora projeto social — ceará

muito bom o texto e tb as réplicas .

Comentário #4 — 29/09/2007 10:30

Maristela Macedo Poleza — arquiteta — rio do sul

Em alguns trabalhos encaro a pressão contra o tempo, ou a favor de uma idéia, como um grande cão dobermann me perseguindo e vibro quando passo-lhe uma rasteira...

...mas esta situação de prefeito exigir projeto em 24 horas para não perder recurso, acho um absurdo e não considero uma questão de maior ou menor competência profissional.

Vejo sim como a caracterização da falta de planejamento administrativo.

Como arquiteta, penso que a elaboração de um bom projeto está atrelado a busca de dados, envolvimento,maturação de idéias e principalmente fechamento das informações, impossíveis para prazos tão curtos.

E olha que já presenciei muitos colegas assim procedendo nos 22 anos de serviços com prefeituras !!!


Comentário #5 — 01/11/2007 13:17

Patricia Zatt Cadamuro — engenheira civil — Toledo Pr

Olha gente, creio que vocês todos estão minimizando o artigo do colega Enio, ressaltando apenas a pressão como o TEMPO, mas acredito que a pressão maior que sofremos é aquela que não nos deixa ficar parados, sem nos atualizarmos, sem crescermos como pessoas, acredito que essa PRESSÃO da qual fala o colega, vem junto com todo o desenvolvimento do nosso EU, para nos tornarmos pessoas melhores, profissionais melhores,...enfim.
Obrigada colega Enio, o seu artigo me propiciou o empurrão que tanto precisava.
Um forte abraço a todos!
Engenheira Patrícia

Comentário #6 — 16/04/2014 11:02

Gislaine — assistente administrativo — goiás

Olá, adorei seu texto, pois venho percebendo e até as pessoas comentam comigo que sou exatamente o tipo de pessoa que só funciona sob pressão, e pior, gosto de aprender fazendo e a pressão em cima de mim, faço rápido e aprendo rápido só assim. Mas tenho um problema, sem pressão eu não pego, eu me acomodo e fico... dirigir eu aprendi na pressão, meu esposo gritava comigo e eu aprendi de primeira, ele do meu lado falava: vai, vira direita, passa a primeira, da ré, e por incrível que pareça, de primeira aprendi. Se fosse na calma eu não teria conseguido.

Comentário #7 — 22/03/2017 18:57

Daniele — Autônoma — São Paulo

Gostei do ponto de vista e ate concordo, mas me pergunto até que ponto essa pressão é saudável...
Sempre trabalhei muito bem sob pressão- e na verdade isso me era um estímulo... Prestando serviço a uma mesma empresa durante 10 anos e sendo cada vez mais exigida eu me via assim: uma pessoa que se destacava e por isso era "mais cobrada que outros". Porém comecei a perceber abusos do tipo "se não entregar tal pedido não recebe" (sendo que durante um período de 30 dias, por exemplo, havia entregue de 7 a 10 pedidos), "vire a noite", "arrume mais gente pra fazer, se vira"... entre outras coisas que hoje vejo como absurdas.
Minha dúvida hoje é:
Tem uma fórmula para detectar e barrar excessos ou o problema fui eu?
É saudável para ambas as partes a tal da pressão ou em alguns casos só vale para um dos lados?

RÉPLICA DE ÊNIO PADILHA

Tem sim, Daniele. Tem um negócio chamado "bom senso".
Veja o comentário #2.

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