O NOME DO DIDI
(Carlos Alberto Padilha)

(Publicado em 16/02/2023)



Mais uma pras minhas Notas Autobiográficas

Até o dia em que eu entrei na escola primária (em março de 1966, já com 7 anos) eu realmente acreditava que o meu nome era Didi.

Aliás... não só eu. Meu irmão mais velho, Carlos também...





Imagem: gratispng.com



Olá tio Ênio. Saúde e paz.

Sinto-me extremamente feliz em relembrar contigo as coisas de nossa infância, contando-as para nossos filhos.

Hoje quero recordar da surpresa que tive em saber,  já aos oito anos de idade que te chamavas Ênio. Pois é...

Eu já havia completado o primeiro ano de escola, e naquele ano de 1966 ia, evidentemente, para o segundo. Meu irmão Didi, que é um ano mais novo, fazia sua estréia na escola Aníbal de Barba.

No início do ano, como era feito naquela época, Dona Mathilde tratou de matricular o Didi,  e no primeiro dia de aula me deu a incumbência de levá-lo à escola.

"Segura na mão dele.  Cuida bem na estrada. Fica perto do teu irmão..."  eram algumas das recomendações feitas a mim por  nossa mãe, preocupando-se com o  calouro em seu primeiro dia.

Levá-lo pela mão nem pensar. Já naquele tempo,  esse tipo de coisa era um "mico" de hoje. Ademais, o Didi, nem permitiria tal coisa. Quanto ao ficar perto?  Quem sabe um pouco!

Na verdade, na escola, cada qual foi logo para seu lado, afinal éramos todos bem conhecidos e amizades não nos faltavam.

O apelido de meu irmão, "Didi", era muito forte. Todos que o conheciam o chamavam assim. Logo, este era seu nome e pronto. Jamais pensei que se chamasse diferente. Tampouco eu imaginava que os nossos coleguinhas tinham conhecimento de um outro nome.

O Didi era o Didi.

Porém, passados alguns dias de aulas, e o prodigioso Didi  já começou a mostrar seus talentos.

No meu tempo de primário, aos sábados era dia de homenagem à Bandeira. Nesses dias, todos os alunos eram reunidos no pátio da escola para a feitura do cerimonial. Cantava-se inicialmente o Hino Nacional, o Hino da Bandeira,  e depois eram declamados alguns versos (poemas) que, naturalmente, faziam alusão ao ato de homenagem.

Era um desses sábados e lá estávamos alinhados para o preito, quando a professora responsável pelo comando do cerimonial, anunciou: "E agora, vamos ouvir o aluno Ênio Padilha Filho, declamar uma poesia em saudação à Bandeira."

O nome Padilha eu conhecia, afinal há um ano vinha me utilizando dele. Ênio? Ênio é o nome do meu pai! "Que negócio é esse ?!"  Filho?  Ah! Virou confusão!

Porém, entendesse eu ou não, saiu das fileiras o dito aluno dirigindo-se a uma espécie de palco, para a declamação dos versos. Era ele! Era o meu irmão! Era o Didi!

"Mas como?"  Isolado em meus pensamentos, não via a hora de tirar o fato "a limpo". Recordo, que me sentia como se fora traído. Por que não Didi Padilha, como eu sempre imaginara que fosse?

Me lembro bem, que cheguei a pensar que nossa mãe não soubesse disso. Na minha maneira de encarar o fato, tinha por certo que se a mãe soubesse, teria me dito. E o pai? Será que o pai sabe?

O Didi, no entanto, atendendo normalmente  pelo nome de meu pai, misturado com um pouco do meu (Padilha) e um Filho atrás para complementar, em alto e bom tom, declamou um lindo verso e foi por demais aplaudido, voltando ao seu lugar na formação.

Quando a cerimônia acabou, não tive dúvidas. Fui ter com ele imediatamente.

"Didi ! Como é teu nome?"
"É Ênio Padilha Filho. Disse-me ele imponente, ostentando o nome como se fora um troféu"
"Mas Ênio não é o nome do pai?"  Retruquei intrigado.
"É, mas é o meu também!"
"Desde quando?"
"Desde que eu entrei na escola."
"É, mas eu entrei na escola e não mudei de nome!"
"Mudou sim!", disse meu irmão Didi, agora Ênio. "Tu não eras "Calinho?  Agora não é Carlos Alberto?"
"É!" Concordei.

É, mas eu ainda teria de ouvir explicações de nossos pais. Naquele dia, recordo, que não me demorei em chegar em casa e contar a novidade.

Já em casa, depois de relatar o fato à nossa mãe, vieram às explicações a respeito.

E, no fim das contas, nada mudou. O "apelido" Didi era tão forte, que mesmo conhecendo seu verdadeiro nome, continuamos  chamando de  Didi, até quando nos tornamos adolescentes, cujas "frescurinhas" naturais para a fase, implicava em mudar a forma de tratamento.

