O CAFEZINHO DO PAI
(Carlos Alberto Padilha)

(Publicado em 22/07/2022)



Mais uma pras minhas Notas Autobiográficas

Escrito há 20 anos pelo meu irmão mais velho, Carlos Alberto, que teve um sensacional surto de escritor e, durante vários meses, escreveu crônicas com as suas memórias que me enviava por e-mail.

(Meu pai tomava muito café... tenho a lembrança dele fazendo a barba e tomando café... era a calma em pessoa. A imagem abaixo traz o olhar sereno do Seu Padilha.

A Nina, nossa irmã, personagem desta história, nos deixou neste 2022. Veja AQUI)


Enfim... divirtam-se! (e deixem seus comentários, no final)





Imagem: EnioPadilha



Olá caríssimo irmão.
 
Das tantas lembranças de nossa infância,  algumas têm, evidentemente, algo a mais, exatamente pelo modo e a importância que tiveram depois em nossas vidas. Hoje recordo contigo "o cafezinho do pai".
 
O café é uma bebida muito popular no Brasil. Trazida para terras brasileiras provavelmente no século XVIII por Francisco Melo, as primeiras semente vieram da Guiana Francesa. Originalmente é uma planta nativa da Etiópia. Foi muito cultivada pelos árabes, porém, por conter substâncias consideradas tóxicas, foi proibida pelo Corão, embora muitos Árabes islâmicos ainda bebam café.
 
A tradicional família brasileira não vive sem a companhia agradável de um cafezinho. Em nossa casa não era diferente. Além de fazer parte das refeições matinais, a gosto, misturado ao leite, durante o resto do dia era comum nossos pais tomarem um cafezinho vez ou outra.

Parece que estou vendo. Nosso pai sentado à janela da cozinha, reclamar ao filho que estivesse mais próximo um café. "Dá um cafezinho pô pai."
 
Por questões de economia, a sobra do café servido de manhã, era guardada para ser tomado depois aos pouquinhos. Falo de uma época que o uso de garrafas térmicas era coisa de gente bem de vida. Não era o nosso caso, embora isso não tornasse nossas vidas ruins.
              
Bem. Não havendo como conservar o café quente, o jeito era esquentar (requentar) cada vez que o quisesse. Assim, levava-se o bule com café ao fogo, esquentando-o com cuidado para que não fervesse.
 
Numa dessa ocasiões, o pedido feito pelo Seu Ênio, foi prontamente atendido por nossa irmã Nina, que não tinha mais que uns 7 ou 8 anos e ainda aprendia os afazeres da casa, portanto, não tinha muita prática.
               
A mana colocou o bule de café em cima do fogão à lenha, que trabalhava a todo vapor. Não demorou e o café estava quente. Quente e fervido. Um bom apreciador da bebida, (e nosso pai no caso o era)  diz que ela não pode ser fervida. Fervido ou não, nossa irmã sem conhecer dessas mazelas, serviu o café assim mesmo. O pai, ao dar o primeiro gole, percebeu logo que se tratava de café fervido, e de pronto indagou à filha.

"Ô minina. Esse café ferveu?  Ela, mais que prontamente, respondeu. "Ferveu pai, ferveu, ferveu sim!"  Nosso pai, que Deus o tenha, sempre compreensivo com os filhos, sorriu e simplesmente disse. "É, eu sabia !"
                 
A verdade é que o fato é lembrado até hoje, e quase todos os irmãos quando visitam a casa da irmã Enoina, pedem-lhe um cafezinho fervido, o que é sempre motivo para risos. 
 
Pois é ! É o cafezinho fervido do pai. 
 
Um abraço querido irmão e beijos para as tuas meninas.





CARLOS ALBERTO PADILHA, JUL/2002





Leia também: COPAS DO MUNDO
Primeiro artigo da série, com as memórias das copas do mundo, até 2002



O VELHO REX
(...) todo cachorro quando está comendo ainda que seja velho e louco, não admite interferência. O cão me advertiu rosnando seriamente...



NOSSA PRIMEIRA COMUNHÃO
(...) compromisso é compromisso e o ensaio geral era muito importante. De modo que não havia jeito,  teria que ir assim mesmo. Até a Igreja foi tudo bem, afinal "moleques"  na rua andam de qualquer maneira. Mas na Igreja não!



O CASO DO BALANCINHO
(...) De súbito minha mãe me pediu silêncio e, num gesto como de espreita  dona Mathilde ergueu a cabeça concentrando-se para ouvir melhor algo que por certo lhe parecia estranho. E era!



O CAFEZINHO DO PAI
(...) Não havendo como conservar o café quente, o jeito era esquentar (requentar) cada vez que o quisesse. Assim, levava-se o bule com café ao fogo, esquentando-o com cuidado para que não fervesse



O CAFEZINHO DO PAI (2)
(...) Todos sabemos que não se deve usar os próprios dedos como termômetro (muito menos para saber se um café está quente ou não). Mas será que o nosso irmão Edson sabia?


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