NEGACIONISTAS NÃO SÃO BURROS

(Publicado em 27/07/2020)



Engana-se quem pensa que NEGACIONISTAS NÃO SÃO INTELIGENTES. Na verdade, tenho a impressão (não é um dado científico, portanto) que a maioria dos negacionistas (especialmente os formuladores, aqueles que desenvolvem as teorias e constroem os argumentos) são pessoas mais inteligentes do que a média dos que os cercam. E esse é o problema.





O ser humano é fascinante e, como disse Mário de Andrade, "nada me escandaliza".

Existe gente pra tudo! Tem quem goste de arriscar a própria vida em atividades "radicais" como caminhar no parapeito de grandes edifícios ou andar de bicicleta à beira de precipícios; Tem gente que gosta de trocar socos, pontapés, pauladas e pedradas na rua (veja o caso de boa parte das torcidas organizadas do futebol); e tem gente que gosta de ser advogado do diabo. Não pode ver uma causa qualquer que caia no gosto do senso comum que logo encontra uma maneira de dizer "eu discordo". Esse é o grande prazer dessas pessoas.

Muitos são apenas bobalhões que compram brigas de outros porque acreditam em qualquer tolice que lhes permita exercitar a prática de ser "do contra". Mas as pessoas que criam as teses negacionistas ou que desenvolvem os argumentos que são seguidos pelos outros... esses geralmente possuem uma capacidade intelectual acima da média.

Em algum momento da vida (na escola ou no trabalho) viram-se capazes de entender certas coisas com mais facilidade do que os outros e tornaram-se capazes de encontrar soluções para problemas para os quais os outros não encontravam respostas. Esses momentos fizeram com que eles se tornassem autoconfiantes.

Em algumas pessoas essa autoconfiança pode vir acompanhada de uma grande vontade de saber mais e um senso de humildade para reconhecer a inteligência de outras pessoas. Noutras, porém, essa autoconfiança vem acompanhada de muito orgulho, uma boa dose de vaidade e um certo incômodo com a presença de outras pessoas igualmente inteligentes no grupo. Essas pessoas (futuros negacionistas formuladores) procuram então se isolar e evitar a companhia de pessoas com argumentos mais vivos e explicações mais complexas.

Ao mesmo tempo, como estão cercados de pessoas menos inteligentes do que eles, são procurados para oferecer explicações para qualquer coisa que esteja acontecendo. E, como não têm humildade para recorrer a quem sabe mais do que eles e a vaidade e o orgulho os impedem de responder simplesmente que não sabem... desenvolvem suas próprias explicações.

Como eles são (essa é a minha tese) mais inteligentes do que a média das pessoas acabam desenvolvendo uma resposta que (ainda que completamente errada) faz sentido. E nunca vai lhes faltar quem lhes dê eco.

Nada me escandaliza, digo eu, como disse Mário de Andrade, aliás, justamente no contexto de se opor a Carlos Drummond de Andrade, que o escreveu (em carta de 1924) “Sabe de uma coisa? Acho o Brasil infecto. Perdoe o desabafo, que a você, inteligência clara, não causará escândalo. O Brasil não tem literatura; não tem arte; tem apenas uns políticos muito vagabundos e razoavelmente imbecis ou velhacos”. Ao que Mário respondeu "(...) Não sou inteligência clara, mas não me escandalizei. Nada me escandaliza porque verifico. Sou curioso e tudo para mim é objeto de observação. Não me escandalizei, mas achei lastimável. Tudo isso são caraminholas metidas na cabeça de você pelas letras do senhor France Et caterva."

Mas, no caso deles dois, a briga era de cachorros grandes. MUITO GRANDES.





PADILHA, Ênio. 2020






Leia também: UM PAÍS CHAMADO NEGACIONISTÃO (texto que fala desse país, imaginário, com 60 milhões de habitantes, em que a população, entre outras coisas, não acredita na ciência.)





A correspondência entre Mário de Andrade e Carlos Drummond de Andrade, citada neste artigo está no trabalho Maria do Carmo de Oliveira Moreira dos Santos: CARLOS E MÁRIO: análise das correspondências sob a perspectiva do público e do privado. Tese de Doutorado apresentada ao Programa de PósGraduação em Letras da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, como parte dos requisitos para obtenção do grau de doutor em Literaturas de Língua Portuguesa. 2015




O negacionismo nasceu na segunda metade da década de 1940, quando alguns tentaram provar que a Alemanha não era culpada pela Segunda Guerra Mundial (buscando a defesa e reabilitação de Adolf Hitler). Faziam isso banalizando, justificando ou negando a existência dos campos de extermínio e do holocausto.
Muitos negacionistas históricos se autodenominam “revisionistas históricos”. No entanto eles não fazem revisão de coisa alguma, uma vez que não apresentam novas evidências ou novas questões. Estão apenas preocupados em negar as evidências, sem apresentar algum fato que o permita fazê-lo.






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