Hoje, alguns anos separam o menino Didi do respeitado engenheiro, escritor e palestrante Ênio Padilha. Ainda como a um troféu, ostenta seu nome para o orgulho de nossa família e honra a memória de nosso pai que lhe emprestou o nome.

Quando nossa família está reunida, carinhosamente, ainda  o chamamos de Didi,  mas apenas em referência ao menino dos bons e belos anos 1960.

Ao querido Didi, um forte abraço.  Ao Ênio Padilha, votos de felicidades junto da esposa e filhas.  Que o segundo realize os sonhos do primeiro. E que ambos se fundam em harmonia nessas realizações, com a certeza do amor e do respeito de toda a família.

Para Gabi,  a quem também escrevo estas memórias, o beijo carinhoso de seu pai.





CARLOS ALBERTO PADILHA
13/SET/2002




PS. 1 - Eu lembro dessa história de outra maneira, como eu contei AQUI. Mas confesso que a versão do meu irmão é muito mais interessante. De qualquer forma, o fato é que nem ele nem eu sabíamos que o meu nome era Ênio, até o dia em que eu entrei na escola, em 1966.

PS. 2 - A imagem que ilustra esse post é da Escola Anibal de Barba, em 2017 (by Google Maps)





Leia também: COPAS DO MUNDO
Primeiro artigo da série, com as memórias das copas do mundo, até 2002



O VELHO REX
(...) todo cachorro quando está comendo ainda que seja velho e louco, não admite interferência. O cão me advertiu rosnando seriamente...



NOSSA PRIMEIRA COMUNHÃO
(...) compromisso é compromisso e o ensaio geral era muito importante. De modo que não havia jeito,  teria que ir assim mesmo. Até a Igreja foi tudo bem, afinal "moleques"  na rua andam de qualquer maneira. Mas na Igreja não!



O CASO DO BALANCINHO
(...) De súbito minha mãe me pediu silêncio e, num gesto como de espreita  dona Mathilde ergueu a cabeça concentrando-se para ouvir melhor algo que por certo lhe parecia estranho. E era!



O CAFEZINHO DO PAI
(...) Não havendo como conservar o café quente, o jeito era esquentar (requentar) cada vez que o quisesse. Assim, levava-se o bule com café ao fogo, esquentando-o com cuidado para que não fervesse



O CAFEZINHO DO PAI (2)
(...) Todos sabemos que não se deve usar os próprios dedos como termômetro (muito menos para saber se um café está quente ou não). Mas será que o nosso irmão Edson sabia?



O DIDI PESCADOR - DOMINGO É DIA DE PIQUENIQUE
(...) Sem muita demora, vi quando o Didi alçou o anzol da água, e preso nele um peixe desdobrava-se fisgado ao engodo. E logo em seguida, mais uns três ou quatro. Quanto a mim, continuava sapateiro



A VELHA CASA DA VOLTA DO UBA
(...) Era mal assombrada e pronto. A casa estava abandonada havia vários anos. Contavam os mais antigos, que sua última moradora,  uma senhora de idade, falecera ali desprezada pelos filhos e parentes. E iam mais longe: falavam que a velha  antes de morrer...



O CAMINHÃO DAS BALAS BELA VISTA
(O tal caminhão das Balas Bela Vista era, sim, um desafio pra quase todos os meninos corajosos. Eu não tava nesse time. Eu sempre fui muito cuidadoso com essas coisas de arriscar danos físicos. Não era do tipo que mergulhava de cabeça nos riachos nem andava de bicicleta a toda velocidade. Preferia a calma e a segurança.
Mas o meu irmão... esse era doido de pedra. Não podia ver um perigo que já queria correr...Deu sorte de não apanhar nesse dia.)



O POÇO
(Um dia, nossa mãe já cansada de subir as barrancas do Itajaí Açu carregando latas d'água, resolveu fazer um poço.
Associando-se aos nossos vizinhos alemães, saíram em busca de contratar um poceiro.  
O poceiro mais famoso do lugar, era um senhor conhecido como Pedro Mudo. Pedro Mudo, obviamente porque não falava, era mudo mesmo.)



OS TRENS DA VÓ
(Nossa avó tinha uns trens. E a gente estava doidinhos pra conhecê-los)



A FLORIANÓPOLIS DE 1969
(Nesta crônica Carlos conta como foi conhecer Florianópolis, aos 11 anos (ele) e 10 anos (eu) - A cidade tinha, certamente outra alma.)



O NOME DO DIDI
(Nesta crônica Carlos conta a surpresa que foi ficar sabendo que o nome do irmão mais novo era Ênio Padilha Filho e não Didi, como ele estava acostumado a chamar.)


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