O CASO DO BALANCINHO
(Carlos Alberto Padilha)

(Publicado em 15/07/2022)



Mais uma pras minhas Notas Autobiográficas

Escrito há 20 anos pelo meu irmão mais velho, Carlos Alberto, que teve um sensacional surto de escritor e, durante vários meses, escreveu crônicas com as suas memórias que me enviava por e-mail.

(Desta história eu não lembro. Minha memória mais antiga de infância é do ano de 1964 - um gato saltando do forno a lenha pra cima de mim e eu na maior gritaria... na verdade, pelo que eu soube mais tarde, o gato apenas saiu do forno e foi cuidar das coisas dele. Nem tava aí pra minha existência. Mas o meu susto foi marcante!)

Enfim... divirtam-se! (e deixem seus comentários, no final)





Imagem: EnioPadilha



Salve tio Ênio.           

Relembrando o caso do balancinho.

Quando fomos morar no bairro Canta Galo em janeiro de 1962, nossos pais alugaram uma casa, digamos assim, um pouco antiga.

Não tinha pintura nem janelas com vidraças e, era pequena. Foi o que puderam arrumar. Apesar de pequena, a casa tinha um sótão.

Nele, aliás, até espaçoso,  brincávamos nos dias de chuva.

Para incrementar um pouco mais as brincadeira no sótão, nossa mãe instalou  nele um balancinho.  Um pedaço de corda, fixado no esteio da casa  e uma tábua com farquejo*  em forma de carretel e,  estava pronto o balanço.

Era provavelmente o ano de 1963 em uma noite que fazia muito calor. Nosso pai que também era músico, saía todas as noites para tocar em casas de diversões.  Em casa nossa mãe aproveitava parte da noite para ultimar afazeres do dia-a-dia.

Naquela noite, lembro que após ter colocado meus irmão menores para dormir,  foi passar  roupas com seu ferro à brasas e eu lhe fazia companhia. Sempre fui muito tagarela, e é  claro, sentado perto da mesa onde ela  passava  roupas, no caso, a luz de uma lamparina, (não tínhamos luz elétrica) tagarelava quase que sem parar a comentar isso e aquilo.

De súbito minha mãe me pediu silêncio e, num gesto como de espreita  dona Mathilde ergueu a cabeça concentrando-se para ouvir melhor algo que por certo lhe parecia estranho. E era!

É que o  balancinho do sótão, quando alguém estivesse se balançando, emitia um ruído  rangido, (ranger)  e era o que minha mãe e também eu estávamos ouvindo. Dona Mathilde pensou nos outros pequenos que tinha colocado para dormir. Mas... "Será que passaram por aqui sem que eu visse?" A verdade, é que alguém estava se balançando no sótão.

Minha mãe deu de mão na lamparina e dirigiu-se para escada de acesso ao sótão, subindo-a de forma compassada. Eu, a convite dela, a acompanhava agarrando-lhe às pernas.  Dona Mathilde, quando poder ver o balanço que rangia sem parar, disse algo como "Jesus amado" e benzeu-se como fazem os católicos,  descendo as escadas rapidamente. Imediatamente começou a rezar e me pediu que acompanhasse.

O som que vinha do sótão parou, e naquela noite lembro que custei a dormir impressionado com o fato. Confesso, que não cheguei a ver o balanço, porém,  ainda hoje não ouso  duvidar de minha mãe, que afirma ter visto o balancinho balançar sozinho como se estivesse ocupado.

Contudo, o mais desagradável, foi que no dia seguinte dona Mathilde retirou do sótão o nosso balanço, diminuindo nossas opções de lazer naquela saudosa água-furtada.

Esta é a estória do balancinho do sótão.

Um abraço tio Ênio.


*FARQUEJO: Embora não se encontre a palavra na língua portuguesa, diz-se na região serrana do nosso Estado, na forma derivativa do "verbo chulo"  farquejar, - fazer com o uso de facão,  pequenos acertos em madeiras, tábuas, ou estacas.  Obs: Pequeno pedaço de tábua retangular  em forma de carretel, é uma tábua com os lados menores do retângulo em forma côncava de maneira a encaixar a corda, ou linhas, etc





CARLOS ALBERTO PADILHA, JUL/2002




*FARQUEJO: Embora não se encontre a palavra na língua portuguesa, diz-se na região serrana do nosso Estado, na forma derivativa do "verbo chulo" farquejar, - fazer com o uso de facão, pequenos acertos em madeiras, tábuas, ou estacas.  Obs: Pequeno pedaço de tábua retangular em forma de carretel, é uma tábua com os lados menores do retângulo em forma côncava de maneira a encaixar a corda, ou linhas, etc





Leia também: COPAS DO MUNDO
Primeiro artigo da série, com as memórias das copas do mundo, até 2002



O VELHO REX
(...) todo cachorro quando está comendo ainda que seja velho e louco, não admite interferência. O cão me advertiu rosnando seriamente...



NOSSA PRIMEIRA COMUNHÃO
(...) compromisso é compromisso e o ensaio geral era muito importante. De modo que não havia jeito,  teria que ir assim mesmo. Até a Igreja foi tudo bem, afinal "moleques"  na rua andam de qualquer maneira. Mas na Igreja não!


DEIXE AQUI O SEU COMENTÁRIO

(todos os campos abaixo são obrigatórios

Nome:
E-mail:
Profissão:
Cidade-UF:
Comentário:
Chave: -- Digite o número 8070 na caixa ao lado.

www.eniopadilha.com.br - website do engenheiro e professor Ênio Padilha - versão 7.00 [2020]

powered by OitoNoveTrês Produções

28/04/2024 11:36:13     6211747

49